"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 25 de outubro de 2012

O BALILLLA DO MENSALÃO

 


Na época Genova estava ocupada pelos austríacos. Era o dia 5 de dezembro de 1746, Balilla vagabundeava pela orla marítima, quando viu soldados austríacos que estavam humilhando um seu conterrâneo, tomado de súbita fúria, jogou um pedra nos militares e olhando para o povo que o observava, perguntou em dialeto local “che linse?”; “Começo eu?”.

Esta foi a centelha que inflamou uma insurreição tão violenta que em apenas 5 dias a população havia expulsado os austríacos de toda Gênova.

A condenação dos mensaleiros brasileiros, tal qual na Itália também teve seu Balilla, o tempo para levar os criminosos para a condenação, demorou bem mais tempo, mas ele fez o primeiro e significativo gesto de revolta contra os criminosos de mensalão. Infelizmente não pode ver sua vitória, pois morreu em circunstâncias, duvidosas tal qual, mudando o que deve ser mudado, aconteceu ao prefeito de Santo André (SP) Celso Daniel (1).

O nosso Balilla era o escritor Ives Hublet e na época tinha 67 anos, o fato aconteceu no dia 29 de novembro de 2005. Ele estava em uns dos corredores da Câmara dos Deputados Federais em Brasília, distribuíndo livros infantis em salas, quando viu o ex-ministro da Casa Civil e deputado federal José Dirceu sendo entrevistado na imprensa sobre o dia da véspera em que a Câmara deveria cassar o mandato por estar envolvido no Mensalão.

Depois do Dirceu dar risadas sobre o caso, Yves Hublet, revoltado com isso, se aproximou e levantou a bengala, bateu três vezes no Dirceu (duas na cabeça e uma nas costas).

Yves Hublet foi preso na hora pela Polícia da Câmara e levado à Polícia Militar e José Dirceu registrou o boletim de ocorrência contra o escritor por agressão.
Na noite, o caso da agressão teve repecussão nacional e manchete em telejornais e capas de jornais no dia seguinte.

A 30 de novembro, a Câmara iniciou o processo de cassação do mandato, o que ocorreu no início da madrugada do dia 1° de dezembro quando Dirceu perdeu seus direitos políticos por 8 anos.

A simples cassação de José Dirceu, não corresponde ao prejuízo moral e material que causou ao país. Todavia a pena imposta ontem ao operador do mensalão Marcos Valério, não poderá deixar José Dirceu fora da cadeia, pelo simples fato que o primeiro agia sob suas ordens.
Se Dirceu não for encarcerrado, será melhor que o país feche para balanço.

(1) Fotomontagem: Ives Hublet e o monumento ao Balilla.

25 de outubro de 2012
Giulio Sanmartini.

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