A aceitação brasileira da interpretação chavista dada à Constituição, sobre a posse de Chávez na quinta, marca a volta da diplomacia companheira
Antes de tomar posse, a presidente eleita Dilma Rousseff concedeu a famosa entrevista ao “Washington Post” em que marcou um distanciamento do seu governo em relação à teocracia iraniana dos aiatolás e de Ahmadinejad, tratado pelo ainda presidente Lula como aliado de primeiro grandeza, dentro da estratégia companheira de praticar uma diplomacia terceiro-mundista à la década de 60.
A indicação de Dilma foi dada no contexto da ameaça do regime persa à viúva Sakineh Ashtiani, condenada à morte por apedrejamento, devido a um suposto adultério, pena criticada, corretamente, pela presidente eleita.
Seguiu-se àquela sinalização positiva uma outra, no início do governo, quando o Brasil votou a favor de o Conselho de Direitos Humanos da ONU investigar o Irã.
Foi só. A esperada mudança na diplomacia companheira, para o Itamaraty retomar a linha histórica de posicionamento externo independente do Brasil, não ocorreu, e hoje isto é claro com a posição assumida pelo governo, segundo declarações do assessor especial da presidência, Marco Aurélio Garcia, de sancionar qualquer interpretação da Constituição venezuelana que deem os chavistas. No caso, prorrogar o mandato de Chavez para além de amanhã, quando deveria tomar posse para mais um mandato. Sintomático que a anúncio da decisão do governo tenha sido feito por Garcia, líder do PT atuante na política externa, e não pelo ministro Antonio Patriota.
Assim como Lula adotou a diplomacia companheira para aquietar alas à esquerda do PT desgostosas com a manutenção da política econômica da Era FH, Dilma pode fazer o mesmo como forma de compensar atitudes que desagradem a comissários. Por exemplo, não intervir no julgamento do mensalão. E o país pagará um preço. Como pagou pelo fato de Lula abraçar um terceiro-mundismo esclerosado: em nome dele, o Brasil embarcou, sem “plano B”, na Rodada de Doha, de abertura do comércio mundial, e, por isso, recusou-se a negociar a Alca com os americanos.
Doha naufragou e o país ficou engessado no Mercosul, enquanto perde o bonde histórico dos acordos bilaterais. Se americanos e europeus chegarem a um acerto entre eles de liberalização comercial, o Brasil terá muito poucas alternativas de parceria de peso.
E para piorar o cenário, o Mercosul, depois da expulsão extemporânea do Paraguai, para viabilizar a entrada da Venezuela chavista, começa a ser absorvido pela Alba, símbolo do atraso (além de venezuelanos, congregam-se na associação cubanos, nicaraguenses, etc). Enquanto isso, desponta na região a Aliança do Pacífico (México, Peru, Chile e Colômbia), parceira mais amigável e estável para o mundo do comércio e negócios.
O preço da volta da diplomacia companheira pode ser a definitiva subordinação do Brasil aos desígnios chineses. Seremos exportadores eternos de matérias-primas e compradores perenes de manufaturados. Ironia, pois esta dependência era denunciada pelas esquerdas no século passado.
09 de janeiro de 2013
Editorial de O Globo
Antes de tomar posse, a presidente eleita Dilma Rousseff concedeu a famosa entrevista ao “Washington Post” em que marcou um distanciamento do seu governo em relação à teocracia iraniana dos aiatolás e de Ahmadinejad, tratado pelo ainda presidente Lula como aliado de primeiro grandeza, dentro da estratégia companheira de praticar uma diplomacia terceiro-mundista à la década de 60.
A indicação de Dilma foi dada no contexto da ameaça do regime persa à viúva Sakineh Ashtiani, condenada à morte por apedrejamento, devido a um suposto adultério, pena criticada, corretamente, pela presidente eleita.
Seguiu-se àquela sinalização positiva uma outra, no início do governo, quando o Brasil votou a favor de o Conselho de Direitos Humanos da ONU investigar o Irã.
Foi só. A esperada mudança na diplomacia companheira, para o Itamaraty retomar a linha histórica de posicionamento externo independente do Brasil, não ocorreu, e hoje isto é claro com a posição assumida pelo governo, segundo declarações do assessor especial da presidência, Marco Aurélio Garcia, de sancionar qualquer interpretação da Constituição venezuelana que deem os chavistas. No caso, prorrogar o mandato de Chavez para além de amanhã, quando deveria tomar posse para mais um mandato. Sintomático que a anúncio da decisão do governo tenha sido feito por Garcia, líder do PT atuante na política externa, e não pelo ministro Antonio Patriota.
Assim como Lula adotou a diplomacia companheira para aquietar alas à esquerda do PT desgostosas com a manutenção da política econômica da Era FH, Dilma pode fazer o mesmo como forma de compensar atitudes que desagradem a comissários. Por exemplo, não intervir no julgamento do mensalão. E o país pagará um preço. Como pagou pelo fato de Lula abraçar um terceiro-mundismo esclerosado: em nome dele, o Brasil embarcou, sem “plano B”, na Rodada de Doha, de abertura do comércio mundial, e, por isso, recusou-se a negociar a Alca com os americanos.
Doha naufragou e o país ficou engessado no Mercosul, enquanto perde o bonde histórico dos acordos bilaterais. Se americanos e europeus chegarem a um acerto entre eles de liberalização comercial, o Brasil terá muito poucas alternativas de parceria de peso.
E para piorar o cenário, o Mercosul, depois da expulsão extemporânea do Paraguai, para viabilizar a entrada da Venezuela chavista, começa a ser absorvido pela Alba, símbolo do atraso (além de venezuelanos, congregam-se na associação cubanos, nicaraguenses, etc). Enquanto isso, desponta na região a Aliança do Pacífico (México, Peru, Chile e Colômbia), parceira mais amigável e estável para o mundo do comércio e negócios.
O preço da volta da diplomacia companheira pode ser a definitiva subordinação do Brasil aos desígnios chineses. Seremos exportadores eternos de matérias-primas e compradores perenes de manufaturados. Ironia, pois esta dependência era denunciada pelas esquerdas no século passado.
09 de janeiro de 2013
Editorial de O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário