A economia brasileira terá mais um ano de crescimento medíocre, segundo as previsões e avaliações do mercado financeiro nacional e da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Se as análises forem confirmadas, em 2013 o Brasil ficará de novo - pelo terceiro ano consecutivo - entre os últimos colocados na corrida global da produção. Em quatro semanas o mercado reduziu de 3,4% para 3,2% a projeção do PIB para 2013, segundo a pesquisa Focus do Banco Central divulgada ontem. O pessimismo afeta igualmente as estimativas para 2014 - em um mês a expectativa de crescimento diminuiu de 3,81% para 3,6%.
No mesmo dia a OCDE apresentou sua pesquisa mensal de indicadores antecedentes, uma coleção de sinais usados para identificação de tendência - itens como encomendas à indústria, construções aprovadas, evolução dos preços das matérias-primas e decisões de política monetária, entre outros dados. Também desse ângulo as perspectivas do Brasil são pouco entusiasmantes e até piores que as de alguns países desenvolvidos e, portanto, mais afetados pela crise financeira e fiscal.
Os indicadores antecedentes publicados pela OCDE referem-se ao mês de novembro. No caso do Brasil, o indicador só avançou 0,01% em um mês, apontando apenas uma "estabilização do crescimento". Até na zona do euro a variação foi maior, 0,06%. Nos Estados Unidos (0,11%) e no Reino Unido (0,2%) os sinais detectados foram de expansão mais firme nos próximos meses.
No terceiro trimestre o PIB americano cresceu em ritmo equivalente a 3,1% ao ano, um resultado invejável para a maioria das economias ricas e até para algumas emergentes. Mesmo um avanço um pouco mais modesto ao longo de 2013 será altamente positivo para os Estados Unidos e para a economia global, se for sustentável. Na China e na Índia, os sinais, de acordo com o levantamento, são de uma virada de tendência, depois de uma desaceleração em 2012.
Na pesquisa Focus, o aumento previsto para a produção industrial brasileira, de 3,24%, é pouco superior ao estimado na semana anterior, 3%, mas bem menor que o projetado quatro semanas antes, de 3,7%. O crescimento esperado para 2014 - 3,6% - também é muito modesto.
As autoridades brasileiras continuam tentando transmitir otimismo aos empresários, investidores e consumidores. Segundo o ministro interino do Desenvolvimento, Alessandro Teixeira, a indústria brasileira iniciou 2013 melhor do que 2012. Alguns indicadores antecedentes, como a venda de papelão ondulado e o fluxo de veículos pesados em rodovias com pedágio, diminuíram de novembro para dezembro e ainda recuaram em relação aos números do ano anterior, mas, mesmo diante desses dados, Teixeira sustentou seu otimismo, falando à imprensa depois da inauguração da feira Couromoda, em São Paulo.
Mas a indústria precisa de um combustível muito mais forte que o otimismo oficial para deslanchar, ganhar velocidade e conquistar posições melhores na corrida global. Em dez anos, segundo a Confederação Nacional da Indústria, a produtividade da mão de obra ficou praticamente estagnada. Cresceu apenas 0,6% ao ano entre 2000 e 2010, contra 6,9% em Taiwan, 6% na República Checa, 5,2% nos Estados Unidos, 4% na Finlândia e 1,2% na Espanha, para citar uns poucos exemplos.
O investimento geral da economia brasileira tem oscilado, nos melhores períodos, na faixa de 18% a 19% do PIB e ainda caiu em 2012. No ano passado, os industriais pouco se arriscaram na compra de máquinas e equipamentos, numa demonstração de insegurança diante das perspectivas da economia.
Além disso, acumularam-se os receios de intervenções desastradas do governo. As autoridades permaneceram empenhadas, de acordo com uma das piores tradições brasileiras, em favorecer empresas e setores escolhidos em Brasília para ser vencedores. Para 2013, o governo promete, até agora, mais do mesmo. É preciso mais que isso para desemperrar a economia.
15 de janeiro de 2013
Editorial do Estadao
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