"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 11 de novembro de 2012

MINHA PROFISSÃO É DIZER O QUE PENSO

 




Em outra novela, “L’engenu”, conta as desventuras de um índio Huron, trazido da América à França e levado às práticas específicas do catolicismo. Indicaram-lhe uma passagem na Epistola de São Tiago que determinava “confessai-vos uns aos outros

Numa capela, o aborígene cumpriu à risca a determinação, mas quando acabou de dedilhar seus pecados, arrancou o abade do confessionário, à força, ocupando seu lugar e dizendo que não sairia dali enquanto o outro não confessasse os dele…

Só esses dois episódios conduzem-nos à mesma contradição que um dia marcou a fundação do PT.
Como explicar, no caso dos companheiros, que um dia tenham sido os donos da ética, críticos de todas as lambanças praticadas pelos demais partidos, e agora apareçam como mensaleiros, ocupantes de milhares de cargos em comissão, gestores de ONGs fajutas que recebem recursos do Tesouro Nacional e herdeiros do Ali Babá?

Da mesma forma, não dá para entender de que maneira os petistas condenam à fogueira montes de tucanos responsáveis pela dilapidação do patrimônio público necessário à preservação da soberania nacional e, de repente, tenham virado neoliberais de carteirinha.

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ARENAS DA INCOMPREENSÃO

Os dias da fundação do PT lembram cada vez mais os primeiros tempos do cristianismo, quando mártires viam-se imolados nas arenas da incompreensão, mas logo tornados senhores que acendiam as fogueiras da intolerância.

Hoje, o partido que seria dos trabalhadores transmudou-se em agremiação dos donos do poder e das verdades absolutas, à espera de um grito de revolta muito parecido com “Ecrasez l’infame”.
A pergunta que se faz, enquanto há tempo, é como reagirão quando a turba cercar a Bastilha? Perderão apenas as propriedades, as mordomias, as benesses e a ocupação do poder? Ou as cabeças, também?

Seria bom meditar quantas barbaridades tem sido cometidas em nome de Deus. Assim como, em nome da justiça social, verificar quantos companheiros transformaram-se em algozes dos princípios fundamentais da liberdade e da democracia.

Para terminar com o mestre François Marie Arouet, o Voltaire, seria bom responder como ele, quando indagado sobre seu modo de vida:
“Minha profissão é dizer o que eu penso…”

11 de novembro de 2012
Carlos Chagas

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