Após uma década de governo petista, o Opinião e Notícia entrevista dois especialistas em política e analisa as conquistas
Em 2013, o Partido dos Trabalhadores completa dez anos no poder. No último
dia 30 a presidente Dilma Rousseff escreveu um artigo para a Folha de São Paulo
fazendo um breve balanço das conquistas obtidas pelo partido e das metas a serem
alcançadas.
Em entrevista com Fernando Lattman Weltman, professor da FGV e especialista em eleições presidenciais, e com o cientista político Vladimyr Lombardo Jorge o Opinião e Notícia fez uma análise do que mudou no país após uma década de governo petista.
Os dois especialistas avaliaram os efeitos das políticas de combate à desigualdade, o crescimento do PIB, a herança do julgamento do mensalão e foram unânimes em apontar o próximo desafio do governo: crescer sem aumentar a inflação.
No artigo, a presidente ressalta que, sob o comando do PT, o país reduziu a desigualdade social, expandindo a classe média e aumentando a renda da população. Os senhores acreditam que, durante o governo petista, o combate à desigualdade passou a ser política de estado?
Weltman:
Com certeza. A questão é que antes do governo petista isso já era uma prioridade de outros governos. A única diferença é que o PT conseguiu por isso em prática, o que não é ruim.
Jorge:
Diminuir a distância entre ricos e pobres é uma marca dos partidos de esquerda. Portanto, não devemos estranhar o empenho em implementar políticas públicas visando o combate à desigualdade social desde o primeiro mandato do governo Lula até hoje. Creio que só poderemos afirmar isso daqui a alguns anos, quando verificarmos a continuidade desse esforço por diversos governos, petistas e não-petistas. Caso isso não aconteça, poderemos dizer que foi a política do governo de um partido, mas não poderemos dizer que tenha se tornado uma política de Estado.
O governo do PT é responsável pela ascensão da nova classe média?
Weltman:
Sim, mas não o único responsável. Claro que o governo Fernando Henrique também merece crédito, mas a distribuição de renda e o aumento do PIB durante esses dez anos são conquistas o governo.
Jorge:
Sim, mas não exclusivamente. Se tivéssemos índices de inflação como tínhamos nos anos 1980 e início dos anos 1990, seria possível essa ascensão? Se a resposta for "não", o governo do PT não é responsável exclusivamente pela ascensão da nova classe média. Não quero, com isso, retirar do PT o mérito que esse partido tem. Afinal, temos visto, desde o primeiro governo Lula, um esforço dos petistas para manter a economia nos trilhos, mesmo nos momentos de crise econômica internacional.
Durante o governo Lula, o crescimento médio do PIB era de 4,5%. Em 2012, segundo ano do governo Dilma, o PIB fechou em 1,6%. A que o senhor acha que se deve essa diferença?
Weltman:
A questão é que em 2012 a economia mundial não foi favorável. A crise dos EUA, da Europa e até a desaceleração do crescimento chinês não ajudaram.
Os senhores acreditam que programas assistencialistas como o bolsa família, por exemplo, surtiram algum efeito na diminuição da desigualdade social durante os dez anos do governo PT?
Weltman:
Sem dúvida. Não foi o único fator, mas tem um peso fundamental na diminuição da pobreza.
Jorge:
Há indícios a respeito dos efeitos positivos desse programa no combate à desigualdade social. Em abril de 2012, a ministra Tereza Campello, do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, apontou o programa como sendo um dos responsáveis pelos avanços sociais que o Brasil obteve na última década. Antes disso, em 2011, o Relatório sobre Erradicação da Pobreza do Secretário-Geral das Nações Unidas, para o Conselho Econômico Social (ECOSOC), citou o programa como um bom exemplo de política pública na área de assistência social. Apesar desses indícios positivos, creio que o desafio do governo Dilma, agora, é transformar efetivamente a vida das famílias pobres. Isso será possível quando forem implementadas políticas que permitam as famílias saírem do Bolsa Família.
