Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
segunda-feira, 5 de março de 2012
HISTÓRIAS DO SEBASTIÃO NERY
O reizinho índio
Ninguém me contou. Eu vi. Estava lá, exatamente há 22 anos, no jogo de abertura da Copa de 90, em Turim, na Itália: Argentina x Camarões. A cabine de honra lotada de autoridades: os presidentes da Itália, do Brasil (Fernando Collor), de Camarões, da Fifa, o primeiro-ministro italiano, a prefeita de Turim, o cardeal arcebispo, ministros, senadores, deputados (e eu, convidado como Adido Cultural do Brasil).
Quando começou a tocar o hino da Argentina, o estádio inteiro, praticamente todo, urrou numa vaia uníssona, colossal e continua. Os jogadores argentinos ficaram perplexos, os olhos e o rosto tensos, as bocas duras mal conseguindo acompanhar a música.
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MARADONA
Do meio de seu time, pequeno, miúdo, baixinho, com sua cara de índio descido dos Andes, saiu Maradona, três passos à frente, olhou bem para a cabine de honra, girou a cabeça pelas arquibancadas, deu uma volta sobre o corpo, levantou o pescoço, cresceu, ficou enorme, fechou o punho direito, deu um salto, um murro no ar, e gritou duas vezes:
– “Hijos de puta! Hijos de puta!”
O estádio foi se calando, a vaia morrendo, acabou.
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COPA DE 90
Era um grito de guerra do reizinho índio, pequeno e valente como a sua gente. Acuado por 70 mil pessoas que vaiavam o hino de sua camisa, Maradona fez a única coisa que ali lhe restava. Chutou a palavra. Poucas vezes vi um homem tão pequeno ficar tão grande.
A Itália estava magoada com a Argentina, por derrotas em copas anteriores. A reação do estádio era inevitável, mas não se esperava tão brutal. Maradona não podia deixar de dar o troco. Afinal, ninguém fez tão feliz aquele povo alucinado por futebol quanto o reizinho índio de Nápoles.
Ele sabia disso e dizia.
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ARGENTINA
Na véspera do jogo da Argentina com a Itália, Maradona desafiava soberbo na TV:
“O jogo vai ser em Nápoles. Nápoles não gosta da Itália, a Itália não gosta de Nápoles. (Para ele, a Itália era de Nápoles para cima). Por que Nápoles iria torcer agora pela Itália? Vai torcer é por Maradona. Eu faço Nápoles feliz durante o ano inteiro. A Copa dura apenas um mês”.
Durante semanas, Maradona travou, pela TV, rádios e jornais, uma guerra verbal sem tréguas, proposital, para levantar a moral dos argentinos, humilhados diante da derrota para Camarões na primeira partida, na abertura em Turim. E conseguiu. A imprensa malhava os argentinos, Maradona reagia. Foi uma estratégia política competentíssima.
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ALEMANHA
Todo mundo sabia que Maradona estava em péssimas condições físicas. O técnico Bilardo confessava que outro, no lugar de Maradona, iria negar-se a entrar em campo. Ele jogou todas as partidas o tempo inteiro, dando tudo, desdobrando-se, marcado e pisado.
É uma personalidade surpreendente. Ao contrário da maioria, vivia elogiando os outros jogadores, de qualquer país, mas sabia, e dizia, e repetia, que depois de Pelé foi ele.
E a Argentina, arrastada por Maradona, chegou à final com a Alemanha arrastando-se. A Alemanha jogou melhor e ganhou a Copa. Mas o fato de a Alemanha ter jogado melhor não diminuiu a fúria de Maradona diante do roubo escancarado, deslavado, desavergonhado, do juiz mexicano Codesal, que já entrou em campo para dar a vitória à Alemanha.
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JUIZ
A Argentina, com um futebol inferior, desdobrou-se com garra e manteve o empate até o fim. A coisa já vinha de antes. É estranho que só a Argentina tenha tido 4 jogadores afastados da final por punições. E o mexicano ainda expulsou dois argentinos. Não contente, porque Maradona crescia em campo, marcou pênalti que toda a imprensa internacional, inclusive a alemã e a italiana, disse que não houve.
Como era demais tirar Maradona, tiraram antes Caniggia, o segundo melhor. Aquele choro fundo, amargo, soluçado, de Maradona, no tablado, depois da partida, não lavou a sujeira da partida mas deixou a Fifa mal.
Depois disso, na Fifa só pinta sujeira.
Sebastião Nery
04 de março de 2012
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