Publicado Sábado, 20 de Agosto de 2005 por Policarpo Junior da Revista VEJA.
(http://arquivoetc.blogspot.com.br/2005/08/o-que-sabe-o-doleiro-toninho-da.html)
Na semana passada, doze parlamentares da CPI dos Correios desembarcaram em São Paulo para ouvir o doleiro Antonio Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona. Durante quatro horas, o doleiro procurou atiçar o apetite da CPI para negociar uma delação premiada, instituto pelo qual um criminoso conta o que sabe em troca de uma redução de sua pena. Toninho da Barcelona cumpre 25 anos de prisão na penitenciária de Avaré, a 258 quilômetros de São Paulo. Aos parlamentares da CPI, ele contou que conhecia detalhes das operações financeiras do PT para o exterior, disse que sabia de remessas feitas pelo ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e indicou que o MTB Bank, casa bancária de Nova York, era o epicentro da lavagem de dinheiro. No depoimento, no qual chorou várias vezes, o doleiro disse ainda que a corretora Bônus Banval, de São Paulo, operava para o ex-ministro José Dirceu e era uma das fontes de pagamento do mensalão.No dia seguinte, Toninho da Barcelona concordou em dar uma entrevista a VEJA, por escrito. Ele recebeu uma lista com vinte perguntas da revista e levou duas horas para manuscrever as respostas, que ocupam treze folhas de ofício. Suas revelações ajudam a desvendar o tesouro milionário do PT no exterior e mostram que:
• O PT tinha conta clandestina no exterior, operada pelo Trade Link Bank, uma offshore vinculada ao Banco Rural. Quando o PT queria sacar recursos do Trade Link para usá-los no Brasil, o doleiro acionado era Dario Messer, do Rio de Janeiro.• Dario Messer recebia os dólares petistas em sua offshore no Panamá e entregava ao PT o correspondente em reais no Banco Rural, sediado em Belo Horizonte.
• Os cofres do PT viviam abarrotados de dólares. Em 2002, no auge da campanha presidencial, a casa de câmbio do doleiro, a Barcelona, chegou a fazer trocas de moeda em ritmo quase diário.• As trocas, em valores que oscilavam entre 30.000 e 50.000 dólares, eram realizadas no gabinete do então vereador Devanir Ribeiro, ex-metalúrgico e petista histórico.
• A Bônus-Banval, de São Paulo – aquela corretora que recebeu um pagamento de Marcos Valério para Bob Marques, amigão do ex-ministro José Dirceu –, realizava operações de "esquenta-esfria". Por essas operações, um lado sempre ganha (e esquenta dinheiro de caixa dois) e outro sempre perde (e esfria dinheiro de caixa um, produzindo assim recursos para destinos escusos).
• Nas operações de esquenta-esfria, os prejuízos eram sempre de fundos de pensão de estatais – cujos recursos, esfriados, eram liberados para entrar no caixa dois do PT. Um dos atendidos pelo esquema da Bônus-Banval, diz o doleiro, era José Dirceu.O publicitário Duda Mendonça, ao depor na CPI dos Correios, disse que o PT lhe pagou 10 milhões de reais no exterior e, com isso, foi a primeira testemunha a abrir uma nova fronteira de investigação – o braço do PT no exterior. No depoimento, o publicitário já exibira comprovantes mostrando que a maior parte dos 10 milhões de reais que recebeu saiu do Trade Link, offshore aberta nas Ilhas Cayman, um dos grandes paraísos fiscais do Caribe, administrada pelo Banco Rural.
A entrevista de Toninho da Barcelona, agora, confirma o papel de destaque conferido ao Trade Link no esquema petista no estrangeiro. A operação era feita assim: o Trade Link remetia o dinheiro petista para a offshore panamenha do doleiro carioca Dario Messer e o doleiro, por sua vez, disponibilizava a quantia correspondente, em reais, no Banco Rural. O esquema é uma forte evidência de que os 28 milhões de reais que Valério diz ter obtido na forma de dois empréstimos junto ao Banco Rural sejam simplesmente recursos internados pelo PT a partir de sua conta clandestina no exterior.
Dario Messer é filho do mais antigo doleiro vivo do país, o polonês Mordko Messer, de 90 anos, que hoje se locomove com a ajuda de uma cadeira de rodas. Desde que começou a ser acossado pela polícia, Dario Messer, que é amigo de celebridades como o jogador Ronaldo, sumiu do pedaço. Suspeita-se que esteja, hoje, escondido em algum lugar no Uruguai. Como doleiro, Messer operava pelo menos cinco contas lá fora – três no MTB Bank e duas no Merchants Bank. Não se sabe quais as razões que levaram o PT a escolhê-lo como doleiro preferencial, mas seu tamanho nesse mundo financeiro clandestino talvez seja sua principal credencial. "Ele, sim, é um dos maiores doleiros do país. Muito maior do que o Toninho da Barcelona", diz o procurador da República Vladimir Aras, de Curitiba, um dos integrantes de uma força-tarefa que investiga as remessas ilegais para o exterior. Como prova do seu gigantismo, basta um dado: só uma das contas de Messer no MTB Bank, a Depolo, movimentou 1,7 bilhão de dólares em 2003.
