"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 25 de março de 2013

QUEM É "EL PERRO" VERBITSKY?

    
          Internacional - América Latina 
elperroNota de Heitor De Paola:

Verbitsky foi o principal acusador do Papa Francisco, então bispo e depois arcebispo de Buenos Aires, de ter sido cúmplice ou ao menos não ter denunciado a ‘ditadura’ argentina e ter colaborado com o desaparecimento de dois padres jesuítas quando era geral da ordem.

Isto já é habitual, o Papa Pio XII foi acusado de ‘papa de Hitler’, e aqui no Brasil o cardeal arcebispo do Rio de Janeiro D. Eugênio de Araújo Sales foi acusado de ser omisso.
Embora esses três tenham salvado mais pessoas do que os falastrões Helder Câmara e Paulo Evaristo Arns que, ao que consta, gritaram muito, mas não salvaram ninguém.

Mas atente o leitor para o fato de que os comunistas não desejam ajuda, mas apoio à causa para que ela se torne defensável como atuação pelos ‘direitos humanos’. Esperam serem legitimados nos assassinatos, assaltos, terrorismo e guerrilha.
Como os idiotas úteis não servem para nada a não ser de bucha de canhão, que morram, o que importa é legitimar a causa!

É óbvio que Don Bergoglio, em qualquer posição que ocupasse, não podia legitimar a organização mais violenta do Cone Sul, os Montoneros, que só encontravam rivais na truculência do MIR chileno. Sabe-se que como geral dos jesuítas tentou restringir a atuação da Ordem nas organizações terroristas e isto lhe valeu o ódio eterno dos assassinos.


Provavelmente lhe seja familiar o nome de Horacio Verbitsky. Talvez o tenha conhecido como o diretor do diário ultra-kirchnerista Página 12, talvez por presidir desde o ano 2000 até esta data o Centro de Estudos Legais e Sociais (CELS) financiado pela Fundação Ford, talvez por sua vintena de livros publicados, talvez por ser considerado por muitos analistas políticos como a verdadeira cabeça por trás do kirchnerismo, ou talvez, provavelmente, pela recente sentença da Sala I da Câmara Nacional de Cassação Penal, que absolveu Verbitsky por um atentado ocorrido em 1976 no qual morreram 23 pessoas, quando ele integrava a área de inteligência da organização terrorista Montoneros, autora da operação.

Porém, quem é concretamente este personagem de passado obscuro e presente protagônico, formador de opinião pública e engenheiro ideológico do kirchnerismo?

Horacio Verbitsky é jornalista de profissão. Seus primeiros trabalhos jornalísticos, porém, distam de maneira significativa de seu atual discurso pretensamente democrático. Com efeito, tal como denunciou Fernando Nadra em Ambito Financiero (23.7.98), Verbitsky “ascendeu de redator a chefe de redação de ‘Confirmado’, cargo que ocupava quando a revista contribuiu abertamente no derrocamento do presidente Arturo Illia em 1966”.

No ano seguinte, outro dos primeiros trabalhos dos quais há registro foi nada menos que uma participação como colunista da revista La Hipotenusa, dependente da Secretaria Geral da Presidência do governo de fato do General Onganía. Eram tempo nos quais o hoje ilustre jornalista de Página 12 percebia seus haveres da “Revolução Argentina” [1].

O jovem Verbitsky teve seus primeiros contatos com a política pela mão de seu pai Bernardo, que o iniciou em suas relações com o Partido Comunista Argentino (PCA). Nem lento nem preguiçoso, não obstante, Horacio foi girando para posições trotskistas para finalmente se incorporar nas Forças Armadas Peronistas (FAP) no começo de 1970, junto com o escritor Rodolfo Walsh, com quem entabularia uma forte amizade e admiração intelectual [2].

