"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 29 de julho de 2012

A FUGA ESPANHOLA


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Depois de Grécia, Portugal e Irlanda, Espanha é a nova vítima da crise do euro a precisar de um resgate econômico (The Economist/Reuters)
Problemas econômicos da Espanha podem estar temporariamente apaziguados, mas são uma grande lição para toda a zona do euro

O prognóstico é sombrio para a Espanha. A economia está em recessão, o setor público está cortando gastos e o setor privado não está disposto a investir. Esta falta de demanda interna praticamente garante que o primeiro-ministro Mariano Rajoy não conseguirá cumprir a meta de reduzir o déficit.

Se isso acontecer, a Espanha terá que impor ainda mais austeridade a seu povo. Isso vai minar a popularidade de Rajoy, que já caiu vertiginosamente desde que foi eleito. A determinação espanhola será ainda mais danificada por disputas sobre mais cortes orçamentários entre Madrid e os políticos regionais, que controlam 40% da despesa pública e que, mesmo pertencendo ao partido de Mariano Rajoy, defendem zelosamente sua autonomia.

A incerteza política vai respingar a economia, que só irá se deteriorar mais. E o círculo vicioso continua.

A Espanha não pode escapar desta armadilha sozinha. O governo admitiu que não tem dinheiro de sobra, e os credores estão começando a duvidar de sua solvência. Uma espécie de resgate pode ser remendada, com os rendimentos dos títulos controlados por uma combinação de Banco Central Europeu (BCE) e vários fundos de resgate (mesmo que o principal ainda esteja sujeito a uma corte constitucional alemã, cujos juízes são escandalosamente lentos) .

Mas isso seria apenas ganhar tempo. Talvez não muito. Resgate a Espanha, e imediatamente os investidores se preocuparão com a Itália e com o tamanho de seus fundos de resgate são grandes o suficiente. Existem complicações técnicas: dinheiro novo dos fundos de resgate pode contar como dívida sénior, piorando potencialmente a situação de outros credores. E complicações políticas: o BCE não pode sustentar uma intervenção enorme, se a Alemanha, seu principal acionista, se opuser.

A salvação da Espanha continuará a ser uma correção de curto prazo a menos que a zona do euro realmente se una em torno de um plano que é economicamente útil e politicamente viável.

União ou morte

Uma solução exige que os membros da zona do euro usem sua força combinada com a mutualização de algumas dívidas e apoiem seus grandes bancos. Mas ao lado de um maior federalismo, a Europa também precisa fazer algo sobre o crescimento. Desde 1975, os países agora na zona do euro têm dado à luz apenas uma empresa atualmente entre as 500 maiores do mundo (ironicamente, ela vem da Espanha: Inditex). Nos Estados Unidos, só o estado da Califórnia criou 26. Livrando-se das regras loucas que mantêm empresas europeias insignificantes, a Europa ainda pode surpreender a todos.

Talvez os políticos fiquem tão chocados com uma corrida aos bancos da zona do euro, uma saída caótica da Grécia, ou a fuga de dívidas do governo italiano, que resolvam entrar em ação. Mas os líderes europeus terão cada vez mais dificuldade de arrastar o seu povo junto com eles. Esta é a mais profunda lição do pesadelo espanhol: o atraso está piorando as chances de sobrevivência do euro.

29 de julho de 2012

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