"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 20 de abril de 2012

HISTÓRIAS DO JORNALISTAS SEBASTIÃO NERY


O LEITE DOS PORCOS 

José Américo de Almeida era governador da Paraíba (51 a 53), apareceu no palácio um diretor do Fisi, uma picaretagem dos Estados Unidos, anterior à Aliança para o Progresso de John Kennedy, que distribuía de graça leite ralo, excedente da produção e do consumo dos porcos dos pecuaristas norteamericanos. Comunicou ao governador que o leite estava no Ceará:

– Governador, mande buscar a parte da Paraíba lá em Fortaleza.

– Não, senhor. Gostaria que o senhor trouxesse o leite de lá e o entregasse aqui no Estado.

– Quer dizer que o governador não quer o leite?

E passou a mão na barriga de José Américo, que deu um passo para trás, largou uma bofetada no americano e o enxotou do palácio aos berros:

– Cretino. Está pensando o que? Passar a mão na minha barriga? Um governador de Estado não pode deixar passar a mão na sua barriga.
Três dias depois, o leite ralo do Fisi estava em João Pessoa.


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PARAIBANOS

João Arruda era industrial de tecidos em São Paulo e senador na Paraíba (de 55 a 63, pelo PSP, derrotando Chateaubriand, que tentava se reeleger).
No restaurante do Copacabana Palace, no Rio, encontrou três paraibanos: Abelardo Jurema, suplente do senador Rui Carneiro; Abílio Dantas, comerciante e tio de Jurema; e Adalberto Lins, corretor de imóveis.
Adalberto viu João Arruda, enxergou negócio:

– Jurema, o senador não é seu amigo? O velho aí não é seu tio? Um compra algodão para sua fábrica e o outro vende algodão? Então você vai vender o algodão de seu tio para a fábrica do senador.

Uma hora depois, o velho Abilio tinha vendido todo o seu estoque de algodão lá na Paraíba para a fábrica “Santana” de João Arruda em São Paulo


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JUREMA

O senador passou o guardanapo no rosto:

– Seu Abílio, conheço essa história de tio com sobrinho. Só fecho o negócio se você puxar agora o talão de cheque e der a comissão ao Jurema.
Seu Abílio assinou o cheque, 120 contos, uma fortuna. Saíram. Na rua, chamou Jurema:

– Meu sobrinho, me dê aquele cheque, que depois a gente acerta.

– Não, meu tio. Aqui no Rio, acerto de bar e restaurante é sagrado.
Jurema saiu atrás de Adalberto Lins:

– Tome logo sua parte.

– Mas eu não fiz nada, Jurema.

– Fez, sim. Você teve a idéia. Eu já aprendi a lição mais importante do Rio. Aqui, ninguém ganha acima de 50 contos sozinho.

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