"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 25 de junho de 2012

MALUF, HADDAD E CAMBURÃO

 

Era um domingo, junho de 78. Pânico na Assembléia Legislativa de São Paulo. A fumaça invadiu o salão nobre, onde estavam sendo contados os votos da dramática convenção da Arena, que decidia se o candidato a ser referendado governador seria Paulo Maluf ou Laudo Natel.

Cláudio Lembo, presidente do partido, Olavo Drummond, procurador do Tribunal Regional do Trabalho, os deputados Cunha Bueno e Nabi Chedid, fiscais de Paulo Maluf e Laudo Natel, e o delegado Ribeti agarraram as duas urnas e saíram apressados para a sede do TRE, no Parque Anhembi.

Ninguém confiava em ninguém. Todos queriam ir em um carro só, para vigiar as urnas e os votos. Cinco passageiros e as duas urnas, não havia carro que desse. Entraram numa radiopatrulha parada em frente, um grande camburão, e tocaram para a Rua Francisca Miquelina.

No Viaduto Maria Paula, fechou o sinal, a radiopatrulha parou e os cinco ali dentro, amontoados, de olho nas urnas. Passava um crioulo, viu aqueles bacanas de terno e gravata dentro do camburão, abriu os dentes numa risada feliz e vingativa:
- Aí, seus brancões, chegou o dia de vocês!

O camburão arrancou com os brancões e o sonho de Laudo Natel. Maluf ganhou a convenção e a Assembléia o nomeou governador.

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GALDINO E HADDAD

Na campanha eleitoral de 76, o deputado José Bonifácio, o turbulento Zezinho de Barbacena, foi a uma pequena cidade do interior de Minas fazer a convenção da Arena para escolha do candidato a prefeito. Chegou lá, reuniu os líderes:
- Quando é que vai ser a reunião? E onde vai ser?
- O Galdino é quem sabe, deputado.
- Quem é o melhor candidato?
- É o Galdino, deputado. Não há ninguém para disputar com ele.
- Então não precisa haver reunião, nem eleição, nem nada. É só fazer a ata da convenção e o problema está resolvido.
Galdino chegou, discordou:
- Nada disso. Tem que haver convenção, disputa, urna, escolha em votação secreta e apuração. Se não for assim, não aceito a candidatura.

Fez-se a convenção, como Galdino queria, com urna e voto secreto. Resultado: em 31 votos, Galdino teve três. Tiveram que escolher outro.
Haddad é o Galdino do PT.

Sebastião Nery
25 de junho de 2012

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