As trocas de dólares por reais, que se materializavam no gabinete do então vereador e hoje deputado Devanir Ribeiro, integram outro braço do esquema petista. Nesse caso, o partido mantinha volumes consideráveis de dólares em dinheiro vivo, escondido em cofres ou malas ou cuecas, e acionava a casa de câmbio quando precisava convertê-los em reais. Em geral, quem ligava para a casa de câmbio Barcelona era o assessor legislativo da Câmara de Vereadores, Marcos Lustosa Ribeiro – que vem a ser filho do deputado Devanir Ribeiro. No telefonema, Marcão, como é conhecido, perguntava a cotação de venda e informava quanto queria trocar. No início de 2002, as trocas eram esporádicas e ocorriam a cada dez ou quinze dias. No meio do ano, já estavam em ritmo alucinado. "Com a aproximação das eleições, tornaram-se quase diárias", lembra o doleiro.
Nesse período, as trocas chegavam a somar em torno de 500.000 reais por semana. "Eles faziam muita questão de que as notas em reais fossem de 50 e 100 por questão de volume", diz Toninho. O volume das trocas cresceu tanto que, certa vez, um assessor de Devanir Ribeiro pediu para que os reais fossem depositados diretamente na conta bancária do PT. Na entrevista por escrito a VEJA, Toninho da Barcelona conta que hesitou em autorizar a operação. Tinha receio de que os registros bancários viessem a comprometê-lo, mas fez o negócio. Os registros, agora, podem ser a prova de sua história. Além disso, as trocas eram registradas nos computadores da casa de câmbio. Os computadores foram apreendidos pela Polícia Federal e, se não foram alterados, contêm todas as operações, garante o doleiro.
VEJA localizou o funcionário da Barcelona que fazia as entregas de dinheiro do PT. É Marcelo Viana, então responsável pelas operações de balcão da Barcelona. Ele relata que, dependendo do volume das trocas, o dinheiro seguia em sacolas ou envelopes. "Mas também já levei dinheiro preso às meias e debaixo da roupa", diz. Marcelo Viana lembra que suas visitas à Câmara de Vereadores eram precedidas de identificação na portaria. Ouvido por VEJA, Marcão confirmou que fazia as trocas no gabinete do seu pai, mas garante que o dinheiro não era do PT. "Não era dinheiro de política, meu pai não tinha nada a ver com isso. Era dinheiro que eu ganhava com serviços de informática que fazia na Câmara e trocava por dólar. Coisa pequena, para meu uso mesmo", afirma. Coisa pequena, com 500.000 reais por semana? Bem, a exemplo da trajetória do filho do presidente Lula, Fábio Luiz, o biólogo que enriqueceu como micreiro, dá para ver que esse pessoal do PT, quando inventa de mexer com informática, faz um sucesso monumental...
O deputado Devanir Ribeiro faz coro com o filho, diz que jamais soube de nada (eis outra característica marcante do pessoal do PT, a de não saber de nada do que acontece mesmo dentro do seu gabinete!) e que o dinheiro não era do PT. "Se o Marcos trocou dinheiro com Toninho Barcelona, o problema é dele. O Marcos é maior de idade, casado, vacinado e cuida da vida dele", diz o pai. Devanir Ribeiro foi metalúrgico e é petista de primeira hora. Amigo de Lula desde 1972, ele esteve presente nos momentos mais simbólicos da vida do presidente: integrou a primeira diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, participou da greve de 1978 e dividiu uma cela com Lula quando ambos foram presos. Em 1982, quando Lula se candidatou a governador de São Paulo, o motorista da Belina que rodou o estado era Devanir Ribeiro. Os dois são amigos até hoje. Nos fins de semana em Brasília, Devanir e a mulher, Zeneide, visitam o primeiro casal na Granja do Torto, onde se divertem tomando cerveja e jogando cartas. Devanir Ribeiro garante que nem conhece Toninho da Barcelona.
