"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 25 de outubro de 2012

ONDE ESTÃO OS BENS REVERSÍVEIS DO ANTIGO SISTEMA TELEBRAS?

 

Nos últimos anos, os ministérios do Planejamento e das Comunicações, a Anatel e o BNDES têm sido pródigos com as empresas privadas de telefonia, concedendo empréstimos de bilhões de dólares a juros subsidiad os para multinacionais como a Vivo. Apesar disso, ou exatamente por isso, elas continuam enviando para o exterior, todos os anos, bilhões de dólares e de euros em remessas de lucro.


Privataria explícita

Segundo informa a jornalista Mariana Mazza, do portal especializado Teletimes, alguns setores do governo estariam pretendendo “flexibilizar” as normas contratuais, a fim de que as operadoras, continuem usufruindo e, provavelmente, alienando os bens que devem voltar às mãos do Estado em 2025.

Na última sexta-feira, a Anatel finalmente divulgou, com 14 anos de atraso, uma lista desses bens, que pertencem a todos nós, cidadãos brasileiros. Quando houve a privatização do Sistema Telebrás no Governo FHC o BNDES, que leiloou a empresa, nem a Anatel, se preocuparam em levantar o que constituía e quanto valiam esses ativos.

Agora, quando se divulga a lista, por pressão da sociedade, ficamos sabendo que a lista foi elaborada com informações encaminhadas livremente pelas próprias empresas, o que lhes permitiria – em tese – manipular e distorcer os dados, assim como o histórico e o valor de cada propriedade.

Ninguém sabe dizer quanto valem esses bens, cuja descrição ocupa, até agora, cerca de 360.000 páginas. A quantia poderá variar, segundo Mariana Mazza, entre 17 e 80 bilhões de reais. Há ainda denúncias de que parte desse patrimônio já foi alienada a terceiros, de forma sub-reptícia.

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PROMISCUIDADE

Com a indicação – até mesmo no Governo Lula – de gente que participou ativamente da privatização do Sistema Telebrás para o conselho da Anatel ( e com a presença de antigos dirigentes dessa agência no comando de operadoras estrangeiras, como ocorre com a própria Vivo), a área de telecomunicações transformou-se no paradigma da promiscuidade entre os interesses “públicos” e privados em nosso país.

É preciso que uma auditoria, independente da Anatel e das teles, levante, com base em documentos da época, os bens que compunham o patrimônio da antiga Telebrás. Se algo foi indevidamente vendido pelas operadoras desde a privatização, que se indenize o Estado, com as atualizações necessárias e, se for o caso, que se mova contra os responsáveis o devido processo criminal.

Melhor seria que não esperássemos mais 13 anos, e que o Estado recuperasse, já, o patrimônio transferido de forma irresponsável aos particulares. E, a partir de 2025, se houver coragem e sensibilidade estratégica, é preciso fazer com que esse patrimônio retorne à Telebrás, para dar-lhe dimensão adequada a concorrer plenamente com as multinacionais em nosso território.

Quem sabe, se isso vier a ocorrer, o consumidor brasileiro possa contar, finalmente, com um instrumento de regulação de fato do mercado nacional de telecomunicações.

25 de outubro de 2012
Mauro Santayana
 

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