Tenho um amigo que passou um pequeno tempo de sua vida na cidade de Franco da Rocha, São Paulo. Era um intervalo entre o casamento desfeito e um próximo. Também estava sem emprego. Arranjava um “pichulé” porque morava num hotel bem pequeno, onde só havia dois quartos.
Ele morava no maior, onde tinha também uma sacada grande. O dono do hotel não morava lá. Ia para o Rio de Janeiro, onde tinha sua casa. O hotel ficava sob administração da faxineira. Ele tinha também um carro. Muitas vezes, trocava de veículo com o taxista da cidade. O táxi era uma charrete, puxada por uma égua mansa.
Ele adorava passear de charrete. Sua diversão era visitar alguns loucos do hospício daquela cidade. Conhecia também lá vários médicos.
Passava várias tardes conversando com os loucos, que acabava sendo altos papos e, às vezes, jogando futebol com eles.
Um dos aspectos mais interessantes é que só valia tento quando se acertava nas traves. Conta ele que os loucos eram especialistas em acertar as traves, confirmado pelos médicos, que diziam que a condição mental deles facilitava essa faculdade.
Mas, voltemos.
Nessas tardes, a faxineira destinava o quarto dele para alta rotatividade. E dividia com ele a féria. Às vezes, à noite, mandava ele sair do quarto e ir dormir no outro enquanto um casal mais apressado tirava o atraso no quarto dele. Depois ela o acordava para retornar ao próprio quarto. Isso o mantinha. Só não funcionava nos fins de semana, quando o dono lá estava.
A melhor lembrança dele foi um fato que assistiu e ouviu, naquele nosocômio. Estava conversando com um médico no refeitório, na hora do almoço, muito próximo do bufê. Um interno passou pela mesa e foi ao bufê. O cozinheiro, solícito, perguntou ao interno:
– Quer uma torta, amigo?
E o interno respondeu:
– Agora não, obrigado. Acabei de comer uma cega…
Magu
23 de julho de 2012
(*) Foto: Hospital do Juquery.
Nenhum comentário:
Postar um comentário