"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 26 de janeiro de 2013

JIMMY CARTER NA COLÔMBIA

       
          Artigos - Globalismo 
Sempre vale a pena lembrar das teses e do perfil das pessoas a quem Jimmy Carter costuma dar apoio, bem como dos resultados concretos das iniciativas do seu ‘Carter Center’.

Os esforços para legitimar as FARC avançam, apesar das atrocidades que o bando narcoterrorista continua cometendo cada dia contra os colombianos, e dos anúncios de que ela intensificará seus atentados desde o dia 20 de janeiro.

A visita à Colômbia do ex-presidente Jimmy Carter, e de seus cinco acompanhantes, membros todos, ao que tudo indica, da ONG “Centro Carter”, inscreve-se dentro de uma conjuntura muito curiosa. Obviamente, tais esforços são disfarçados de algum modo.
O presidente Santos assegura que Carter foi à Colômbia para “falar de paz” e para “respaldar o processo” que ele mantém com as FARC, o qual será retomado em 14 de janeiro em Cuba. Mas Carter recusou pronunciar em Bogotá a menor palavra que pudesse ser interpretada como uma condenação da campanha criminosa das FARC.
 
Chama a atenção a nula curiosidade da imprensa colombiana ante os conteúdos reais da visita de Carter. Ninguém diz quem a propôs, se ela foi solicitada por Santos ou se foram os assessores das FARC em Cuba quem lançaram esse libreto. Melhor informada que a colombiana, a imprensa venezuelana acredita saber que o vice-presidente Nicolás Maduro, na ausência do agonizante Hugo Chávez, foi quem propôs essa viagem “para ajudar seu homólogo Santos”.
Ninguém sabe tampouco emerário público colombiano terá que pagar ao Centro Carter pela “investigação acadêmica” que ele quer realizar que consistirão as “iniciativas” que Carter anunciou para “consolidar o processo de paz”, nem quanto o .
O mesmo silêncio guardam o Palácio de Nariño e os meios de comunicação sobre o conteúdo real dos “programas de liderança para a paz” que Carter evocou rapidamente. Ninguém se pergunta que diabos é isso da “cidadania social” que Carter propôs ao ministro do Interior colombiano, Fernando Carrillo.
 
Em todo caso, a visita de Carter anuncia a abertura de um nutrido desfile de “personalidades” que chegarão em 2013 a Bogotá para tratar de lavar a cara das FARC, para que suas vítimas, o povo colombiano, acabe por aceitá-las como elemento central da democracia limitada (bolivariana) que alguns escritórios estão preparando.
 
Há anos que Jimmy Carter deixou de ser visto como um defensor da democracia nos países e territórios onde ela foi abolida ou encontra-se em grave perigo. O ex-presidente norte-americano e sua ONG, por força de jogar com a carta equivocada, se converteram em uma das peças fundamentais da expansão, na América Latina, do socialismo do século XXI.
 
Em 2004, quando a oposição a Chávez denunciou as fraudes maciças cometidas durante o referendo, Carter descartou esse assunto com grande displicência e assim sustentou Chávez no poder. Igual atitude adotou ante as eleições que entronizaram os clientes de Chávez na Bolívia, Nicarágua e Equador. Ante o referendo constitucional de 2008, e ante os escrutínios presidenciais de 2009, ambos no Equador, cujos resultados foram contestados pela oposição durante meses, Carter continuou nessa mesma linha.
 
O Centro Carter se jacta de haver “monitorado” 81 eleições em 33 países (sobretudo da África e do Terceiro Mundo) e de haver contribuído para “resolver conflitos” no Haiti, Bósnia, Etiópia, Sudão e Coréia do Norte. Quando se vê o estado da prostração e tirania em que continuam esses países, a pessoa pode se dar conta da qualidade do trabalho que o Centro Carter faz lá.
 
