Nunca foi o forte de Joaquim Barbosa esconder sua vaidade, mas, mesmo que quisesse, não conseguiria fazer isso agora: cerca de 40 mil máscaras do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) foram distribuídas pelo país somente por uma única fábrica, e o adereço já começa a faltar. Há vendedores que dizem que nem Lula, queridinho de outros Carnavais, alcançou esse feito.
O conjunto com a reprodução do seu rosto e uma capa preta semelhante às usadas nas sessões em Brasília custa entre R$ 10 e R$ 12. Naturalmente, é mais valorizado do que as fantasias de José Dirceu, José Genoino e companhia. E, surpreendentemente, tem tiragens maiores do que as do craque Neymar.
Mas o que Joaquim Barbosa fez para justificar tamanha fama entre os foliões? Ministros do STF não são figuras especialmente conhecidas pelos brasileiros. É mais fácil lembrar os nomes de todos os vencedores do "Big Brother" do que os de metade dos membros da Corte. Também não se pode acusá-lo de pegar carona na fama do Judiciário. O Poder ficou em oitavo lugar, atrás da polícia e do governo federal, entre as instituições brasileiras mais confiáveis no último levantamento da Fundação Getúlio Vargas.
CARA LIMPA
O que Barbosa fez foi sustentar o seu trabalho de cara limpa. Isso não é pouco. Máscaras servem para ocultar a inoperância tanto quanto para o Carnaval. Para cumprir as metas fiscais, a equipe econômica do governo fez um truque de prestidigitação no qual uma receita de R$ 13,5 bilhões surgiu diante dos nossos olhos, mas não no caixa.
Outra ilusão foi rolarem dívidas de R$ 200 bilhões do Orçamento de 2012 para este ano. Só os restos a pagar de investimentos, avaliados em R$ 73,5 bilhões, representam quase o dobro do investimento federal do passado (R$ 46,8 bilhões). Fora os mais de R$ 20 bilhões em dívidas não contabilizadas em subsídios para o BNDES ou para o Minha Casa, Minha Vida.
O ministro interino da Fazenda, Nelson Barbosa, garantiu que manobras contábeis "não comprometem a credibilidade" do país. Foge a ele um conceito que nenhum ambulante de churrasquinho no Sambódromo ignora: reputação. O gato que hoje se vende por lebre – ou por boi – será lembrado amanhã.
Com quase 2.000 pedidos de falência no ano passado, com a inadimplência das famílias em alta e com os reservatórios das hidrelétricas mais secos do que estavam no ano do racionamento, o governo federal precisará muito dessa confiabilidade que anda gastando com a prudência de um folião bêbado.
12 de janeiro de 2013
Frederico Duboc
( O Tempo)
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