Comecei a escrever A arte de comer sem pagar – 1 na sexta-feira entre os feriados. Tentei engatar, no final, a idéia de que a China exporta tembém o seu modelo econômico concentrador e monopolista e isso predispõe o Ocidente para outras distorções e crises, mas logo vi que seriam idéias demais para espaço de menos.
Domingo o artigo de Pedro Malan para O Estado de S. Paulo (aqui) veio me ajudar.
A frase do ex-presidente do Conselho de Ministro da Fazenda da União Européia com que ele abre seu texto explica tudo:
"Não é que as lideranças políticas europeias não saibam o que fazer; o que elas não sabem é como se reeleger, depois de tentarem fazer o que precisa ser feito".
Retomo, então, de onde parei no artigo anterior:
A China não exporta só o seu desemprego e o seu padrão de remuneração do trabalho. Desde que o processo começou (e já lá vão uns bons 30 anos desde o início da globalização como função da revolução da informática) ela vem exportando também o seu modelo econômico concentrador e monopolista, uma vez que, para competir com a escala de produção dos seus monopólios servidos por quase escravos, só criando monopólios servidos por quase escravos do lado de cá também, via o tsunami de fusões e aquisições que, ha décadas, vêm inflando desmedidamente o setor financeiro.
Isso inicia um processo de causação circular cumulativo, outro conceito de que Malan trata em seu artigo (ainda que em outro contexto).
As empresas tornam-se “grandes demais para quebrar” e os governos, diante da ameaça de crise social como função do desemprego que seria criado pela falência de uma delas (ou até de banimento da democracia por eleitores revoltados, como acontece agora na periferia da Europa), entram com as operações de resgate financeiro (com emissão de moeda), o que acaba realimentando a irrresponsabilidade dos gestores dessas empresas (moral hazard) e preparando o terreno para novas crises.
Esse conluio cada vez mais íntimo entre governos e empresas privadas das quais eles vão se tornando, cada vez mais, sócios-proprietários, vai rebaixando a função fiscalizadora de uns sobre as outras ficando os assalariados/consumidores cada vez mais órfãos na outra ponta.
E com isso o mundo inteiro vai se tornando cada vez mais parecido com a China anti-democrática onde, se não ha o problema de se reeleger depois de tomar medidas impopulares, há o de evitar a qualquer custo explosões como a de Tianamen, em 1989, que ocorrem em países sem canais democráticos se a pressão sobre o assalariado/consumidor passar do limite.
O Partido Comunista Chinês, tornado “capitalista selvagem” montado no seu poder ilimitado, corrompe-se cada vez mais e, para comprar mais longevidade no poder, cava buracos financeiros que, depois, precisam ser tapados com “enxurradas de obras”, que são os equivalentes dos resgates financeiros para preservar empregos do Ocidente ou às “enxurradas de crédito” para manter o crescimento em voga no Brasil do PT. É assim que eles têm construído aquelas cidades inteiras onde não mora ninguém que fazem o mundo se perguntar até quando esse tipo de expediente pode aguentar.
Com o que, voltamos ao ponto de partida: debater “ortodoxias” e “heterodoxias” pode ser um esporte atraente para a Academia mas, na vida real, todo mudo sabe o que precisa ser feito; o problema é como manter-se no poder depois de faze-lo. Ou, se a empurração com a barriga for suficientemente longe, como manter-se democrático num ambiente de concentração crescente da riqueza e dissolução das fronteiras entre o público e o privado.
Ou seja, essas crises começam e acabam, a cada volta dos processos de causação circular cumulativos que as vão agravando cada vez mais, com a compra de poder politico (e/ou de poder econômico) com dinheiro alheio.
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