“O
Brasil é um conjunto vazio que acredita ser o centro do Universo.”
(Ricardo
Bergamini)
Tenho que agradecer a meus pais pela boa educação que recebi. No entanto, a par daquele desígnio típico de classe média em legar a boa educação aos filhos (“é a única coisa que podemos lhes deixar...”), existiu uma falha clamorosa dos dois, uma verdadeira lacuna imperdoável, em relação a esses novos tempos: meus pais não me ensinaram a roubar! Que atrasados!
Fiquei, então, desamparado nesta nova civilização. Não consegui até hoje compreender a cabeça de um Dirceu, um Genoíno, nem a matemática obscura do Dr. Delúbio e de seu operador careca, o Marcos Valério, no dantesco episódio do mensalão!
Não consegui ainda entender como um presidente garantia que não era analfabeto para governar, mas que não sabia de coisa nenhuma do que acontecia de ruim (com hiato, mesmo) sob o seu nariz. Como presidente, sabia de tudo; como cúmplice, foi esfaqueado pelas costas e de nada entendia...
Apesar de não saber roubar, de não conhecer os meandros da Lei nº. 8.666 (que pela centesimal não se perca!), com seus superfaturamentos, aditivos, caixas dois, três e laranjas embutidos – fui finalmente salvo em meu estupor pelo último pronunciamento da senhora presidenta.
Suas palavras soaram-me como pérolas, convencendo-me finalmente de que vivemos no paraíso terrestre. Aquele sorriso contagiante, dizendo-nos que finalmente a conta de luz vai baixar e que não haverá mais apagões, sinceramente fizeram-me experimentar um estado de êxtase!
O país vai muito bem, as cidades em segurança, estradas maravilhosas e sem buracos, a saúde, ora essa então em estado quase perfeito, ferrovias cortando o país de norte a sul, sem propinas nem comissões, o rio São Francisco já transposto, irrigando o sertão, que naturalmente não terá mais seca (que, aliás nem existe).
Ainda bem que nossa presidenta, com sua delicadeza sorridente, esmagou de vez a oposição...
Eu, que não aprendi a roubar, fiquei desconfiado de minha sanidade mental e já estava procurando um hospital psiquiátrico para me internar. Porque só o hospício mesmo para alguém que deseje ser oposição num país tão sublime: a juventude livre do crack e da cocaína, completamente inexistente em subúrbios e periferias. Nossas televisões despejando “bom, bonito e barato” material educativo para milhões! Que lindo é o meu Brasil!
Afinal de contas, temos que concordar que os pobres têm moradia garantida e não ficam pendurados em encostas à mercê das chuvas. Isso é coisa do passado, daquela tal herança maldita, porque os espertos sempre são os primeiros a culpar os outros pelo que lhes convém...
A turma de Brasília querendo eleger um velho senador, aquele mesmo que todos já apontaram!, provando que não adianta mais ser oposição, porque ela não resiste diante da majestade de certos altos interesses...
Meu Deus, não sei roubar – perdoa, por favor...
Meus pais, perdoem-me, fiquei para trás, meio desconectado da moda, mas senti-me salvo pelo discurso meigo e carinhoso de nossa presidenta. Minha conta de luz virá menor. Finalmente estou sendo salvo e ela até me garantiu que passei a fazer parte do rebanho dos conformados, não dos vira-latas que torcem contra o país...
Não precisarei ir para um hospital psiquiátrico como na antiga União Soviética. Deixarei a oposição para quem é pago pra isso e tratarei dos meus afazeres, de pertencer à orgulhosa classe C, nesse imenso país de “classe média”, instituído pela linda e viçosa ditadura, que ora exibe, pavoneada, os orgulhosos frutos.
Não preciso mais de Jeová, Adonai, nem Deus: graças à nossa presidenta, finalmente ingressei no paraíso. E já deixei aqui toda a esperança...