Ninguém ignora que, entre Fidel Castro e os cubanos de Miami, Carter escolheu o primeiro, contra os segundos, e que ante cada nova eleição de presidente dos Estados Unidos Carter pede o restabelecimento das relações diplomáticas com Havana. Carter pede, sobretudo, que Cuba seja retirada da lista do Departamento de Estado dos Estados que patrocinam o terrorismo. Cuba está nessa lista desde 1982.
 
Carter ostenta o duvidoso privilégio de haver sido o único ex-presidente norte-americano que entrou oficialmente em Cuba desde a tomada do poder dos irmãos Castro em 1959. Sua visita de 2002 suscitou a cólera da comunidade cubana da Flórida. Em abril de 2011, na véspera de um congresso do Partido Comunista Cubano, Carter foi de novo a Cuba.
 
Quanto a Israel, a trajetória do Prêmio Nobel da Paz não é menos sulfurosa. Ele acusa o governo israelense de não procurar a paz com os palestinos e de haver “abandonado” a política dos Estados (israelense e palestino). Carter não tem em conta que Mahmmud Abbas, presidente da Autoridade Palestina (AP), nega-se a aceitar uma solução de dois Estados que não inclua Jerusalém como capital da AP, ponto não negociável para Israel. Abbas foi incapaz de se pôr de acordo com o movimento terrorista Hamas, a entidade palestina que ocupa e dirige com mão de ferro a faixa de Gaza e que expulsou, em um sangrento golpe, há mais de cinco anos, os partidários e representantes de Abbas.
 
Carter não critica as declarações do Hamas de querer a destruição de Israel por qualquer meio. Hamas, cujo centro político encontra-se em Gaza e Damasco, rechaça o direito de Israel existir como Estado. Em abril de 2008, Carter visitou o palestino Kaled Mishal, organizador de inúmeros ataques suicidas, sobretudo contra civis israelenses e norte-americanos. Mishal é dirigente do Hamas e está refugiado na Síria, como hóspede de Bachir al-Assad, o sangrento ditador que recebe apoio militar nesses dias de Irã e Rússia.
 
Essa atitude cega ante o terrorismo não foi um disparate. Em 2010, Carter aceitou se reunir, em um local da Cruz Vermelha de Jerusalém Leste, com três militantes do Hamas que eram acusados por Israel de haver participado no seqüestro, em 2006, do soldado Gilad Shalit. Em um de seus escritos, Carter estimou esse seqüestro como uma “captura”. Israel reprova Carter por ignorar os ataques com mísseis lançados pelo Hamas desde Gaza contra a população civil israelense. Carter pede a Israel que abra suas fronteiras com Gaza para que o Hamas possa importar e exportar o que queira, e ter acesso às águas internacionais, o que permitiria adquirir mísseis ainda mais sofisticados e outras armas.
 
O jornalista Clifford D. May, ex-correspondente do New York Times, diz que durante o mandato de Carter como presidente “o Aiatolá Khomeini capturou o poder no Irã, assaltou a embaixada americana no Irã, tomou nossos diplomatas como reféns e cruzou os braços para constatar que, como resposta, Carter não fez nada efetivo”. “Porém, sejamos justos”, acrescenta May, “Carter não é responsável pela ascensão do islamismo em todas as suas variações malévolas. Não obstante, é responsável por interpretar de forma profundamente equivocada o que esteve acontecendo no mundo durante tantos anos”.
 
Em seu livro Peace Not Apartheid, Carter insulta e lança falsa informações sobre Israel. Insinua que Israel se parece ao extinto regime de Apartheid da África do Sul. “Em vez de ser um defensor dos direitos humanos Carter malogra a causa dos direitos humanos, em especial sobre a guerra permanente dos árabes contra Israel”, diz Michael Goldblatt, um líder da comunidade judaica dos Estados Unidos.
 
Qual será o impacto a curto prazo da visita de Carter à Colômbia? As relações entre a Colômbia e Israel vão sofrer descalabros? A tecnologia eleitoral do chavismo vai ser introduzida na Colômbia pela via do Centro Carter? Que os leitores julguem por eles mesmos, à luz destes fatos.
26 de janeiro de 2013
Eduardo Mackenzie
Tradução: Graça Salgueiro

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