10,9,8,7...? TESOURO JÁ BANCA 51% DOS EMPRÉSTIMOS DO BNDES
Impulsionado por
financiamentos gigantes como o da hidrelétrica de Belo Monte, o maior para um só
projeto da sua história (R$ 22,5 bilhões) e também sua maior participação como
financiador no valor total de um mega investimento (78%), o BNDES depende cada
vez mais dos empréstimos que lhe vêm sendo feitos pelo Tesouro Nacional para
atender a demanda.
Um levantamento
feito pelo Valor mostra que desde o primeiro empréstimo do Tesouro em janeiro de
2009 até agora, os repasses responderam por mais da metade - 51,4% - dos
desembolsos totais de R$ 538,2 bilhões feitos pelo banco estatal no período.
Dos R$ 285 bilhões
que o Tesouro foi autorizado a emprestar ao banco de fomento no período, R$
250,2 bilhões já foram sacados que, somados ao retorno dos financiamentos já
feitos alcançam R$ 276,6 bilhões, contra R$ 265,5 de recursos ordinários do
banco usados para financiar a produção. As fontes convencionais de financiamento
do BNDES são o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), o retorno dos seus
financiamentos e captações externas.
No documento em que
presta contas do uso dos recursos repassados pelo Tesouro - e que é encaminhado
trimestralmente ao Congresso nacional - o BNDES argumenta que os empréstimos
totais de R$ 276 bilhões possibilitaram um investimento total superior a R$ 374
bilhões e foram responsáveis pela manutenção ou geração de 8,6 milhões de
empregos.
Nas contas da
instituição, 2 milhões de empregos foram garantidos de forma direta, outros 2,1
milhões por efeito indireto e 4,5 milhões decorreram do chamado efeito-renda,
resultando do consumo adicional gerado pelas demais contratações. Em função da
renda extra, o setor de comércio foi o que mais contribuição para o
fortalecimento do mercado de trabalho em decorrência dos repasses do BNDES, com
1,2 milhão de postos de trabalho mantidos ou gerados.
As transferências do
Tesouro ao BNDES surgiram em 2009, no auge da crise internacional desencadeada
pelo estouro da bolha imobiliária americana, como alternativa para que o banco
pudesse dar sustentação à política anticíclica adotada pelo governo para evitar
uma contaminação mais profunda da crise sobre a economia brasileira.
A Medida Provisória
nº 453, de 22 de janeiro daquele ano, transformada em lei pelo Congresso
Nacional em 16 de junho do mesmo ano, autorizou o primeiro aporte, de R$ 100
bilhões.
A remuneração
inicial era pela Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) mais 2,5% ao ano, números
que foram alterados em operações posteriores, até chegar a TJLP simples na
maioria. Novas autorizações se seguiram à primeira até os números de hoje,
segundo os quais o BNDES tem disponíveis para saque R$ 30 bilhões. O último
saque, de R$ 10 bilhões, foi em junho deste ano.
Os repasses do
Tesouro permitiram que os empréstimos do BNDES nos 45 meses de suporte do
Tesouro (período entre janeiro de 2009 e setembro deste ano) fossem 65% maiores
que os R$ 327,4 bilhões desembolsados pela instituição nos seis primeiros anos
de governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003 a 2008). Os
desembolsos quase dobraram em dois anos a partir da decisão governamental,
passando de R$ 90,9 bilhões em 2008 para R$ 168,4 bilhões em 2010.
O balanço
encaminhado ao Congresso Nacional referente ao terceiro trimestre de 2012 mostra
que 63% dos recursos repassados pelo Tesouro de 2009 até setembro deste ano
foram utilizados pelo BNDES para financiar empresas de grande porte. O número é
ligeiramente menor do que a participação das grandes empresas nos financiamentos
totais do banco no mesmo período que alcança 68%.
De 2003 a 2008 a
participação das grandes empresas nos desembolsos totais do BNDES foi de 74,6%,
uma média que se manteve em 2009 (85,5% do total) e 2010 (70,2%). Em 2011 e nos
nove primeiros meses deste ano houve uma queda substancial da participação anual
das grandes empresas nos desembolsos do banco estatal, para 57,7% e 58,3%,
respectivamente.
Em parte, essa queda
foi influenciada por uma mudança da classificação das empresas por porte que
aparece nas estatísticas do banco a partir de 2010. Com o objetivo de adequar
suas estatísticas ao perfil das empresas, o BNDES passou a usar o conceito de
empresa média-grande, cujo faturamento operacional bruto vai de mais de R$ 90
milhões até R$ 300 milhões.
O conceito de média
empresa, que ia de mais de R$ 10,5 milhões até R$ 60 milhões passou a abarcar as
empresas que faturam mais de R$ 16 milhões até 90 milhões por ano. A
classificação de grande, que antes abarcava todas aquelas que faturavam mais de
R$ 60 milhões, agora subiu para as firmas que faturam mais de R$ 300 milhões por
ano.
Houve
reclassificação também para as micro e pequenas empresas. Com as mudanças, parte
dos financiamentos que antes eram computados como sendo destinados às grandes
empresas passaram a se encaixar nos conceitos de média-grande e de média
empresa. De 2010 a setembro de 2012 as médias-grandes empresas receberam R$ 19,4
bilhões do BNDES, 3,61% dos desembolsos do banco no período de 2009 a setembro
deste ano.
Os números do BNDES
mostram também que embora o empréstimo aprovado esta semana para a usina de Belo
Monte - um projeto da sociedade formada pelas estatais federais Eletrobras,
Chesf e Eletronorte mais os fundos de pensão de estatais Petros (Petrobras) e
Funcef (Caixa) e ainda as empresas Neoenergia, Cemig, Light, J. Malucelli
Energia, Vale e Sinobras - seja o maior da história para um mesmo
empreendimento, o empréstimo de R$ 25 bilhões contratado pelo banco com a
Petrobras em julho de 2010 ainda é o maior da história, só que destinado a
vários projetos, como o da refinaria Abreu e Lima (Pernambuco), que sozinha
recebeu R$ 9,8 bilhões.
O financiamento à
Petrobras representou na época 55,4% do valor dos investimentos totais previstos
(R$ 45,1 bilhões).
A usina de Jirau, no
rio Madeira, recebeu R$ 9,5 bilhões em duas etapas, somando 60,5% do valor do
investimento.
Santo Antonio,
também no Madeira, recebeu R$ 6,1 bilhões (65,7% do total),
o mesmo que a usina
nuclear Angra 3 (58,6% do total do investimento).
Vale (R$ 7,3
bilhões),
Oi (R$ 4,4 bilhões)
e Vivo (3 bilhões)
também assinaram contratos gigantes com o BNDES, mas para projetos pulverizados.
Os limites de
financiamento às hidrelétricas da Amazônia estavam previamente definidos em
editais divulgados pelo banco estatal e não foram atingidos em nenhum dos três
casos. Em Belo Monte era de 80%.
Chico Santos | Do Rio Valor Econômico
30 de novembro de 2012
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