Tenho que agradecer a meus pais pela boa educação que recebi. No entanto, a par daquele desígnio típico de classe média em legar a boa educação aos filhos (“é a única coisa que podemos lhes deixar...”), existiu uma falha clamorosa dos dois, uma verdadeira lacuna imperdoável, em relação a esses novos tempos: meus pais não me ensinaram a roubar! Que atrasados!
Fiquei, então, desamparado nesta nova civilização. Não consegui até hoje compreender a cabeça de um Dirceu, um Genoíno, nem a matemática obscura do Dr. Delúbio e de seu operador careca, o Marcos Valério, no dantesco episódio do mensalão!
Não consegui ainda entender como um presidente garantia que não era analfabeto para governar, mas que não sabia de coisa nenhuma do que acontecia de ruim (com hiato, mesmo) sob o seu nariz. Como presidente, sabia de tudo; como cúmplice, foi esfaqueado pelas costas e de nada entendia...
Apesar de não saber roubar, de não conhecer os meandros da Lei nº. 8.666 (que pela centesimal não se perca!), com seus superfaturamentos, aditivos, caixas dois, três e laranjas embutidos – fui finalmente salvo em meu estupor pelo último pronunciamento da senhora presidenta.
Suas palavras soaram-me como pérolas, convencendo-me finalmente de que vivemos no paraíso terrestre. Aquele sorriso contagiante, dizendo-nos que finalmente a conta de luz vai baixar e que não haverá mais apagões, sinceramente fizeram-me experimentar um estado de êxtase!
O país vai muito bem, as cidades em segurança, estradas maravilhosas e sem buracos, a saúde, ora essa então em estado quase perfeito, ferrovias cortando o país de norte a sul, sem propinas nem comissões, o rio São Francisco já transposto, irrigando o sertão, que naturalmente não terá mais seca (que, aliás nem existe).
Ainda bem que nossa presidenta, com sua delicadeza sorridente, esmagou de vez a oposição...
Eu, que não aprendi a roubar, fiquei desconfiado de minha sanidade mental e já estava procurando um hospital psiquiátrico para me internar. Porque só o hospício mesmo para alguém que deseje ser oposição num país tão sublime: a juventude livre do crack e da cocaína, completamente inexistente em subúrbios e periferias. Nossas televisões despejando “bom, bonito e barato” material educativo para milhões! Que lindo é o meu Brasil!
Afinal de contas, temos que concordar que os pobres têm moradia garantida e não ficam pendurados em encostas à mercê das chuvas. Isso é coisa do passado, daquela tal herança maldita, porque os espertos sempre são os primeiros a culpar os outros pelo que lhes convém...
A turma de Brasília querendo eleger um velho senador, aquele mesmo que todos já apontaram!, provando que não adianta mais ser oposição, porque ela não resiste diante da majestade de certos altos interesses...
Meu Deus, não sei roubar – perdoa, por favor...
Meus pais, perdoem-me, fiquei para trás, meio desconectado da moda, mas senti-me salvo pelo discurso meigo e carinhoso de nossa presidenta. Minha conta de luz virá menor. Finalmente estou sendo salvo e ela até me garantiu que passei a fazer parte do rebanho dos conformados, não dos vira-latas que torcem contra o país...
Não precisarei ir para um hospital psiquiátrico como na antiga União Soviética. Deixarei a oposição para quem é pago pra isso e tratarei dos meus afazeres, de pertencer à orgulhosa classe C, nesse imenso país de “classe média”, instituído pela linda e viçosa ditadura, que ora exibe, pavoneada, os orgulhosos frutos.
Não preciso mais de Jeová, Adonai, nem Deus: graças à nossa presidenta, finalmente ingressei no paraíso. E já deixei aqui toda a esperança...
26 de janeiro de 2013
Waldo Luís Viana é escritor, economista, poeta e ficou impressionado quando leu “A Divina Comédia”...
alerta total
Waldo Luís Viana é escritor, economista, poeta e ficou impressionado quando leu “A Divina Comédia”...
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