Aposentados espanhóis sustentam filhos e netos
Dolores Fernández Mora, 76, e seu marido, Mariano Blesa Julvé, 75, pensavam que terminariam seus dias com relativo conforto, com a casa própria quitada e uma sólida pensão em torno de US$ 1.645 por mês. Talvez viajassem um pouco.
Em vez disso, estão sustentando sua filha desempregada de 48 anos, Carmen Blesa, e dois filhos adultos dela, também desempregados, que agora vivem com os idosos na sua casa de dois quartos aqui no norte da Espanha. Eles também assumiram as dívidas da filha. Às vezes, quase não há dinheiro para a comida.
"Enquanto ela não está trabalhando eu não tenho dentes novos, e é isso", afirmou Fernández, mostrando as falhas no sorriso.
Após anos de recessão, cada vez mais famílias espanholas, vendo seu seguro-desemprego se esgotar e enfrentando financiamentos imobiliários impossíveis de serem pagos, estão dependendo fortemente de seus parentes idosos. Novas estatísticas de desemprego divulgadas em julho mostraram que o índice no país chegou a inéditos 25%.
As aposentadorias estão entre os poucos benefícios que não foram atingidos pelas medidas de austeridade do governo nos últimos anos, embora estejam congeladas desde 2011. Os espanhóis são conhecidos por suas sólidas redes familiares, e a maioria dos avós se dispõe a ajudar e a não admitir as dificuldades para pessoas de fora, segundo especialistas. Muitos idosos lutam atualmente para alimentar três gerações e suas casas estão superlotadas.
Em alguns casos, as famílias estão tirando parentes dos asilos para que eles possam sacar suas pensões. É uma tendência que faz alguns defensores dos idosos questionarem se as gerações mais jovens não estão indo longe demais.
"Muitos avós querem dar o que podem e dão", disse o reverendo Ángel García, que dirige uma ONG de apoio a crianças e idosos. "Mas, infelizmente, às vezes o que está acontecendo é que a geração mais jovem está saqueando a mais velha. Estão pegando tudo que eles [os idosos] têm."
Uma pesquisa deste ano da empresa Simple Lógica mostrou um forte aumento no número de pessoas mais velhas que sustentam familiares. Num levantamento telefônico em fevereiro de 2010, 15% dos adultos maiores de 65 anos disseram sustentar pelo menos um parente mais jovem. Em fevereiro de 2012, esse número havia subido para 40%.
Dados compilados por uma associação de asilos particulares para idosos mostraram que, em 2009, havia vagas em 76% das instituições filiadas. No ano passado, isso subiu para 98%.
Esses números, dizem os especialistas, refletem um crescente desespero na Espanha, que tem o maior desemprego na zona do euro. Recentes cifras governamentais mostram que um em cada dez lares não tem adultos trabalhando.
Alguns especialistas consideram que os aposentados, ao dividirem suas pensões e mergulharem nas suas poupanças, são os heróis silenciosos da crise, e que sem eles a Espanha estaria vivendo muito mais turbulências. Em muitos casos, são eles que impedem seus filhos de meia-idade de virarem sem-teto.
"Por que não há mais pessoas nas ruas protestando, pedindo comida?", disse Gustavo García, diretor da Casa Amparo, um asilo de Zaragoza. "A resposta são os idosos."
Esse foi o caso do casal Petri Oliver e Pedro Grande, ambos 53, que contou ter sobrevivido por estar até recentemente cuidando em casa da mãe de Oliver, de 80 anos, em vez de colocá-la numa residência para idosos. A mãe, que sofria de Alzheimer, teve três derrames no último ano, o que a deixou em estado vegetativo.
A idosa passou seus últimos meses de vida num leito hospitalar na sufocante sala de estar de Oliver, cercada por pilhas de suprimentos médicos, inclusive suas refeições líquidas. O pai de Oliver recebia € 300 (quase US$ 370) por mês do Estado para cuidar da mulher, mas entregava o dinheiro à filha. "Se ela for para um asilo, não comemos", disse Oliver em julho. Mas, uma semana depois, a mãe dela morreu.
Até dois anos atrás, o marido de Oliver trabalhava na construção civil, apesar de um acidente de trabalho que o deixou cego de um olho. Hoje em dia, a única renda do casal é uma pensão por invalidez de cerca de US$ 1.200 por mês. Mas a hipoteca custa quase US$ 1.000. Por falta de dinheiro para a gasolina, eles não podem ir visitar a filha, também desempregada. "Não sabemos o que vamos fazer agora", disse Oliver.
