Em janeiro de 2009 publiquei aqui mesmo dois textos a respeito da experiência venezuelana, obtida estando naquele país e percorrendo o processo social intenso de Caracas e sua região metropolitana.
As transformações recentes são visíveis. Até o final da década de 1990, a juventude do país se auto-denominava “masca chicle”, sendo sua matriz cultural Miami (Florida).
Na virada do século XXI, a liturgia política passava pelo libertador Simon Bolívar e seus contemporâneos, como Sucre e Boves. Ou seja, milhões de pessoas começavam a sentir-se cidadãs enquanto fundiam simbolicamente o movimento bolivariano com o chavismo. E aí reside o problema de longo prazo.
No curto prazo, não havia sintoma de “problemas”, já que Chávez aparentava saúde forte e com popularidade crescente, ganhando eleições e referendos consecutivos (à exceção de um).
Na ocasião, me impressionaram as estatísticas favoráveis ao governo de Hugo Chávez na promoção dos benefícios da modernidade tardia, tais como missões de saúde, educação (básica, de adultos, técnica e superior), moradia e transporte público (implantando teleféricos em áreas de favela).
Já na questão de ingresso e renda, o processo (como também são chamados os quase quinze anos de chavismo) ainda patina. O mesmo ocorre na produção primária e em setores sensíveis como medicamentos e química fina para além da indústria petrolífera, especialidade deles.
A impressão positiva em proporcionar uma real melhoria na qualidade de vida de gente “acostumada” a naturalizar a desigualdade e a corrupção estrutural, vinha na contramão de novas práticas políticas organizadas. Como vemos no Brasil, é menos improvável promover ingresso e condições sociais do que transformar uma cultura política.
Hoje, os venezuelanos pagam o preço por haverem sido mais chavistas do que bolivarianos, por não estruturarem um sólido partido político e por entreverar o movimento popular com alguma subordinação para as hierarquias transitórias de governo.
O impasse é visível. Qualquer conhecedor da Venezuela sabe que as maiorias não vão aceitar retroceder às condições anteriores, quando o pacto oligárquico concentrava mais de 80% do PIB em menos de 20% da população.
Ao mesmo tempo, é impossível supor um processo de transformação social no longo prazo dependendo de uma liderança carismática e seus seguidores, aliás, rivais entre si.
Ainda que venham a ocorrer novas eleições presidenciais, é possível que o vencedor na urna não ratifique institucionalmente a vitória.
09 de janeiro de 2013
Bruno Lima Rocha é cientista político
Nenhum comentário:
Postar um comentário