Os "brasiguaios" - agricultores brasileiros que vivem no Paraguai - comemoraram a deposição de Fernando Lugo, apoiam o novo governo, mas estão preocupados com a reação de Brasília, principalmente no caso de se confirmar a já cogitada suspensão do país vizinho do Mercosul. Ontem, cerca de 200 agricultores estiveram no consulado do Brasil em Ciudad del Este e entregaram um documento ao cônsul-geral, embaixador Flavio Bonzanini, manifestando apoio ao presidente Federico Franco. "Solicitamos que o governo do Brasil reconheça o novo governo paraguaio e restabeleça a fraterna relação que sempre existiu entre Brasil e Paraguai. Essa decisão é sumamente necessária para dar tranquilidade ao povo paraguaio e a esta grande comunidade brasileira", diz o documento, que Bonzanini se comprometeu a encaminhar hoje ao Itamaraty.
Marilene Sguarizi, que representa a comunidade brasileira no Paraguai, disse ao Valor que "é unânime o apoio dos imigrantes brasileiros ao novo governo". E que interlocutores de Bonzanini já entraram em contato para manifestar o desejo de Franco de se reunir com lideranças brasiguaias, o que deve ocorrer nesta semana. Lugo era tido pelos brasiguaios como alguém que levou instabilidade ao campo, incentivando ou fazendo vistas grossas à invasões e aumentando a instabilidade jurídica. Nos últimos meses, a tensão com grupos camponeses locais - conhecidos como "carpeiros" - se acirrou, com uma onda de invasões às terras de brasiguaios.
Produtores ouvidos pelo Valor dizem que a primeira reação da comunidade foi de "alívio" e "felicidade", com a notícia da queda do ex-presidente, e de "esperança" com relação ao novo governo. "O povo [brasiguaios] está um pouco aliviado. A tensão no campo era grande. Não se sabia o que iria acontecer", afirmou Jair Graeff, que planta 1.500 hectares de soja em Mbaracayu, a 65 km da fronteira com o Brasil. Graeff, que está no Paraguai desde 1987, é um dos muitos brasileiros - responsáveis por 70% da produção de soja do país - que tiveram o título de suas propriedades contestado nos últimos anos. Segundo ele, somente em Mbaracayu, 30 famílias passam pelo mesmo problema. A disputa, contra a empresa Benita S.A. - que se diz a verdadeira dona das terras - está na Suprema Corte paraguaia.
"Acho que uma suspensão do Paraguai do Mercosul seria um gol contra do Brasil. Há mais de 300 mil brasileiros produzindo no Paraguai, e eles seriam os maiores prejudicados", disse ele. "Grande parte da nossa produção é escoada pelo Brasil e pela Argentina. Os insumos, como fertilizantes e outras matérias-primas, também vêm de lá", disse Graeff, que espera um diálogo entre os dois governos. "Espero que a presidente Dilma Rousseff possa interagir com o governo paraguaio. Os dois têm que se sentar à mesa e ver qual é a melhor saída", disse Graeff. "Acredito que o novo governo consiga demonstrar para os países vizinhos que o que aconteceu foi para o bem do Paraguai."
Para Abel Simões Filho, filho de um brasiguaio e que trabalha como engenheiro agrônomo no Paraguai, a queda de Fernando Lugo foi uma boa notícia para o setor. "Se você perguntar, 99,9% dos brasiguaios eram contra o Lugo. Sempre houve disputa pelas terras, mas os governos anteriores sempre apoiava os imigrantes", disse. Para ele, a deposição do presidente trouxe aos produtores "uma sensação de felicidade, mas também de insegurança, pois ninguém sabe o que vai acontecer". "Estamos na expectativa de ver como o governo brasileiro vai se posicionar. E sobre como esse novo governo vai agir com relação aos brasiguaios", afirmou.
(Valor Econômico)
25 de junho de 2012
coroneLeaks
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