Segundo Dilma, os recursos do pré-sal serão investidos em educação para qualificar profissionais. Os recursos do pré-sal serão suficiantes para sanar os problemas educacionais e profissionais no Brasil?
Weltman:
O problema da educação não é apenas a falta de recursos, mas da desvalorização do profissional e do mau investimento dos recursos. Não basta ter recursos, deve-se saber empregá-los.
Jorge:
Penso que tais problemas, sobretudo os educacionais, não se resumem a falta de verbas. Não adianta termos verbas suficiente, se não a usarmos corretamente. É preciso, portanto, que tenhamos políticas públicas que permitam melhorar de fato a qualidade da educação no Brasil, para não desperdiçarmos esses recursos. A melhora da qualidade da educação para que os brasileiros, sobretudo os mais pobres, possam disputar boas vagas no mercado de trabalho e assim não dependerem mais de programas assistências como o Bolsa Família.
Dilma cita em seu artigo os planos de concessões de estradas e ferrovias, portos e aeroportos como o "início de um novo ciclo virtuoso". Vocês consideram que as concessões são uma continuação das políticas de privatização realizadas durante o governo Fernando Henrique?
Weltman:
Sim. Do ponto de vista formal concessões são privatizações. O problema é que a palavra privatização está carregada de carga ideológica. Privatizar não é algo ruim, o importante é que a população tenha bons serviços, sejam eles públicos ou privados.
Jorge:
Do ponto de vista político, o que importa é a interpretação que governo e oposição farão dessa iniciativa. É óbvio que ao PSDB interessa interpretar essa iniciativa como sendo uma retomada da política de privatização do governo Cardoso. Ao PT, é claro que interessa ressaltar as diferenças entre as privatizações atuais e as promovidas pelos "tucanos". Isso é importante para o PT por dois motivos. Para tentar reduzir as resistências internas e para se diferenciar do PSDB e do DEM.
A presidente iniciou seu governo promovendo o que ficou conhecido como "a faxina de Dilma".
Qual o impacto que o julgamento do mensalão terá na imagem da presidente?
Weltman:
A princípio nenhum, o governo vai muito bem, obrigado. O mensalão é uma mensagem de que a corrupção não ficará mais impune. Porém, não deixa marcas no governo, de forma alguma. A população soube distinguir muito bem os fatos durante as eleições.
Jorge:
Até agora não teve nenhum ou quase nenhum impacto sobre a imagem da presidente. Em setembro, a aprovação do governo chegou a 62% dos entrevistados, que consideram o governo "bom" ou "ótimo", segundo pesquisa Ibope/CNI. A aprovação pessoal da presidente Dilma era de 77%. Entre os jovens de 25 a 29 anos, a avaliação positiva do governo Dilma subiu 13 pontos percentuais. O resultado das eleições municipais de 2012 revelou que o julgamento do mensalão não prejudicou eleitoralmente o PT.
Dilma está realmente se distanciando de Lula?
Weltman:
Desde que se elegeu, Dilma vem marcando sua personalidade. Ela está criando uma marca para seu próprio governo que continuará, caso ela seja reeleita.
Jorge:
Neste momento, não há como ela se desvincular completamente do político Lula. Nem sei se ela quer realmente isso. Por outro lado, se ela pretende se reeleger, é normal que ela queira deixar sua marca, introduzir uma política nova. Penso que é isso que a imprensa e algumas pessoas estão cobrando dela. Isso, contudo, não significa que esteja se distanciando. Significa apenas que quer criar algo que justifique sua reeleição e, aí sim, tenha mais autonomia em relação a Lula.
Quais são os futuros desafios para o governo Dilma?
Weltman:
O principal desafio será crescer sem gerar inflação, enfrentando todos os gargalos que o país tem.
