"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 23 de maio de 2012

VACCAREZZA COMPLICOU A VIDA DE SÉRGIO CABRAL

Torpedeado

É generalizado no Congresso o desconforto com o flagrante do torpedo enviado pelo deputado petista Cândido Vaccarezza ao governador do Rio, Sérgio Cabral, durante sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito mais famosa do País.

O PT trabalha para reduzir os danos, mas propaga-se em voz baixa na bancada a interpretação de que o deputado fragilizou o partido e deu aval a suspeitas sobre a função de seus representantes na comissão.

O PMDB considera que ele acabou levando Cabral para dentro da CPMI, abrindo espaço para a aprovação de eventual pedido de convocação apresentado pela oposição, como uma espécie de "prova" de conduta isenta a ser apresentada ao público.

Entre os demais parlamentares há divergências quanto à necessidade de afastamento, mas existe um ponto de convergência: a atitude foi ruim para o conjunto da comissão que, perante a sociedade, começa a assumir fortemente a feição de uma ação entre amigos e inimigos políticos sem compromisso com as investigações em si.

Já o deputado Cândido Vaccarezza não vê problema mais sério no episódio. Assegura que não pedirá para sair da CPMI, garante que o PT não o fará e aposta que seus pares de outros partidos também não.

Por uma razão simples: "Não tenho nada a esconder, nenhuma relação com a bandidagem e zero compromisso com proteções ou condenações por antecipação".

Tirando o "imperdoável" erro de português da já notória frase "você é nosso e nós somos teu", dirigida ao governador Cabral, Vaccarezza tem convicção de que não cometeu pecado algum.

Recusou orientação de assessores para alegar invasão de privacidade - "o profissional no caso estava no exercício justo de sua função jornalística" -, mas afirma que a mensagem foi exposta fora do contexto geral de uma conversa em que ele transmitia ao governador a avaliação de que nada teria a temer, pois não fora citado em nenhuma das gravações da Polícia Federal.

"Não há blindagem porque não há até agora nada que ligue Sérgio Cabral ou mesmo Fernando Cavendish à organização criminosa comandada por Carlos Cachoeira. Se aparecer, ninguém terá proteção de minha parte."

Diferentes, diz, são os casos dos governadores Marconi Perillo, de Goiás - "atolado até o pescoço" -, e Agnelo Queiroz, do Distrito Federal, cujo ex-chefe de gabinete aparece nas gravações. Mesmo esses dois casos são distintos entre si na visão de Vaccarezza.

"Querer tratar do assunto como uma ação de governadores dando o mesmo peso a situações diversas é que me parece a preparação de uma base para a massa da chamada pizza."

Portanto, mesmo estando na berlinda, o petista diz que entra hoje na primeira reunião da CPMI na semana tranquilo quanto a possíveis desdobramentos. "Já expliquei, ficou tudo esclarecido."

23 de maio de 2012
Dora Kramer
O Estado de São Paulo

Nenhum comentário:

Postar um comentário