Nas Entrelinhas
No fundo, os petistas tinham poucas esperanças de
que o voto do relator seria diferente da condenação do deputado João Paulo
Cunha, o único candidato a prefeito entre os réus do mensalão. Mas não supunham
que seria por vários crimes nem o primeiro nome do partido a ser colocado à
beira do cadafalso
O estresse nesta sexta-feira e na próxima semana
não será privilégio dos réus do mensalão, que passarão dias ouvindo o voto do
relator da Ação Penal 470, ministro Joaquim Barbosa. O presidente da Câmara
está nesse rol, ainda que por outros motivos. Quem viu a imagem de um Marco
Maia todo sorridente em Estocolmo, sentado ao lado de Pelé durante o amistoso
Brasil e Suécia, jamais poderia supor que se trata de alguém pra lá de
incomodado com a armadilha que criou para si próprio.
Maia prometeu aos oposicionistas que o governo
seria democrático na execução das emendas parlamentares ao Orçamento da União.
Disse a integrantes de PSDB, DEM e PPS que seus municípios, leia-se as bases
eleitorais, seriam atendidos em breve.
A promessa, feita com a chave do cofre que está sob
o comando da presidente Dilma Rousseff, jamais havia sido feita por um
presidente da Câmara. E, diante desse inusitado, os aliados do petista gaúcho
veem o comandante da Casa em xeque diante do próximo esforço concentrado da
Câmara, a partir da próxima terça-feira. Isso porque, depois das festividades
dos últimos dias, em Londres e Estocolmo, os congressistas têm o dever de
mostrar serviço e aprovar as propostas de interesse da população. Mas, por
conta do baixo comparecimento das excelências na Casa, está cada vez mais
difícil isso acontecer, especialmente na semana em que os candidatos a prefeito
dão a largada na propaganda de rádio e tevê.
Por falar em esforço...
O Planalto já fez chegar aos congressistas que, na
próxima segunda-feira, haverá liberação de limites orçamentários para os
ministérios. Mas não há nada garantido para a oposição, uma vez que, em pleno
calendário eleitoral, não é possível liberar recursos para obras novas nem
assinatura de convênios. Isso significa que, se Marco Maia depender da
liberação de emendas da oposição para aprovar qualquer coisa na Casa, vai
amargar mais uma semana de Congresso paralisado. E, cá entre nós, por que um
governo que, em tese, tem ampla maioria na Casa, precisa liberar emendas da
oposição para empreender votações?
A resposta a essa pergunta traz algumas conclusões
que fazem parte do portfólio das suposições em alta no Planalto. A primeira
delas: Marco Maia e o líder do governo, Arlindo Chinaglia, usam a oposição como
escudo para não deixar transparecer o descontrole sobre a base governista. Só
que uma hora esse descontrole ficará cristalino, da mesma forma que, nos
bastidores do Supremo Tribunal Federal, já se fala em possíveis condenações.
Por falar em STF...
A muitos soou esquisito o ministro-relator, Joaquim
Barbosa, começar o voto pelo caso do deputado João Paulo Cunha (PT-SP),
ex-presidente da Câmara. João Paulo é o único réu candidato a prefeito. Disputa
a prefeitura de Osasco como se a cidade ficasse em outro planeta. No fundo, os
petistas tinham poucas esperanças de que o voto do relator fosse diferente.
Sabiam que a tendência de Joaquim Barbosa era em favor da condenação do
deputado. Mas não supunham que seria por vários crimes — lavagem de dinheiro,
corrupção passiva e peculato (uso do cargo em benefício próprio). Muito menos
que João Paulo seria o primeiro a ser colocado à beira do cadafalso por
Barbosa.
Entre quatro
paredes dentro do PT, há quem diga que ficará cada vez mais difícil o deputado
manter uma campanha nesse período. Até porque não se sabe quantos dias os
ministros vão levar para proferir os votos. E visto que os demais integrantes
não são obrigados a seguir a mesma ordem do relator, talvez deixem para votar o
caso de João Paulo ao fim de cada voto. Isso torna o período de julgamento
embolado com a campanha eleitoral ainda mais incerto. Perto do caso de João
Paulo, a angústia de Maia é, realmente, um passeio.
Denise Rothenburg
18 de agosto de
2012
Correio
Braziliense (DF)
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