Obra da Ferrovia Norte-Sul completa 25 anos. Após anos de abandono, a obra da ferrovia foi retomada em 2007, em meio a corrupção.
Basta uma visita a Uruaçu para
ver os estragos da corrupção antes e depois da interdição. O cenário é
desolador. O mato toma conta e as enxurradas das chuvas levaram terra e
cascalho, deixando em algumas partes trilhos levitando sobre o leito da
ferrovia. Há também risco ao meio ambiente e à segurança urbana gerados pelos
canteiros abandonados. A linha nova, com modernos dormentes de concreto,
grafados com as marcas Valec e Constran (construtora contratada), e trilhos
importados que enferrujam com a falta de atividade, se contrasta com o claro
descuido em volta.
Uruaçu (GO) – A obra da Ferrovia
Norte-Sul (FNS) -a maior da história do setor no Brasil e essencial para
integrar trilhos de todas as regiões e encurtar o caminho da exportação para
diversos setores da economia- completou 25 anos em 2012. Marcada pelas falhas na
elaboração e na execução do seu projeto e pelos desvios de recursos públicos,
seus trilhos poderiam estar ajudando a reduzir o chamado custo Brasil, gerando
empregos e abrindo frentes de negócios.
Mesmo depois de tanto tempo, o seu longo
traçado original, 1,5 mil quilômetros de Açailândia (MA) à Estrela D’Oeste (SP),
a Norte-Sul teima em não sair do papel e o adiamento de sua operação preocupa
empresários e especialistas. Edson Tavares, superintendente do porto seco de
Anápolis (GO), afirma que diversas indústrias estão prontas para operar com
contêineres vindos do litoral. “A chegada dos trens representaria ainda a
largada para vários investimentos”, completa.
Desde a sua retomada, em 2007, no
segundo mandato do presidente Lula, após quase duas décadas de total abandono, a
União gastou R$ 6 bilhões, que foram insuficientes para torná-la realidade.
Embora tecnicamente próxima da conclusão, a ferrovia que incorporou mais dois
trechos, se estendendo até Barcarena (PI) e Panorama (SP), precisa de revisão em
diferentes partes, sobretudo no trecho goiano.
Agosto de 2009, Lula vistoria
obras da Ferrovia Norte-Sul em Anápolis (GO) na companhia do presidente do Banco
Central, Henrique Meirelles
Com
demoradas paradas sofridas em virtude de escândalos de corrupção desde a
primeira licitação, em 1987, no governo Sarney, ou de trâmites burocráticos, a
obra sofreu um último baque em julho de 2011. Foi quando o engenheiro e político
goiano José Francisco das Neves, o Juquinha, ex-presidente da Valec Engenharia,
estatal responsável pela construção da ferrovia, chegou a ser preso pela Polícia
Federal, na operação Trem Pagador. Ele chefiou a empresa desde o começo da
gestão petista, em 2003, tendo tido salto espetacular no
patrimônio.
Os 680
quilômetros dos cinco lotes oficialmente em construção têm novo prazo para ser
entregue até o fim do próximo ano, quando termina o mandato da presidente Dilma
Rousseff. Até o momento, 15% das obras desse percurso estão
prontas. Com orçamento total de US$ 6,7 bilhões, os trabalhos foram
suspensos por causa dos escândalos do ex-presidente da Valec desbaratados pela
PF e por relatórios do Tribunal de Contas da União de 2010, apontando
superfaturamento em diferentes fases.
DESOLAÇÃO
Preocupada em entregar a “espinha dorsal
do país” ainda em seu governo, Dilma realizou uma faxina na Valec e no
Ministério dos Transportes e aumentou a pressão política para acelerar o
cronograma, sem mais “surpresas”. Ela visitou o ramal de Anápolis e
o município de Goianira em março e avisou que só voltaria para inaugurar “a
chegada do trem”, quando a Norte-Sul estaria operando de fato. Indiretamente,
fazia alusão à repetida inauguração de trechos com apenas trilhos colocados, que
marcou a gestão Lula. A presidente deu a entender que não mais desfilaria em
locomotivas usadas em obras, cercada de políticos e assessores. “Quero ver a
estrada funcionando, do Maranhão até aqui”, sublinhou.
Apesar da vontade da presidente, não há qualquer
movimento da obra desde junho de 2011, pouco antes da prisão do presidente da
Valec, diz um morador local. A cena mais impressionante é a do alojamento de
máquinas da mineira SPA, que estava envolvida na obra com a Constran. Uma fila
de tratores, caminhões e escavadeiras são consumidos pelo tempo. A construtora
não respondeu aos pedidos de entrevista.
Comentário do Jornal dos
Amigos
Como diria Boris Casoy, isso é uma vergonha. A
obra começou no governo Sarney, passou pelos governos Fernando Henrique e Lula,
e continua no governo Dilma ainda sem solução. O transporte via trilhos é um
modal ótimo para a economia por onde a ferrovia transita e excelente para o meio
ambiente. Ótima para economia porque movimenta a produção, a distribuição e o
consumo de bens em seu trajeto. Excelente para o meio ambiente porque a
locomotiva substitui boa parte da frota de caminhões, sendo que a estrada de
ferro não produz camada impermeabilizante como o asfalto. Agora, vamos falar de
nota para a competência? Nota zero para o governo federal pela não continuidade
das obras, tempo decorrido, corrupção e incompetência de gestores. Nota zero
para os gestores de governos estaduais e municipais beneficiados pela ferrovia
que não fazem pressão ao governo federal para o término da obra.
Nota zero para ONGs ambientalistas que também não fazem pressão para
o término da ferrovia e também não exercem fiscalização. Nota zero para a SPA e
a Constran que deixam seus equipamentos caríssimos e instalações se deteriorarem
no tempo.
*Por Sílvio Ribas - O Estado de Minas
08 de janeiro de 2013
in A Direita Brasileira em Ação
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