Planalto ignora ministro do Trabalho nas negociações sobre greves de servidores
Ministro Brizola Neto não foi chamado para as conversas com sindicalistas. Governo delegou o comando das negociações para Miriam Belchior
A política do governo em jogar duro (por enquanto) com os servidores federais envolvidos em greves que prejudicam 25 estados do país evidenciou o isolamento que vive o ministro do Trabalho, Brizola Neto, no governo Dilma Rousseff.
Com o cenário de crise com o sindicalismo deflagrado, a presidente Dilma Rousseff manteve a ministra Miriam Belchior (Planejamento) no comando das negociações, auxiliada por José Eduardo Cardozo (Justiça), Luís Inácio Adams (Advocacia-Geral da União) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil). A Brizola Neto não coube sequer o papel de coadjuvante.
Na última segunda-feira, enquanto Dilma chefiava uma maratona de reuniões preparatórias para a rodada de tratativas com as categorias em greve, o ministro do Trabalho passou o dia no Rio de Janeiro, cidade onde fez sua carreira política. Voltou para Brasília na terça, quando o governo já negociava com os grevistas. Brizola Neto permaneceu o resto da semana trancado em seu gabinete, segundo sua agenda oficial, em despachos internos.
Na quinta, ele participou do programa estatal de rádio "Bom Dia Ministro", produzido pela Secretaria de Comunicação da Presidência. Na longa entrevista, a greve federal foi mencionada apenas uma vez - e por um radialista. Ao responder, Brizola demonstrou seu alheamento ao caos ocorrido em aeroportos, portos e estradas do país. “Esse processo, essa discussão, creio que está avançando bastante. O governo começou a formular propostas concretas, e essas propostas estão começando a ser bem recebida pelo conjunto de servidores públicos”, disse. Procurado, ele não quis dar entrevista ao site de VEJA.
Aparelhamento - Dilma demorou quase cinco meses para escolher seu titular para a pasta do Trabalho após a saída de Carlos Lupi, apeado do cargo por suspeitas de pagamento de propina e favorecimento a ONGs.
Além das denúncias, a pasta sofre com problemas de aparelhamento por sindicalistas. Atualmente, está sob domínio da Força Sindical, ligada ao PDT. A central é rival direta da CUT (Central Única dos Trabalhadores), hegemônica entre os segmentos em greve - outras entidades nanicas são vinculadas ao PSTU e ao PSOL.
Desde que tomou posse, em 3 de maio, Brizola Neto jamais foi recebido pela presidente em audiência oficial no Palácio do Planalto. Foi nesta mesma data que Dilma recebeu pela última vez as centrais sindicais em seu gabinete.
Lupi voltou a Brasília no mês passado e foi recebido por Dilma na condição de presidente do PDT. E, quando o assunto é greve, o pedetista demonstra ter saudade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Por ser oriundo do movimento sindical, por ter sido presidente da CUT, os dirigentes também se sentiam mais à vontade com ele”, disse.
18 de agosto de 2012
Marco Antonio Villa
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