Injeção de recursos no BNDES ajudou a crescer o endividamento em R$ 600 bilhões em 2 anos . Dívida bruta saltou de 53,4% do PIB, em 2010, para quase 60% no fim de 2012
A estratégia da
equipe econômica de injetar recursos no BNDES para turbinar a economia nos
últimos anos foi uma das principais responsáveis por fazer com que a dívida
bruta do governo saltasse de 53,4% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de
bens e serviços produzidos) em 2010 para quase 60% do PIB no fim de 2012. Isso
representa um aumento de R$ 600 bilhões no período.
Em novembro de 2012,
o total da dívida atingiu R$ 2,6 trilhões, número recorde. A partir do momento
em que o Tesouro Nacional emite títulos para dar ao banco de fomento mais fôlego
para emprestar ao setor privado foram mais de R$ 300 bilhões desde 2008 ele
aumenta seu endividamento.
Segundo analistas
ouvidos pelo GLOBO, a trajetória de alta ainda não traz preocupação, pois o
Brasil tem hoje condições de arcar com seus compromissos. No entanto, é preciso
ter cautela a longo prazo, uma vez que os recursos que o Tesouro repassa ao
BNDES têm um custo de captação maior (variando com a Taxa Selic de 7,5% ao ano)
do que a remuneração paga pela instituição, que varia com a Taxa de Juros de
Longo Prazo (TJLP), que está em 5% ao ano.
O Tesouro emitiu
títulos para que o BNDES pudesse ampliar o volume de recursos destinados a
investimentos. Mas, na prática, não foi o que se viu. Os investimentos vêm
caindo disse o economista da consultoria Tendências Felipe Salto, afirmando que,
mesmo assim, o custo das operações do BNDES atinge R$ 15 bilhões por
ano.
Hoje, não há risco
de insolvência.
Mas a economia
precisa voltar a crescer alertou o ex-diretor do Banco Central Carlos Thadeu de
Freitas.
De acordo com ele, o
governo está usando o BNDES para ajudar o setor produtivo, mas, se a atividade
não mostrar uma recuperação, não haverá retorno para o governo por outros meios,
como o aumento da arrecadação de impostos. Mesmo assim, Freitas destacou que não
há qualquer sinal no mercado internacional de que o Brasil esteja acendendo a
luz amarela:
O prêmio de risco
brasileiro está baixo.
Isso mostra
confiança dos investidores no país.
Dívida líquida fica
em 35% do PIB
Freitas lembrou que o
mais grave seria se o governo estivesse se endividando para arcar com
custeio.
Aí sim, seria um
movimento autofágico afirmou.
Segundo Salto, o
aumento da dívida bruta é reflexo de uma política fiscal expansionista, que
mostra uma tentativa de crescer a qualquer custo. Para ele, a dívida bruta é o
indicador que mostra melhor que as metas fiscais foram abandonadas.
Salto lembrou que a
dívida líquida do setor público indicador que a equipe econômica prefere frisar
para mostrar seu compromisso com o equilíbrio fiscal não mostra todo o impacto
da política expansionista do governo, porque inclui não apenas as operações do
Tesouro para capitalizar o BNDES, mas também o retorno dado pelo banco ao
Tesouro.
A dívida líquida
fechou 2012 em torno de 35% do PIB. Em 2010, era de 39,1%, caindo para 36,4% em
2011.
Além das
capitalizações do BNDES, a dívida bruta foi afetada pela compra de dólares para
aumentar as reservas internacionais e por operações do Banco Central para
reduzir o volume de moeda no mercado.
A opção do governo
pelo expansionismo se transformou na principal regra das finanças públicas disse
Salto.
Os técnicos do
governo afirmam que as capitalizações do BNDES e de outras estatais foram feitas
para incentivar investimentos que vão voltar a crescer. Salto afirma que, embora
elevado, o percentual da dívida não está distante do de outros países
emergentes.
Martha Beck
O Globo
12 de janeiro de 2013
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