A taxa de inflação teima em persistir num patamar incômodo. A mudança promovida pelo governo no conjunto de preços macroeconômicos para recuperar a competividade da indústria e reduzir o custo do capital - taxa de câmbio menos apreciada e taxa real de juros Selic menor -, não têm promovido estímulos esperados nem mesmo nas expectativas.
Medidas de desoneração tributária, redução nas taxas de juros, redução no custo de energia e outras de proteção à indústria nacional produzem resultados pontuais, fundamentais no curto prazo para evitar uma recessão e promover a recuperação. No entanto, seus efeitos sobre o crescimento são a médio prazo.
O conjunto não trivial de medidas de estímulo tomadas pelo governo afeta mais a demanda no curto prazo, que não é o nosso problema central, particularmente no setor de serviços.
O problema central é que não há resposta adequada da indústria, setor vital para o crescimento. O nível de emprego e a folha de pagamento real caíram neste ano no acumulado até setembro, e tanto a participação no Produto Interno Bruto (PIB) como a produtividade também vêm declinando. Os investimentos e o saldo comercial também.
Os estímulos pontuais e de curto prazo não repercutem nas expectativas de longo prazo
Paradoxalmente, mesmo neste quadro de contração da indústria, os seus custos continuam subindo, o salário real médio aumentou 4% de janeiro a setembro, a despeito da queda de 3,5% da produção no mesmo período. Apesar da depreciação da taxa de câmbio, as importações continuam de vento em popa, mas com custos mais elevados.
O que se depreende é que está havendo uma óbvia redução na margem de lucro da indústria. Em contraste com esse quadro de retração na indústria, o setor de serviços vem ampliando o nível de emprego em 3,5%, de janeiro a setembro deste ano em relação ao ano anterior.
O salário médio vem aumentando 8,1%, acima da inflação no mesmo período, com forte pressão nos custos. Por ser um setor não comercializável não sofre competição externa como a indústria, repassa os custos aos preços acelerando a inflação, que vem se mantendo persistentemente em nível preocupante e próximo a 9%.
O quadro descrito acima pede uma parada para repensar. Afinal, nem as mudanças na política macroeconômica pró-crescimento, nem as medidas sucessivas de incentivos tributários e creditícios estão provocando reações, no médio prazo, na indústria, para acelerar o crescimento econômico.
Mais do que isso, as medidas de estímulo afetam a demanda agregada no curto prazo, mas em grande parte estão beneficiando o exterior e elevando os preços dos serviços, pois o setor de serviços responde, mas a oferta da indústria é incapaz de atender aos estímulos mencionados.
Das muitas explicações plausíveis duas são imediatas.
Primeiro, que o quadro de deterioração e perda de competitividade da indústria brasileira é muito maior que imaginávamos.
Alguns dados sobre a estagnação da produtividade, pressão nos custos, particularmente da energia elétrica e transportes e elevação na carga tributária somada ao "custo Brasil" indicam que as medidas de estímulos, a depreciação cambial e redução nos juros nem de longe conseguem compensar as perdas sofridas pelo setor nos últimos anos.
Significa que são necessárias medidas mais fortes e profundas que revertam a dinâmica perversa em que atolou a indústria brasileira. De fato, instalou-se um círculo vicioso de pressão de custos e queda da produtividade e das margens de lucro.
Neste quadro, os estímulos pontuais e de curto prazo não repercutem nas expectativas de longo prazo que deprimem os investimentos. É preciso repensar a economia brasileira, estendendo o horizonte temporal, com um planejamento estratégico de longo prazo, reformando e reestruturando e definindo claramente o papel que cabe ao estado.
No atual cenário de crise financeira global, este último aspecto se tornou fundamental. Sem uma reforma do estado, melhorando a sua competência técnica, que é hoje absolutamente medíocre, melhorando a eficiência de seus serviços e desonerando, tanto do ponto de vista tributário como em custos de transação, o setor privado dificilmente terá o horizonte desanuviado e disposto a elevar a taxa de investimento na magnitude que necessitamos.
Se estas reformas não forem executadas, permaneceremos no medíocre crescimento médio da última década de pouco mais de 3%.
A segunda explicação para o quadro paradoxal se refere à falsa exuberância do setor de serviços em contraste com o retrocesso na indústria. Aqui, a taxa real de câmbio apreciada por longos anos promoveu a substituição da produção nacional pelas importações, desindustrializou o país, provocou enormes pressões de custos e reduziu a margem de lucro e o estímulo aos investimentos.
Afinal, hoje se impõe os efeitos de um longo período com um preço relativo (taxa de câmbio) desfavorável para o setor industrial de bens comercializáveis e favorável aos serviços.
O que mais poderíamos esperar?
Afinal, os preços relativos são determinantes fundamentais da dinâmica dos mercados.
13 de novembro de 2012
Yoshiaki Nakano, mestre e doutor em economia pela Cornell University. Professor e diretor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (EESP/FGV). Ex-secretário da Fazenda do governo Mário Covas (SP).
Yoshiaki Nakano, mestre e doutor em economia pela Cornell University. Professor e diretor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (EESP/FGV). Ex-secretário da Fazenda do governo Mário Covas (SP).
PT usa juiz espanhol expulso da magistratura para sustentar que a pena dos seus bandidos é injusta. Partidinho fora da lei!
ResponderExcluirBaltasar Garzon, juiz espanhol corrupto, que foi expulso da magistratura, foi usado como referência pelo PT para tentar esculhambar o Joaquim Barbosa e os demais ministros do STF. É um partidinho fora da lei de cabo a rabo. Veja a notícia:
http://www.coturnonoturnoblogspot.com