Para a elite de criminalistas do país, as conversas sobre distribuição de dinheiro não passaram de uma reunião para degustar “uma cachacinha bem pequenininha” ou acertar o recebimento de valores do caixa dois do PT
Laryssa Borges
Ministros durante o nono dia do julgamento do mensalão (Nelson Jr./SCO/STF)
Esses argumentos fazem parte da extensa lista de versões apresentada por mais de 30 advogados durante o julgamento mensalão. De credibilidade duvidável, foram evocados para tentar livrar os 37 réus de crimes como corrupção, peculato, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.
Para o time de advogados, estrelado pela elite de criminalistas do país, o mensalão não existiu. As conversas sobre distribuição de dinheiro não passaram de uma reunião para degustar “uma cachacinha bem pequenininha” ou acertar o recebimento de valores do caixa dois do PT, operado por Delúbio Soares, ex-tesoureiro do partido na época.
Veja abaixo algumas das desculpas apresentadas diante da mais alta Corte do país:
Me engana que eu gosto
"Ele pediu para um contínuo para pegar um pacote para Marcos Valério em um escritório no centro do Rio. O pacote foi entregue a uma pessoa do PT. Ele não sabia que se tratava de dinheiro. Entregou o pacote e não o abriu”.
Marthius Lobato, ao afirmar que o então diretor do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato, não sabia que um envelope carregado por ele continha 336 000 reais.
“Kátia Rabello era uma bailarina que, por uma sucessão de tragédias, assumiu a presidência do Banco Rural”.
José Carlos Dias, ex-ministro da Justiça e advogado da ex-presidente do Banco Rural, Kátia Rabello, ao afirmar que sua cliente não mandava na instituição herdada de seu pai.
“Não vamos cometer a pouca urbanidade de entender que uma reunião de coligação política no apartamento funcional de Paulo Rocha com o presidente da República desse para o Paulo o conhecimento disso tudo. A participação do Paulo foi de ficar ao lado do presidente. Eles só tomaram uma cachacinha bem pequenininha”.
João dos Santos Gomes Filho, ao negar que seu cliente, o ex-deputado petista Paulo Rocha, tivesse conhecimento de negociações sobre o mensalão.
“Ela tinha verdadeiro pavor em sair da agência bancária portando grandes quantias em dinheiro. Muitas dessas pessoas que ela entregava o dinheiro ela ficava sabendo quem era na hora, pela descrição de roupa. E as pessoas a conheciam porque ela é uma mulher bonita, vistosa”.
Leonardo Yarochewsky, advogado de Simone Vasconcelos, ao justificar por que a ex-diretora administrativa e financeira da SMP&B, agência de Marcos Valério, usou carros-fortes para distribuir 650 000 reais do esquema.
Alberto Zacharias Toron, ao argumentar que o recebimento de 50 000 reais do esquema do valerioduto pelo seu cliente, o petista João Paulo Cunha, não é crime de lavagem de dinheiro.
18 de agosto de 2012
Veja
NOTA AO PÉ DO TEXTO
E OUTRAS PÉROLAS MAIS... Chega a ser indecente e pouco crível que advogados, perante a mais alta Corte do país, teçam tais argumentos em favor da inocência dos mensaleiros. Se tais cenas fizessem parte de alguma comédia, com toda certeza seria um grande sucesso. Não é crível, porém, e nem nos motiva a rir, quando tais crimes são tratados como chacota, com palavrórios inócuos, que mais parecem sair de algum anedotário. Faltam, além do mais, com o devido respeito, não apenas ante a Corte, mas também com a nação brasileira.
m.americo
Marthius Lobato, ao afirmar que o então diretor do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato, não sabia que um envelope carregado por ele continha 336 000 reais.
Alma de bailarina
“Kátia Rabello era uma bailarina que, por uma sucessão de tragédias, assumiu a presidência do Banco Rural”.
José Carlos Dias, ex-ministro da Justiça e advogado da ex-presidente do Banco Rural, Kátia Rabello, ao afirmar que sua cliente não mandava na instituição herdada de seu pai.
Só uma cachacinha
“Não vamos cometer a pouca urbanidade de entender que uma reunião de coligação política no apartamento funcional de Paulo Rocha com o presidente da República desse para o Paulo o conhecimento disso tudo. A participação do Paulo foi de ficar ao lado do presidente. Eles só tomaram uma cachacinha bem pequenininha”.
João dos Santos Gomes Filho, ao negar que seu cliente, o ex-deputado petista Paulo Rocha, tivesse conhecimento de negociações sobre o mensalão.
Mulher prevenida
“Ela tinha verdadeiro pavor em sair da agência bancária portando grandes quantias em dinheiro. Muitas dessas pessoas que ela entregava o dinheiro ela ficava sabendo quem era na hora, pela descrição de roupa. E as pessoas a conheciam porque ela é uma mulher bonita, vistosa”.
Leonardo Yarochewsky, advogado de Simone Vasconcelos, ao justificar por que a ex-diretora administrativa e financeira da SMP&B, agência de Marcos Valério, usou carros-fortes para distribuir 650 000 reais do esquema.
Veio da lavanderia
“Não há lavagem porque a própria acusação diz que o dinheiro já era lavado antes de ser sacado. Ele já veio lavado”.Alberto Zacharias Toron, ao argumentar que o recebimento de 50 000 reais do esquema do valerioduto pelo seu cliente, o petista João Paulo Cunha, não é crime de lavagem de dinheiro.
Veja
NOTA AO PÉ DO TEXTO
E OUTRAS PÉROLAS MAIS... Chega a ser indecente e pouco crível que advogados, perante a mais alta Corte do país, teçam tais argumentos em favor da inocência dos mensaleiros. Se tais cenas fizessem parte de alguma comédia, com toda certeza seria um grande sucesso. Não é crível, porém, e nem nos motiva a rir, quando tais crimes são tratados como chacota, com palavrórios inócuos, que mais parecem sair de algum anedotário. Faltam, além do mais, com o devido respeito, não apenas ante a Corte, mas também com a nação brasileira.
m.americo
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