Fatia de inadimplentes com débitos superiores ao total da
renda subiu de 58,6% do total em 2011 para 62,1% este ano
Cresceu neste ano a
fatia de brasileiros inadimplentes com dívidas que superam 100% da sua renda.
Entre janeiro e setembro deste ano, 62,1% dos inadimplentes do banco de dados da
Serasa Experian deviam mais que a totalidade dos seus rendimentos, ante 58,6%
dos devedores que estavam nessa condição em igual período de 2011.
O avanço do número
de inadimplentes com comprometimento extremo da renda ocorre apesar de a
recuperação ter batido recorde este ano. De acordo com outra pesquisa também da
Serasa Experian, 16 milhões de consumidores renegociaram todas as pendências
financeiras entre janeiro e outubro deste ano, um volume 16,3% maior que em
igual período de 2011.
De janeiro a
setembro, essa marca era menor: 15,1 milhões de CPFs (Cadastro de Pessoa Física)
deixaram a lista de calote, o que representou um acréscimo de 13,7% na
comparação com os mesmos meses de 2011. "O movimento de aumento da recuperação
do nome das pessoas físicas deve continuar", prevê Maria Zanforlin,
superintendente de serviços ao consumidor da Serasa Experian.
Mas o assessor
econômico da Serasa Experian, Luiz Rabi, alerta que a inadimplência deve demorar
para cair, apesar de todo avanço nas renegociações. "Isso deve ocorrer 2013, até
o primeiro semestre, no mínimo", diz ele.
A resistência da
inadimplência do consumidor em níveis elevados, como mostram os dados do
relatório de crédito do Banco Central, ocorre, segundo Rabi, porque a atual
crise do calote reflete o boom do crédito ocorrido em 2010, que elevou o estoque
de dívidas não pagas. "Das outras vezes a inadimplência era resultados de
questões cíclicas, como alta da taxa de juros, era um problema de fluxo que
passava rápido", compara.
Na sua avaliação,
calote só não aumentou porque os novos créditos estão sendo concedidos
observando critérios mais rigorosos. "A água limpa que está entrando no lamaçal
ainda é pouca, por isso a inadimplência vai demorar para cair." Ele ressalta que
os cinco maiores bancos reconheceram no terceiro trimestre deste ano prejuízos
com calote de R$ 18 bilhões, um acréscimo de cerca de 20% na comparação com
igual período do ano passado.
Décimo terceiro. Mas
o esforço para "limpar o lamaçal", isto é, renegociar dívidas e reconhecer
prejuízos, não significa um grande impulso para as compras de fim de ano.
Pesquisa anual da consultoria Deloitte, com 750 pessoas de todas as classes
sociais entre os dias 1º e 8 de novembro, revela que a cautela no uso do 13º
salário predomina entre ricos e pobres.
Entre 40% e 43% dos
consumidores das classes C, D e E pretendem usar o 13º salário, cuja primeira
parcela será paga hoje, para quitar dívidas. Já entre as classes de maior renda,
A e B, o destino principal desses recursos extras será a poupança. As compras,
para todas as classes aparecem em segundo plano.
"Isso não significa
que o brasileiro vá deixar de comprar no Natal", pondera Reynaldo Saad, sócio
líder da área de varejo da Delloite e responsável pela pesquisa. A sua
interpretação é a que a taxa de crescimento das vendas neste Natal será menor
que a de 2011, até porque a intenção de gasto caiu 30% neste ano.
O nível de emprego e
de renda elevados e a forte renegociação de dívidas podem parecer contraditórios
com a maior cautela por parte do consumidor, diz Saad. Mas ele explica que o
fator que está pensando hoje é o elevado comprometimento da renda.
MÁRCIA DE CHIARA
O Estado de S.
Paulo
30 de novembro de 2012
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