Operadores e autoridades do mercado brasileiro de ações ainda estavam lidando, na quinta-feira (10/1), com um problema criado na véspera pela edição digital da revista Veja. No final da tarde de quarta-feira, o portal de notícias Veja.comnoticiou que o Bradesco estaria adquirindo as operações do Banco Santander no Brasil.
Com base em um suposto comunicado enviado aos funcionários do Santander, anunciando que a fusão iria acontecer ainda neste semestre, Veja manteve a informação incorreta como manchete durante 22 minutos, até que os bancos a obrigaram a retirar o texto do ar e publicar um desmentido.
Na manhã de quinta-feira (10/01), o site especializado Infomoneyreproduziu o desmentido de Veja, observando que o equívoco havia provocado “uma euforia no mercado”, resultando numa forte valorização dos papéis do Santander no pregão tardio da Bolsa de Valores do Brasil – o mercado “after hours”, período de negociação que ocorre após o fechamento do pregão regular.
A valorização das ações do Santander chegou perto do teto máximo de oscilação positiva para o período, provocando um movimento atípico para o “after hours”. Para se ter uma ideia do volume provocado pelo erro da publicação, o Infomoney lembra que os papéis do Santander, que costumam ter um volume diário de negociações em torno de R$ 300 mil, chegaram a movimentar R$ 32 milhões após a falsa notícia da fusão com o Bradesco.
Olhando de lado
Segundo fontes do mercado de ações, o erro de Veja.compotencializou boatos de que o Santander teria interesse em negociar suas operações no Brasil para salvar sua matriz europeia, gerando a euforia que elevou artificialmente o valor das ações.
O princípio de crise surgido na quinta-feira só não se alastrou porque a Bovespa, os bancos envolvidos e outros protagonistas entraram em campo para abafar o caso, mas não está descartada a possibilidade de uma investigação para apuração de responsabilidades.
Se o site de Veja afirmou que havia baseado a notícia em e-mails enviados pela direção do Santander aos funcionários, é de se esperar que a revista apresente esses documentos, mesmo que decida preservar suas supostas fontes.
Na manhã de sexta-feira (11/1), a imprensa registra uma situação desigual no balanço do mercado de ações: dos três principais bancos brasileiros, os títulos do Itaú e do Bradesco fecharam em declínio na quinta-feira, enquanto os papéis do Santander se destacavam entre os mais valorizados, além de aparecerem entre os mais negociados na véspera, num contexto completamente atípico.
No entanto, os jornais não se interessaram pelo problema e o público foi informado por sites especializados, como blogs de analistas financeiros e o portal Comunique-se, que noticiou o desmentido de Veja.com,reproduzindo a informação original do site Infomoney.
Erro infantil
A direção de Veja tratou de amenizar os efeitos da “barrigada” por meio de uma nota oficial se desculpando com seus leitores, afirmando que a falsa notícia “trazia no seu próprio enunciado a chave de sua falsidade”, pois, segundo a publicação:
“O texto dizia infantilmente que a negociação da fusão fora informada pela instituição [Santander, N. do A.] a funcionários. Como qualquer pessoa do meio financeiro sabe, uma operação desse tipo tem que ser, por lei, mantida em sigilo e comunicada antes de qualquer outra forma de divulgação à Comissão de Valores Mobiliários (CVM)”.
Foram apenas 22 minutos de exibição da informação falsa, de 17h59 a 18h21 de quarta-feira (9/1), mas os danos podem ter sido grandes para quem comprou ações em alta e vai ficar esperando acontecer a fusão do Bradesco com o Santander para recuperar o investimento.
A estranha simbiose entre os meios tradicionais de comunicação, que faz com que todos eles tratem de dar grande repercussão a escândalos e denúncias sem checar as origens, desta vez funciona ao contrário. Um erro documentado, com desmentidos distribuídos em notas oficiais de dois dos maiores bancos do país, vai ficar por isso mesmo.
Azar dos leitores de Veja.com que, “infantilmente”, acreditaram que dois bancos com ações na Bolsa iriam comunicar oficialmente seu matrimônio por meio de e-mails para funcionários.
12 de janeiro de 2013
Luciano Martins Costa
Observatório da Imprensa
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