Com o argumento de que o Supremo Tribunal Federal negou o acesso de senadores ao inquérito que investiga o envolvimento de parlamentares com o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, o líder do PT, senador Walter Pinheiro (BA), iniciou ontem movimento para criar uma CPI sobre o assunto no Senado. Mas, como já há na Câmara um requerimento com assinaturas suficientes para iniciar investigação semelhante, crescem as chances de uma CPI mista.
A decisão do PT de apoiar a CPI do Cachoeira foi tomada em reunião do presidente do partido, Rui Falcão, com líderes e ministros petistas, semana passada. Partidos governistas e de oposição, que têm integrantes investigados por suposto envolvimento com a quadrilha do bicheiro e não se entusiasmam com a ideia de CPI, acusam os petistas de pretenderem, com essa investigação, pôr "todo mundo na vala comum da corrupção", justamente no ano de julgamento do mensalão, um processo em que o PT é o alvo principal.
- Pedimos à Procuradoria Geral da República acesso ao inquérito, e fomos informados que só uma CPI poderia ter acesso a essas informações. Então, vamos criar a CPI. O Conselho de Ética só vai apurar se houve quebra de decoro por parte de Demóstenes. E o resto? Precisamos investigar - disse Walter Pinheiro. Segundo relato de participantes da reunião do PT, até mesmo os ministros petistas presentes concordaram com a CPI Mista, após avaliar as vantagens e desvantagens da investigação sobre relações de Cachoeira com políticos de pelo menos seis partidos: PMDB, PT, PSDB, DEM, PP, PPS e DEM.
Renan disse que PMDB não tem tradição de assinar CPIs. O Palácio do Planalto não vê com bons olhos uma CPI, pois não sabe a extensão das denúncias e teme que ela acabe sendo um tiro no pé. Mas a presidente Dilma Rousseff não parece disposta a se expor para impedir a investigação. Para criar uma CPI mista são necessárias assinaturas de 171 deputados e de 27 senadores.
Se formo criada, a CPI investigará as relações do bicheiro com o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e mais cinco deputados. A avaliação no PT é que o partido não se incomodará se a investigação chegar ao governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT). Por ter sido do PCdoB, ele não é considerado petista histórico.
Pinheiro conversou com o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), e com a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti. Renan disse que o PMDB não tem tradição de assinar CPIs, mas pode liberar os senadores. - Comuniquei a Ideli e ela só me disse o seguinte: "Essa é uma decisão interna de vocês" - disse Pinheiro. - Se eu conheço bem a presidente Dilma, ela não vai fazer nada para barrar uma CPI. O Planalto vai assistir e respeitar - disse o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP).
O líder do DEM, ACM Neto (BA) foi na mesma linha de Tatto: - Garanto a assinatura de toda a bancada para essa CPI. O comando do PSDB está receoso, por enquanto. Deputados e senadores do partido devem adotar hoje uma posição conjunta. O líder da bancada tucana no Senado, Álvaro Dias (PR), disse que apoia a CPI e sugeriu que o escândalo vai respingar também no Planalto: - O escândalo Cachoeira não é de ontem, e não tem limites no estado de Goiás.
Essa cachoeira também afoga Brasília. Que pessoas estariam sendo protegidas no caso Cachoeira? Que se instale a CPI.
10 de abril de 2012
(O Globo)
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