Agildo Barata, herói dos tenentes de 1930, dos capitães de 1935 e dos comunistas de 1945 e pai do querido ator Agildo Ribeiro, era o menor e o mais valente dos prisioneiros de Fernando de Noronha, entre 1935 e 45, na ditadura de Getulio Vargas.
Um guarda enorme, bruto e violento, sempre armado, estava espancando presos, que se reuniram e encarregaram Agildo de falar com ele para dar um basta.
Na hora da chamada matinal, todos no pátio, Agildo, baixinho, mãozinha miúda, deu dois passos à frente, ficou algum tempo parado diante do brutamontes, pôs o dedo no nariz dele e disse que, na primeira vez em que ele batesse em um preso, iria matá-lo em público.
O guarda ficou parado, imóvel, arregalou os olhos e pumba!, caiu duro. Começou o corre-corre. Chamaram o médico do presídio.
***
AGILDO
Antes dele, chegou chorando a mulher, gritando desesperada:
- Meu amor. Não morra! Você não pode morrer! Não me deixe!
Punha a mão nos olhos, no coração, pegava o pulso, conferindo. Chegou o médico. Não adiantava mais nada. A mulher gritava:
- Doutor, me diga. Ele morreu mesmo? Não é só um desmaio?
- Não, minha senhora. Morreu. Não há mais o que fazer.
A mulher ajoelhou-se, enfiou os dedos nos olhos dele, convenceu-se de que ele estava mesmo morto e se levantou, sorrindo histérica:
- Graças a Deus, doutor! Ele está morto mesmo! Morreu tarde! Isso era um bandido. Um canalha. Me batia, quase me matava todo dia. Morreu tarde. Todo poderoso, todo valentão um dia se acaba!
***
CLERISTON
Cleriston Andrade chegou ao hotel da Bahia às oito da noite em ponto. Candidato do PDS a governador da Bahia, em 1982, nosso amigo comum, Nilson de Oliva Cesar, o saudoso Pixoxó, havia marcado aquele jantar para conversarmos.
Jantamos e conversamos até meia-noite. Uma conversa fácil, agradável, carinhosa, cheia de infâncias e lembranças.
Ele havia estudado no internato do Colégio Taylor-Egídio, de minha pequenina cidade de Jaguaquara, quando eu chegava de Salvador nas férias, de batina.
Era de Ipiaú, ali perto, as famílias ligadas por casamentos. Fizemos um levantamento sobre a situação política baiana. Ele tinha absoluta certeza da eleição. E nenhum receio das brigas dentro do PDS.
***
SENHOR DO BOMFIM
Já falava com pose, gestos, palavras e sotaque de governador:
- Nery, a liderança do Antonio Carlos é tão forte no partido que superará tudo. O Jutahy quer um pedaço do poder. Darei. O Luis Viana quer voltar para o Senado. Voltará. O Lomanto quer ficar em evidência. Ficará, tem mais quatro anos de Senado. O Prisco Viana ainda é muito verde para o governo. Minha eleição é uma coisa do destino, Nery.
Como ele era evangélico, brinquei:
- Você já perguntou ao Senhor do Bonfim?
Deu uma gargalhada. Não tinha perguntado.
Dias depois, meu amigo Cleriston Andrade morria de helicóptero na serra do Marçal, entre Conquista e Itapetinga, um mês antes das eleições.
###
SÃO PAULO
São Paulo, o maior jornalista de todos os tempos, indagava:
- “Onde está, ó morte, a tua vitoria”?
Sempre está quando morre alguém perto de nós. Ficamos derrotados. E quanto mais absurda a morte, mais impotentes e arrasados nos sentimos.
Sabia é a Igreja Católica que, bem antes dos quinze anos, toda manhã, no inesquecível Seminário de Santa Tereza, em Salvador, nos punha a ouvir quinze minutos de leitura e meditar outros quinze minutos sobre o livro “Sete Meditações Sobre a Morte”, de Santo Afonso Maria de Ligorio.
Um guarda enorme, bruto e violento, sempre armado, estava espancando presos, que se reuniram e encarregaram Agildo de falar com ele para dar um basta.
Na hora da chamada matinal, todos no pátio, Agildo, baixinho, mãozinha miúda, deu dois passos à frente, ficou algum tempo parado diante do brutamontes, pôs o dedo no nariz dele e disse que, na primeira vez em que ele batesse em um preso, iria matá-lo em público.
O guarda ficou parado, imóvel, arregalou os olhos e pumba!, caiu duro. Começou o corre-corre. Chamaram o médico do presídio.
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AGILDO
Antes dele, chegou chorando a mulher, gritando desesperada:
- Meu amor. Não morra! Você não pode morrer! Não me deixe!
Punha a mão nos olhos, no coração, pegava o pulso, conferindo. Chegou o médico. Não adiantava mais nada. A mulher gritava:
- Doutor, me diga. Ele morreu mesmo? Não é só um desmaio?
- Não, minha senhora. Morreu. Não há mais o que fazer.
A mulher ajoelhou-se, enfiou os dedos nos olhos dele, convenceu-se de que ele estava mesmo morto e se levantou, sorrindo histérica:
- Graças a Deus, doutor! Ele está morto mesmo! Morreu tarde! Isso era um bandido. Um canalha. Me batia, quase me matava todo dia. Morreu tarde. Todo poderoso, todo valentão um dia se acaba!
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CLERISTON
Cleriston Andrade chegou ao hotel da Bahia às oito da noite em ponto. Candidato do PDS a governador da Bahia, em 1982, nosso amigo comum, Nilson de Oliva Cesar, o saudoso Pixoxó, havia marcado aquele jantar para conversarmos.
Jantamos e conversamos até meia-noite. Uma conversa fácil, agradável, carinhosa, cheia de infâncias e lembranças.
Ele havia estudado no internato do Colégio Taylor-Egídio, de minha pequenina cidade de Jaguaquara, quando eu chegava de Salvador nas férias, de batina.
Era de Ipiaú, ali perto, as famílias ligadas por casamentos. Fizemos um levantamento sobre a situação política baiana. Ele tinha absoluta certeza da eleição. E nenhum receio das brigas dentro do PDS.
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SENHOR DO BOMFIM
Já falava com pose, gestos, palavras e sotaque de governador:
- Nery, a liderança do Antonio Carlos é tão forte no partido que superará tudo. O Jutahy quer um pedaço do poder. Darei. O Luis Viana quer voltar para o Senado. Voltará. O Lomanto quer ficar em evidência. Ficará, tem mais quatro anos de Senado. O Prisco Viana ainda é muito verde para o governo. Minha eleição é uma coisa do destino, Nery.
Como ele era evangélico, brinquei:
- Você já perguntou ao Senhor do Bonfim?
Deu uma gargalhada. Não tinha perguntado.
Dias depois, meu amigo Cleriston Andrade morria de helicóptero na serra do Marçal, entre Conquista e Itapetinga, um mês antes das eleições.
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SÃO PAULO
São Paulo, o maior jornalista de todos os tempos, indagava:
- “Onde está, ó morte, a tua vitoria”?
Sempre está quando morre alguém perto de nós. Ficamos derrotados. E quanto mais absurda a morte, mais impotentes e arrasados nos sentimos.
Sabia é a Igreja Católica que, bem antes dos quinze anos, toda manhã, no inesquecível Seminário de Santa Tereza, em Salvador, nos punha a ouvir quinze minutos de leitura e meditar outros quinze minutos sobre o livro “Sete Meditações Sobre a Morte”, de Santo Afonso Maria de Ligorio.
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