"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 23 de julho de 2012

VIDELA: IGREJA AJUDOU COM DESAPARECIMENTOS

Segundo ex-ditador, prelados assessoraram regime na forma como lidar com assunto junto a familiares


O GLOBO
BUENOS AIRES — O ex-ditador argentino Jorge Videla, que cumpre pena de prisão perpétua por crimes contra a Humanidade, revelou à revista “El Sur” que autoridades da Igreja Católica de seu país tinham informações sobre o destino dos presos políticos desaparecidos e assessoraram o regime militar (1976-83) no trato com suas famílias.
O relato foi feito numa entrevista realizada em 2010, mas apenas ontem divulgada. O ex-ditador admite que havia dialogado sobre o assunto com diversas autoridades eclesiásticas, entre elas o núncio apostólico Pio Laghi e o cardeal-primaz Raúl Primatesta, além de outros bispos.

“Conversamos muito com eles. Era uma situação muito dolorosa e nos assessoravam sobre a melhor maneira de lidar com o assunto”, diz o primeiro dos quatro presidentes da ditadura do país, hoje com 86 anos. Seu governo, que durou de 1976 até 1981, é considerado o mais sangrento do regime.

Segundo o depoimento, “a Igreja ofereceu seus bons préstimos, e a familiares sobre os quais havia a certeza de que não fariam uso político da informação, foi dito que não buscassem mais a seu filho porque estava morto”. Para o ex-ditador, a instituição entendeu bem a situação e também assumiu os riscos.

De acordo com a revista, a entrevista, realizada no período em que Videla era julgado por abusos de direitos humanos, só foi publicada agora devido à palavra dada ao ex-líder na época de que nada seria publicado antes de sua morte.
O motivo seria preservar os familiares das respostas dadas por ele. No entanto, a publicação alega que Videla quebrou o compromisso firmado ao dar uma entrevista à revista “Cambio”, também argentina, em fevereiro deste ano.

Ex-ditador justifica ações do regime militar

O ex-governante, como já havia feito antes em outras entrevistas, justificou mais uma vez as ações de repressão com base nos decretos de aniquilação de opositores assinados pelo ex-presidente peronista Italo Lúder. Quando perguntado se as torturas, o roubo de crianças e a usurpação de propriedades das vítimas faziam parte do plano de combate aos críticos do regime, classificou os atos como “baixeza humana”, frutos do grande poder dado ao Exército na época.

Em abril, Videla reconheceu pela primeira vez depois de 30 anos que seu governo eliminou “entre sete mil e oito mil pessoas”. Segundo a Comissão Nacional sobre o Desaparecimento de Pessoas (Conadep), porém, este número chegaria a quase nove mil, ao passo que órgãos de direitos humanos falam em 30 mil casos. Semanas atrás, Videla foi novamente condenado por roubo de bebês.

23 de julho de 2012

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