"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 13 de novembro de 2012

GANGUE DE LULA CONDENADA NO STF É MANCHETE NA MÍDIA INTERNACIONAL

 
Jornais estrangeiros tratam condenação de Dirceu como caso histórico. ‘Financial Times’ e ‘New York Times’ ressaltam cultura da impunidade no país antes do mensalão


Manchete do ‘Financial Times’: mensaleiros brasileiros vão para a prisão
Foto: Reprodução
Manchete do ‘Financial Times’: mensaleiros brasileiros vão para a prisãoReprodução
Jornais do mundo todo trataram a condenação do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu na segunda-feira como uma medida marcante da Justiça brasileira contra a impunidade. O “New York Times” repercutiu a sentença de prisão de dez anos e dez meses do ex-ministro da Casa Civil em uma reportagem de seis colunas em sua versão impressa.

Segundo a publicação, trata-se da mais dura condenação por corrupção contra um político do alto escalão do governo no Brasil. No entanto, o “Times” se mostra cético quanto à permanência de políticos na prisão no Brasil.
“É muito raro no Brasil um político do alto escalão passar muito tempo na prisão por corrupção ou outros crimes”, conclui o jornal.

José Dirceu é descrito como uma das figuras mais poderosas do governo do Partido dos Trabalhadores. Segundo o jornal americano, ele foi condenado a quase 11 anos de prisão “por orquestrar um vasto esquema de compra de votos que abalou o sistema político brasileiro”.

O jornal reproduziu a opinião do professor de Direito da FGV Thiago Bottino, que também é consultor do GLOBO na cobertura do julgamento: “A extensão da sentença para um político influente e a mera possibilidade de ele cumprir parte da pena na prisão, antes de receber liberdade condicional, atua como um precedente histórico na cultura política do país em que a impunidade em casos de corrupção que tradicionalmente prevalece”.

O jornal americano noticiou ainda a condenação de José Genoino e ressaltou que “falta ver ainda se os condenados vão realmente para a prisão e quando”, pois a defesa ainda vai tentar protelar o cumprimento da sentença.

O “Financial Times” destacou que a decisão do Supremo Tribunal Federal abriu um precedente no país, cujas elites agem frequentemente com a certeza da impunidade.

“O caso está sendo considerado como um divisor de águas em um país onde os políticos e as elites são acusados de usar um sistema jurídico ineficiente para agir com impunidade”, escreveu o “Financial Times”. “O Brasil tem uma longa e pitoresca história de políticos que cometem crimes e escapam da punição, com a Suprema Corte condenando nenhum até esse caso”, acrescenta.

O jornal cita o ex-presidente Fernando Collor, “que hoje é senador apesar de ter sofrido impeachment por por corrupção”, e o pai dele, Arnon Mello, “um senador que assassinou outro senador na Casa em 1963 e nunca foi punido pelo crime”.

O “Financial Times” encerra matéria dizendo que o ex-presidente Lula insiste que não sabia de nada sobre o esquema.

A rede de televisão inglesa “BBC”, em seu site, também noticiou a condenação com destaque: “a sentença foi vista por muitos no Brasil como evidência de que políticos não estão imunes a punições”. A reportagem também repercute a nota divulgada por Dirceu em seu blog, em que o ex-ministro classifica a sentença como “injusta”. “O ex-ministro sustentou que o esquema nunca existiu e acusou a imprensa conservadora do Brasil de uma campanha contra o governo de esquerda”.

O periódico alemão “Tageszeitung”classifica o julgamento do mensalão como “o maior processo contra a corrupção da história do Brasil”. O jornal sustenta que Dirceu não deve passar os dez anos da sentença na cadeia e noticia que o advogado de Dirceu já articula “embargos contra a condenação”.

O espanhol “El País” reforçou a ligação de Dirceu com Lula e Dilma e reproduziu grande parte da sustentação do voto do ministro relator Joaquim Barbosa. O jornal também reproduziu o bate boca entre Barbosa e o ministro revisor, Ricardo Lewandowski. “O magistrado Lewandowski, que anteriormente havia absolvido Dirceu, acusou Barbosa de surpreender o tribunal com o expediente do dia”, noticiou o periódico sobre a decisão de Barbosa de definir as penas do núcleo político antes do financeiro.

Na França, o “Le Monde” chama Dirceu de “advogado, economista, ex-líder estudantil, ex-comunista, ex-guerrilheiro e ‘eminência parda’ do governo Lula”. O jornal lembra que o mensalão “quase custou a reeleição de Lula em 2006, embora ele tenha sido considerado inocente pelo tribunal”.

13 de novembro de 2012
O Globo

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