Jorge:
Os desafios do governo Dilma é fazer o país crescer com inflação baixa e, como eu já disse, introduzir políticas de saída dos programas assistências, que visam resolver uma situação de emergência.
09 de janeiro de 2013
Em entrevista com Fernando Lattman Weltman, professor da FGV e especialista em eleições presidenciais, e com o cientista político Vladimyr Lombardo Jorge o Opinião e Notícia fez uma análise do que mudou no país após uma década de governo petista.
Os dois especialistas avaliaram os efeitos das políticas de combate à desigualdade, o crescimento do PIB, a herança do julgamento do mensalão e foram unânimes em apontar o próximo desafio do governo: crescer sem aumentar a inflação.
No artigo, a presidente ressalta que, sob o comando do PT, o país reduziu a desigualdade social, expandindo a classe média e aumentando a renda da população. Os senhores acreditam que, durante o governo petista, o combate à desigualdade passou a ser política de estado?
Weltman:
Com certeza. A questão é que antes do governo petista isso já era uma prioridade de outros governos. A única diferença é que o PT conseguiu por isso em prática, o que não é ruim.
Jorge:
Diminuir a distância entre ricos e pobres é uma marca dos partidos de esquerda. Portanto, não devemos estranhar o empenho em implementar políticas públicas visando o combate à desigualdade social desde o primeiro mandato do governo Lula até hoje. Creio que só poderemos afirmar isso daqui a alguns anos, quando verificarmos a continuidade desse esforço por diversos governos, petistas e não-petistas. Caso isso não aconteça, poderemos dizer que foi a política do governo de um partido, mas não poderemos dizer que tenha se tornado uma política de Estado.
O governo do PT é responsável pela ascensão da nova classe média?
Weltman:
Sim, mas não o único responsável. Claro que o governo Fernando Henrique também merece crédito, mas a distribuição de renda e o aumento do PIB durante esses dez anos são conquistas o governo.
Jorge:
Sim, mas não exclusivamente. Se tivéssemos índices de inflação como tínhamos nos anos 1980 e início dos anos 1990, seria possível essa ascensão? Se a resposta for "não", o governo do PT não é responsável exclusivamente pela ascensão da nova classe média. Não quero, com isso, retirar do PT o mérito que esse partido tem. Afinal, temos visto, desde o primeiro governo Lula, um esforço dos petistas para manter a economia nos trilhos, mesmo nos momentos de crise econômica internacional.
Durante o governo Lula, o crescimento médio do PIB era de 4,5%. Em 2012, segundo ano do governo Dilma, o PIB fechou em 1,6%. A que o senhor acha que se deve essa diferença?
Weltman:
A questão é que em 2012 a economia mundial não foi favorável. A crise dos EUA, da Europa e até a desaceleração do crescimento chinês não ajudaram.
Os senhores acreditam que programas assistencialistas como o bolsa família, por exemplo, surtiram algum efeito na diminuição da desigualdade social durante os dez anos do governo PT?
Weltman:
Sem dúvida. Não foi o único fator, mas tem um peso fundamental na diminuição da pobreza.
Jorge:
Há indícios a respeito dos efeitos positivos desse programa no combate à desigualdade social. Em abril de 2012, a ministra Tereza Campello, do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, apontou o programa como sendo um dos responsáveis pelos avanços sociais que o Brasil obteve na última década. Antes disso, em 2011, o Relatório sobre Erradicação da Pobreza do Secretário-Geral das Nações Unidas, para o Conselho Econômico Social (ECOSOC), citou o programa como um bom exemplo de política pública na área de assistência social. Apesar desses indícios positivos, creio que o desafio do governo Dilma, agora, é transformar efetivamente a vida das famílias pobres. Isso será possível quando forem implementadas políticas que permitam as famílias saírem do Bolsa Família.
Segundo Dilma, os recursos do pré-sal serão investidos em educação para qualificar profissionais. Os recursos do pré-sal serão suficiantes para sanar os problemas educacionais e profissionais no Brasil?
