"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 13 de novembro de 2012

AEIOU: POR QUE UMA TELE INATIVA INTERESSA A NEXTEL

 
Uma pequena operadora de telefonia celular, endividada, inativa e considerada falida pelo mercado está na mira da Nextel como uma opção estratégica de aquisição para ganhar competitividade nos serviços de terceira geração.
Envolta em um cenário político sob acusações de favoritismo que envolvem a ex-chefe da Casa Civil, Erenice Guerra, a Unicel, antiga aeiou, foi desativada sem nunca ter decolado. Agora, aguarda a aprovação de anuência prévia da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para ser vendida para a Nextel.
O que está em jogo não são os ativos da tele, com licença para atuar na área metropolitana de São Paulo. Com apenas 13 mil clientes, a empresa endividou-se com a Anatel para comprar a banda E (15 MHz + 15 MHz na faixa de 1,8 GHz) em 2007, e, mais tarde, uma faixa de extensão de 2,5 MHz + 2,5 MHz na faixa dos 900 MHz, por cerca de R$ 15 milhões.
A companhia também contraiu dívidas com a Huawei, fornecedora da infraestrutura de rede. O valor total da dívida não é conhecido.
A importância da Unicel está justamente nas faixas adquiridas. As operadoras de serviços móveis disputaram em leilão neste ano as faixas de 2,5 GHz para oferta de 4G e ainda tiveram de levar como obrigação as de 450 MHz, mais indicadas para áreas remotas. No caso da Unicel, não existe essa imposição. A Nextel não adquiriu licença de 2,5 GHz no leilão.
"A Nextel não pagou uma fortuna por 2,5 GHz, como as demais teles, e consegue o espectro comprando a aeiou", disse Arthur Barrionuevo, economista e especialista em telecomunicação pela EAESP/FGV.
O negócio vem sendo analisado pela Nextel há mais de um ano, disse ao Valor o vice-presidente da empresa, Alfredo Ferrari. Foi a primeira vez que o executivo falou sobre o assunto. Nesse período, afirmou, foram feitas auditorias, avaliações jurídicas e negociações com credores.
Ferrari não entrou em detalhes sobre como seriam usados os espectros, caso a compra seja aprovada. "Cada empresa tem sua estratégia, umas querem ir para 4G, outras querem ficar em 3G. Mesmo se adquirir a Unicel, a Nextel ficará com menos faixas de frequência que as demais operadoras, disse o executivo.
Em 2010, a Nextel comprou a banda M, de serviços móveis, para atuar no Rio de Janeiro e nas regiões Norte e Nordeste. "É natural também buscar a faixa de 1,8 MHz na região metropolitana de São Paulo, disse Ferrari. O executivo não informou o valor da proposta feita pela Unicel, que corre sob sigilo da Anatel.
A Unicel chegou a anunciar investimento inicial de R$ 250 milhões para colocar 230 sites em operação, em 2008. A meta era atingir 500 mil clientes em um ano, mas o número não passou de 20 mil.
A Anatel não vai se manifestar oficialmente. Fontes do órgão, contudo, informaram ao Valor que no prazo de até 60 dias a agência deverá julgar a caducidade das licenças da Unicel. Caso haja parecer favorável à perda da licença, ficaria "inócuo" o pedido de anuência para compra pela Nextel.
Os dois processos são analisados de forma autônoma. Quanto à anuência, a Anatel tem dúvidas jurídicas sobre a transferência de controle, já que as duas empresas detêm licenças em São Paulo.
Para o presidente da consultoria Teleco, Eduardo Tude, o processo de devolução de licenças é longo e o prazo não estaria vencido para a Unicel.
Ferrari não quis comentar as denúncias sobre a Unicel.
Ivone Santana | De São Paulo Valor Econômico
(Colaborou Rafael Bitencourt, de Brasília)
13 de novembro de 2012

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