"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 20 de abril de 2012

UM BAIXO NÍVEL DE STATUS SOCIAL É RUIM PARA A SAÚDE. ALGUNS BIÓLOGOS ESTÃO COMEÇANDO A ENTENDER O PORQUÊ


Era uma vez executivos super estressados berrando ordens ao telefone, cancelando reuniões, ficando no escritório até tarde e morrendo de ataque cardíaco: eis o antigo estereótipo da modernidade. Tal estereótipo se consolidara antes dos estudos de Whitehall, uma série de investigações sobre funcionários públicos ingleses iniciada na década de 60. Esses estudos descobriram que a verdade era exatamente o oposto. Problemas cardíacos – e, com efeito, morte prematura de qualquer tipo – são prerrogativa dos subalternos.
Esses resultados foram confirmados muitas vezes desde então, tanto em sociedades humanas como em outras espécies de primatas com fortes hierarquias sociais. Mas, ainda que o padrão seja bem entendido, os mecanismos biológicos subjacentes não o são. Um estudo recém-publicado no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences, contudo, joga alguma luz sobre a questão.

Nesse estudo, um grupo de pesquisadores coordenados por Jenny Tung e Yoav Gild da Universidade de Chicago observou os efeitos do status em macacos rhesus. Experimentos anteriores revelaram que estes macacos são o equivalente símio das descobertas do estudo de Whitehall.
O alto risco de doenças entre aqueles na base da pirâmide em ambos os casos sugere que as respostas bioquímicas ao status inferior afetam o sistema imunológico das criaturas. Essas respostas devem, por sua vez, depender de mudanças no modo de expressão dos genes dos seres. Investigar esse fenômeno significa manipular hierarquias sociais, mas isto seria complicado (e provavelmente antiético) se fosse aplicado a seres humanos. Pode-se, contudo, fazer isso com macacos, e foi o que os pesquisadores fizeram.

Mentes infelizes em corpos infelizes

Os Drs. Tung e Gilad selecionaram 49 macacas fêmeas de nível médio (as fêmeas foram escolhidas porque muitas pesquisas anteriores sobre hierarquia animal foram feitas com macacas) e as dividiu em grupos de quatro ou cinco. Os pesquisadores podiam monitorar em que nível se encontrava um indivíduo através da ordem de sua união ao grupo (macacos recém-integrados quase sempre adotam um papel de subordinação aos macacos mais veteranos). Estabelecidas então as hierarquias, o grupo conduziu testes em células do sangue dos macacos, numa tentativa de determinar o efeito da posição social de um macaco em sua bioquímica e, em particular, como a posição influencia a atividade de diferentes genes.

A resposta é: muito. Tung e Gilad observaram a expressão de 6.097 genes (30% do número total no genoma de um macaco – o mesmo, aliás, de um humano). Eles tentavam encontrar correlações entre o status social e atividade genética, e eles a detectaram em 987 genes. Alguns genes eram mais ativos em indivíduos de alta posição social, outros eram mais ativos naqueles de nível baixo. A relação era robusta o suficiente para que funcionasse também no outro sentido. Dada uma amostra de sangue e nenhuma outra informação, era possível predizer o status social de um indivíduo dentro do seu grupo com uma precisão de 80%.

A próxima questão era: o que fazem realmente esses genes? A resposta, para uma parte substancial dos genes, era que eles regulavam aspectos do sistema imunológico. Em particular, indivíduos de baixo status exibiram altos níveis de atividade em genes associados à produção de uma série de células imuno-relacionadas e fatores de sinalização química, assim como àqueles relacionados à inflamação (uma resposta imunológica comum que envolve inchaço de tecido e aumento da atividade de células do sistema imunológico da área afetada). Embora os pesquisadores não tenham explicitamente examinado a saúde de suas cobaias, a inflamação generalizada é um fator de risco, em pessoas, para uma longa lista de enfermidades, que vão de problemas cardíacos a mal de Alzheimer.

20 de abril de 2012

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