Weltman:
O problema da educação não é apenas a falta de recursos, mas da desvalorização do profissional e do mau investimento dos recursos. Não basta ter recursos, deve-se saber empregá-los.
Jorge:
Penso que tais problemas, sobretudo os educacionais, não se resumem a falta de verbas. Não adianta termos verbas suficiente, se não a usarmos corretamente. É preciso, portanto, que tenhamos políticas públicas que permitam melhorar de fato a qualidade da educação no Brasil, para não desperdiçarmos esses recursos. A melhora da qualidade da educação para que os brasileiros, sobretudo os mais pobres, possam disputar boas vagas no mercado de trabalho e assim não dependerem mais de programas assistências como o Bolsa Família.
Dilma cita em seu artigo os planos de concessões de estradas e ferrovias, portos e aeroportos como o "início de um novo ciclo virtuoso". Vocês consideram que as concessões são uma continuação das políticas de privatização realizadas durante o governo Fernando Henrique?
Weltman:
Sim. Do ponto de vista formal concessões são privatizações. O problema é que a palavra privatização está carregada de carga ideológica. Privatizar não é algo ruim, o importante é que a população tenha bons serviços, sejam eles públicos ou privados.
Jorge:
Do ponto de vista político, o que importa é a interpretação que governo e oposição farão dessa iniciativa. É óbvio que ao PSDB interessa interpretar essa iniciativa como sendo uma retomada da política de privatização do governo Cardoso. Ao PT, é claro que interessa ressaltar as diferenças entre as privatizações atuais e as promovidas pelos "tucanos". Isso é importante para o PT por dois motivos. Para tentar reduzir as resistências internas e para se diferenciar do PSDB e do DEM.
A presidente iniciou seu governo promovendo o que ficou conhecido como "a faxina de Dilma".
Qual o impacto que o julgamento do mensalão terá na imagem da presidente?
Weltman:
A princípio nenhum, o governo vai muito bem, obrigado. O mensalão é uma mensagem de que a corrupção não ficará mais impune. Porém, não deixa marcas no governo, de forma alguma. A população soube distinguir muito bem os fatos durante as eleições.
Jorge:
Até agora não teve nenhum ou quase nenhum impacto sobre a imagem da presidente. Em setembro, a aprovação do governo chegou a 62% dos entrevistados, que consideram o governo "bom" ou "ótimo", segundo pesquisa Ibope/CNI. A aprovação pessoal da presidente Dilma era de 77%. Entre os jovens de 25 a 29 anos, a avaliação positiva do governo Dilma subiu 13 pontos percentuais. O resultado das eleições municipais de 2012 revelou que o julgamento do mensalão não prejudicou eleitoralmente o PT.
Dilma está realmente se distanciando de Lula?
Weltman:
Desde que se elegeu, Dilma vem marcando sua personalidade. Ela está criando uma marca para seu próprio governo que continuará, caso ela seja reeleita.
Jorge:
Neste momento, não há como ela se desvincular completamente do político Lula. Nem sei se ela quer realmente isso. Por outro lado, se ela pretende se reeleger, é normal que ela queira deixar sua marca, introduzir uma política nova. Penso que é isso que a imprensa e algumas pessoas estão cobrando dela. Isso, contudo, não significa que esteja se distanciando. Significa apenas que quer criar algo que justifique sua reeleição e, aí sim, tenha mais autonomia em relação a Lula.
Quais são os futuros desafios para o governo Dilma?
Weltman:
O principal desafio será crescer sem gerar inflação, enfrentando todos os gargalos que o país tem.
Jorge:
Os desafios do governo Dilma é fazer o país crescer com inflação baixa e, como eu já disse, introduzir políticas de saída dos programas assistências, que visam resolver uma situação de emergência.
09 de janeiro de 2013
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