Toninho da Barcelona, no entanto, diz que conhece o PT de longa data. Ele conta que, desde 1989, o PT faz remessas para fora do país. Paco, seu velho amigo, dono da Doratur e falecido no ano passado, lhe confidenciou ter despachado para o exterior dinheiro recolhido pelo PT no caso Lubeca, escândalo no qual dirigentes do partido foram acusados de cobrar 200.000 dólares da empresa Lubeca para aprovar um projeto urbanístico. Outro esquema que rendeu muitos dólares ao PT, diz o doleiro, funcionava em Santo André, durante a gestão de Celso Daniel, de 2000 a 2002. Toninho afirma que conhece o caso porque a cambista Nelma Cunha, da Havaí Câmbio e Turismo, de Santo André, nem sempre dispunha do volume de dólares requerido e recorria a ele. Toninho pode ajudar até a esclarecer a corrupção petista em Santo André. Os promotores do caso querem ouvi-lo porque sabem que empresas de ônibus de Santo André – achacadas pelo PT – enviaram recursos ao exterior usando o Banco Rural. Será que esse dinheiro caía naquela conta do PT lá fora, no Trade Link?
Um dos esquemas mais complexos – mas igualmente clássico – do PT funcionava na corretora Bônus-Banval, de São Paulo. Toninho da Barcelona conta que a corretora era usada pelo partido para intermediar operações fraudulentas e, assim, tornou-se uma das principais fontes de pagamento do mensalão. Sua especialidade eram as operações de "esquenta-esfria", nas quais os prejuízos eram sempre dos fundos de pensão das estatais. "As ligações entre o PT e a Bônus são estreitas. Os sócios são amigos íntimos de José Dirceu", acusa o doleiro. Na semana passada, VEJA apurou que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) está fazendo uma investigação sigilosa sobre a Bônus-Banval, por suspeita de lavagem de dinheiro e de promover operações fraudulentas com fundos de pensão, exatamente nos moldes como relata o doleiro. Apenas um dos inquéritos em andamento na CVM envolve transação de 12 milhões de reais. José Dirceu nega qualquer relação com a Bônus-Banval. A Bônus-Banval não quis falar sobre o assunto. E a CVM informa que não comenta suas investigações.
A VEJA, o doleiro voltou a dizer que o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, fez remessas para o exterior, mas não deu detalhes. Sabe-se que em outubro de 2002 Meirelles sacou 50.600 dólares de sua conta no banco americano Goldman Sachs e depositou o dinheiro na conta da Biscay Trading, uma offshore operada por três doleiros de São Paulo no MTB Bank, em Nova York. Quando o caso veio à tona, em agosto do ano passado, Meirelles explicou que o depósito foi feito a pedido de um credor. Disse que não podia identificar o destinatário do dinheiro nem a origem da dívida porque tais dados estariam em seus arquivos pessoais guardados nos Estados Unidos, onde residiu de 1996 a 2002. Na semana passada, um ano depois de prometer buscar os documentos que explicariam o depósito aos doleiros, Meirelles continuava sem respostas: as informações sobre o depósito – informou sua assessoria – não estavam no arquivo pessoal.
No caso do atual ministro Marcio Thomaz Bastos, o doleiro reafirmou as acusações que já fizera à CPI e deu mais detalhes. Ele conta que as remessas de Bastos começaram em 1993 e lhe foram confidenciadas por quem as fazia – Marco Antônio Cursini, que na época, segundo o doleiro, operava contas no Deutsche Bank e no Swiss Bank e até recebeu uma assistência jurídica do hoje ministro. Marcio Thomaz Bastos confirmou que Cursini, de fato, foi cliente de seu escritório na década de 90, mas nega que tenha usado seus serviços de doleiro ou feito remessas ilegais ao exterior. O ministro diz que abriu conta no exterior e fez três remessas.
Conforme documento expedido pelo Unibanco, agente operador do ministro, a primeira foi feita em novembro de 1994 e a última em março de 1995, totalizando, na época, 2,8 milhões de dólares. As remessas foram autorizadas pelo Banco Central. Em fevereiro de 2003, o ministro trouxe o dinheiro de volta para o Brasil, também pelas vias legais, e pagou cerca de um milhão de reais em imposto. As acusações de Toninho da Barcelona, naturalmente, não podem ser tomadas como expressão da verdade, mas devem ser investigadas com rigor. Exigir que ele apresentasse provas – como fizeram alguns membros da CPI dos Correios na semana passada – é risível. Afinal, Toninho da Barcelona não tem sequer como provar quem ele é, já que, em seu macacão cor de laranja de prisioneiro, não carrega nem a carteira de identidade. Mas repete sempre que as provas estão nos discos rígidos dos computadores que usava e hoje estão lacrados e sob a guarda da Polícia Federal. "Meu cliente está disposto a contar toda a verdade", repete seu advogado, Ricardo Sayeg. "Para a autoridade que quiser ouvir."
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E compreensível o pavor que Lula tem do mensalão. Ele dizia não saber de nada, mas age como soubesse de tudo.
A perda de votos do PT - no caso acima - é avassaladora, porém a desinformação e apedeutismo do povão são os maiores aliados do PT.
11 de junho de 2012
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