Esses americanos... Lá existe o que eles chamam de conversation piece, que vem a ser qualquer coisa que sirva para começar uma conversa. Digamos que você vai receber na sua casa uma pessoa com a qual não tem nenhuma intimidade, afinidade e, principalmente, assunto.
Para que a visita não transcorra em constrangedor silêncio, você coloca em cima da mesa de centro alguma coisa — um livro, uma escultura, uma cabeça mumificada — que despertará a curiosidade do visitante, que indagará a respeito e lhe permitirá dissertar sobre o seu significado e sua história.
Com sorte, e com um conversation piece bem escolhido, a conversa sobre este tópico único pode durar a visita
inteira e dispensar a busca de outros assuntos.
— Esse fuzil...
— Fabricação japonesa. Comprei quando eu estava pensando em me tornar um serial killer. Depois, comecei com as aulas de sapateado e fui para outro caminho, mas o arsenal ficou. Tenho o porão cheio de armas, se você quiser vê-las depois...
— Sim, sim. Gostaria. Você parece ter tido uma vida muito interessante.
— Tive. Tudo começou quando mamãe me colocou na máquina de lavar roupas por engano, junto com minhas fraldas, e só me retirou no fim do ciclo.
Não deixa de ser admirável e lamentável ao mesmo tempo uma sociedade tão prática que prevê o embaraço social e inventa maneiras de evitá-lo e precisa de acessórios para começar uma conversa.
CORREÇÕES
O Sergio Augusto, entre outros, corrigiu minha coluna da quinta passada, quando, comentando o efeito que o massacre da noite de estreia poderia ter na bilheteria do novo filme do “Batman”, escrevi sobre um filme maldito de décadas atrás chamado “Romona” que supostamente dava azar. O filme não se chamava “Romona” e sim “Ramona”.
Na mesma coluna chamei o Alexander Cockburn de Alexander Woodcock. Pelo menos deixei o cock do homem intacto.
Perdão, leitor.
Estou tentando localizar o vazamento de neurônios para estancá-lo.
Luis Fernando Veríssimo
29 de julho de 2012
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