06 de agosto de 2012
SUZANNE DALEY
DO "NEW YORK TIMES"
Em vez disso, estão sustentando sua filha desempregada de 48 anos, Carmen Blesa, e dois filhos adultos dela, também desempregados, que agora vivem com os idosos na sua casa de dois quartos aqui no norte da Espanha. Eles também assumiram as dívidas da filha. Às vezes, quase não há dinheiro para a comida.
"Enquanto ela não está trabalhando eu não tenho dentes novos, e é isso", afirmou Fernández, mostrando as falhas no sorriso.
Após anos de recessão, cada vez mais famílias espanholas, vendo seu seguro-desemprego se esgotar e enfrentando financiamentos imobiliários impossíveis de serem pagos, estão dependendo fortemente de seus parentes idosos. Novas estatísticas de desemprego divulgadas em julho mostraram que o índice no país chegou a inéditos 25%.
As aposentadorias estão entre os poucos benefícios que não foram atingidos pelas medidas de austeridade do governo nos últimos anos, embora estejam congeladas desde 2011. Os espanhóis são conhecidos por suas sólidas redes familiares, e a maioria dos avós se dispõe a ajudar e a não admitir as dificuldades para pessoas de fora, segundo especialistas. Muitos idosos lutam atualmente para alimentar três gerações e suas casas estão superlotadas.
Em alguns casos, as famílias estão tirando parentes dos asilos para que eles possam sacar suas pensões. É uma tendência que faz alguns defensores dos idosos questionarem se as gerações mais jovens não estão indo longe demais.
"Muitos avós querem dar o que podem e dão", disse o reverendo Ángel García, que dirige uma ONG de apoio a crianças e idosos. "Mas, infelizmente, às vezes o que está acontecendo é que a geração mais jovem está saqueando a mais velha. Estão pegando tudo que eles [os idosos] têm."
Uma pesquisa deste ano da empresa Simple Lógica mostrou um forte aumento no número de pessoas mais velhas que sustentam familiares. Num levantamento telefônico em fevereiro de 2010, 15% dos adultos maiores de 65 anos disseram sustentar pelo menos um parente mais jovem. Em fevereiro de 2012, esse número havia subido para 40%.
Dados compilados por uma associação de asilos particulares para idosos mostraram que, em 2009, havia vagas em 76% das instituições filiadas. No ano passado, isso subiu para 98%.
Esses números, dizem os especialistas, refletem um crescente desespero na Espanha, que tem o maior desemprego na zona do euro. Recentes cifras governamentais mostram que um em cada dez lares não tem adultos trabalhando.
Alguns especialistas consideram que os aposentados, ao dividirem suas pensões e mergulharem nas suas poupanças, são os heróis silenciosos da crise, e que sem eles a Espanha estaria vivendo muito mais turbulências. Em muitos casos, são eles que impedem seus filhos de meia-idade de virarem sem-teto.
"Por que não há mais pessoas nas ruas protestando, pedindo comida?", disse Gustavo García, diretor da Casa Amparo, um asilo de Zaragoza. "A resposta são os idosos."
Esse foi o caso do casal Petri Oliver e Pedro Grande, ambos 53, que contou ter sobrevivido por estar até recentemente cuidando em casa da mãe de Oliver, de 80 anos, em vez de colocá-la numa residência para idosos. A mãe, que sofria de Alzheimer, teve três derrames no último ano, o que a deixou em estado vegetativo.
A idosa passou seus últimos meses de vida num leito hospitalar na sufocante sala de estar de Oliver, cercada por pilhas de suprimentos médicos, inclusive suas refeições líquidas. O pai de Oliver recebia € 300 (quase US$ 370) por mês do Estado para cuidar da mulher, mas entregava o dinheiro à filha. "Se ela for para um asilo, não comemos", disse Oliver em julho. Mas, uma semana depois, a mãe dela morreu.
Até dois anos atrás, o marido de Oliver trabalhava na construção civil, apesar de um acidente de trabalho que o deixou cego de um olho. Hoje em dia, a única renda do casal é uma pensão por invalidez de cerca de US$ 1.200 por mês. Mas a hipoteca custa quase US$ 1.000. Por falta de dinheiro para a gasolina, eles não podem ir visitar a filha, também desempregada. "Não sabemos o que vamos fazer agora", disse Oliver.
06 de agosto de 2012
SUZANNE DALEY
DO "NEW YORK TIMES"
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