Internacional - Rússia
“Ele (Putin) não pode simplesmente matar terroristas muçulmanos na Chechênia e permitir que eles infestem Moscou mais ainda”, comenta ex-oficial da CIA.
N. do E.: Neste domingo, uma agência estatal Rússia noticiou que forças do país deram baixa a 49 militantes islâmicos na região norte do Cáucaso.Vladimir Putin definiu como prioridade política o combate aos insurgentes, que afirmam querer criar um estado islâmico na região e prometeram atentados durante as próximas Olimpíadas de Inverno, em 2014.
Uma organização nacionalista russa declarou que Moscou não precisa mais de novas mesquitas.
De acordo com a rede Russian Today, o presidente do Movimento Nacional Russikye, Aleksandr Belov, disse que os russos precisam decidir a futura identidade do país.
“É necessário decidir de uma vez por todas se a Rússia se tornará um estado islâmico ou se se manterá como um estado secular, no qual os imigrantes estrangeiros chegam, acham serviço e saem quando seu trabalho está terminado” disse Belov.
O principal mufti da Rússia, Albir Krganov, pediu ao governo a permissão para construir mais mesquitas.
Segundo Ariel Cohen, especialista da Heritage Foundation em estudos sobre a Rússia e Eurásia, existem aproximadamente dois milhões de muçulmanos em Moscou.
Cohen também relata que a evidência dessa forte migração está nas escolas moscovitas: “Moscou está enfrentando um problema real com a forte migração da área norte do Cáucaso. Em algumas áreas de Moscou, praticamente metade dos estudantes são filhos dos migrantes daquela área”.
Contudo, o prefeito de Moscou, Sergei Sobyanin, deixou subentendida sua posição acerca do assunto quando respondeu ao pedido do mufti dizendo que muito dos muçulmanos rezando nas mesquitas da cidade não são residentes de Moscou.
A divisão cultural entre a Rússia e os muçulmanos ficou mais aparente na semana passada, quando o presidente Vladimir Putin disse que as garotas muçulmanas não deviam colocar véus nas escolas.
“O presidente Vladimir Putin falou na quinta-feira contra o uso dos véus nas escolas russas em seu primeiro comentário público em um assunto potencialmente explosivo” disse a notícia.
As tensões vêm crescendo entre as autoridades moscovitas e a população muçulmana da cidade.
Em setembro, a Radio Liberty noticiou que a polícia de Moscou capturou e prendeu muçulmanos que estavam aguardando para rezar na maior mesquita da cidade – a Mesquita Catedral próxima ao Kremlin.
“Shermamat Suyvarov disse que pensará duas vezes antes de retornar para rezar na maior mesquita de Moscou” disse a matéria. “Suyarov, um cidadão russo de 52 anos e origem quirguistanesa, disse que estava sentado em um carro estacionado aguardando para comparecer ao culto do dia 17 de setembro quando a polícia abordou-o e prendeu-o.”
Um ex-oficial da CIA que pediu para não ser identificado disse que a pressão por mais mesquitas em Moscou é a evidência do senso de identidade presente em boa parte dos muçulmanos.
“Os muçulmanos são uma nação e os jihadis são a única força armada dessa nação”, disse o ex-oficial da CIA. “Os líderes islâmicos seguem e estão cientes do que acontece aos muçulmanos em Moscou e Beijing”.
Entretanto, o ex-oficial acrescentou que os líderes muçulmanos podem dar à Rússia o benefício da dúvida por conta da atual situação tática entre a Rússia e o Irã.
“Mas eles também podem fazer algumas considerações táticas e dar a Moscou alguma folga, pois eles estão incomodando os EUA e o Ocidente e estão ajudando o Irã e a Síria” enfatizou o oficial da CIA.
O ex-oficial também afirmou que esse movimento anti-mesquita pode estar vindo do Kremlin.
“Se apenas as considerações domésticas estiverem envolvidas, eu diria que Putin pode muito bem ter incitado essas demonstrações e pode até aderir a elas” disse o oficial. “Ele não pode simplesmente matar terroristas muçulmanos na Chechênia e permitir que eles infestem Moscou mais ainda”.
Novamente, o ex-oficial da CIA citou as manobras de Putin no Oriente Médio.
“Dito isso, Putin também está cortejando os bárbaros de Teerã e da Síria para colocar uma trave nos olhos do Ocidente. Como Putin e a KGB têm total controle doméstico, eu suspeito que eles estão menos preocupados com problemas domésticos e mais interessados em mostrar uma aparência amigável aos muçulmanos estrangeiros” reforçou o ex-oficial.
Entretanto, preocupações domésticas podem ser a principal força motriz por trás do debate em Moscou.
Cohen novamente citou a migração muçulmana do Cáucaso.
“A Igreja Ortodoxa Russa e seus membros não estão felizes com alguns bairros em Moscou” disse Cohen. “São fortemente muçulmanos agora e estão fazendo pressão sobre a Igreja Ortodoxa”.
Cohen disse que há outro dilema.
“Se Moscou não permitir novas mesquitas serem construídas, os muçulmanos irão cada vez mais se expor à clandestinidade em busca das formas wahhabistas e salafistas do Islã” afirmou Cohen. “O Islã com suporte estatal perderá terreno para o clero Salafi e para os radicais clandestinos”.
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