No período em que Verbitsky e Walsh integraram as FAP, inúmeros atentados no país foram perpetrados por esta organização. Como exemplo, em 29 de setembro de 1970 assaltaram o Banco Alemão Transatlântico de El Palomar, onde roubaram 15 milhões de pesos. Em 30 de setembro desse mesmo ano atentaram com bomba a secretaria de Habitação da Nação. Em 22 de janeiro de 1971 roubaram 5 milhões de pesos do Banco de Galicia, sucursal Bánfield, assassinando um policial no assalto.

Em 29 de julho desse mesmo ano se ultimou em Córdoba o major Julio Sanmartino. Em 22 de janeiro de 1973 acabaram com a vida dos sindicalistas Julián Moreno e Leopoldo Deheza, em Lanús, entre outras muitas ações guerrilheiras executadas na ocasião por esta organização armada.

Não deixa de ser uma curiosidade advertir que Verbitsky, no tempo em que engrossava este tipo de grupos, trabalhava no hoje tão detestado diário Clarín. O certo é que seu casamento com Laura Sofovich, filha de Bernardo Sofovich, secretário de comercialização do matutino, lhe abriria as portas para um trabalho que ocuparia até 1973. Como dado extra, cabe rememorar que em setembro de 1973 Sofovich seria seqüestrado por organizações terroristas subversivas que o obrigariam a publicar comunicados revolucionários no Clarín.

Em princípios de 1973, tanto Walsh quanto Verbitsky passaram a integrar o bando Montoneros, que já se havia consolidado como a organização armada de maior relevância de (suposto) sinal peronista e vinha absorvendo as demais. Logo seriam designados, com alto grau na hierarquia militar guerrilheira, em uma das áreas mais importantes da organização: a área de inteligência.

O jornalista Carlos Manuel Acuña explica que a função de inteligência compreendia tarefas específicas como “detectar aquelas pessoas passíveis de ser seqüestradas e com capacidade de pagamento; o desenvolvimento de uma política de intimidações sobre pessoas, grupos, setores ou empresas; subornos e chantagens; estudos e análises prévias ao cometimento de assassinatos para estabelecer os créditos políticos; tarefas similares para realizar atentados de todo tipo e finalmente, a avaliação e obtenção de informações destinadas a estabelecer a viabilidade de ataques e aprisionamentos, e a oportunidade de realizá-los” [3].

Pouco depois do famoso seqüestro dos irmãos Juan e Jorge Born em 1974, pelo qual os Montoneros receberam a soma de 60 milhões de dólares, Horacio Verbitsky, cujo nome de guerra era “el perro” (o cachorro), teria sido o responsável por organizar o traslado do dinheiro para Cuba em séries de 5 milhões de dólares. O promotor Juan Martín Romero Victorica tomou o caso naquele momento.

Ocorreram vários atentados montoneros nos quais, segundo fontes variadas, Verbitsky teria tido participação intelectual, inclusive como chefe de operações. Um deles ocorreu em 15 de março de 1976, quando um explosivo detonado no estacionamento do Edifício Libertador provocou a morte de Blas García e feriu 17 militares e seis civis. Os ex-montoneros Rodolfo Galimberti e Juan Daniel Sverko asseguraram ante a Justiça que o hoje ultra-kirchnerista Horacio Verbitsky tinha sido o condutor da operação em questão.

O outro atentado de magnitude que envolve Verbitsky é o que acaba de ser considerado prescrito pela Câmara Nacional de Cassação Penal, cometido em 2 de julho de 1976 por José María Salgado, um montonero que havia sido dado baixa na Polícia mas conservava a insígnia. Assim, pois, naquele dia ele se infiltrou uniformizado no restaurante da Superintendência de Coordenação Federal e deixou um artefato composto por 9 kg de trotyl e 5 kg de bolas de aço coberto com seu sobretudo, que em menos de vinte minutos provocaria a morte de 23 pessoas e 66 feridos, após fazer voar o lugar em mil pedaços. Rodolfo Walsh havia sido a mente mestra por trás do plano, e Verbitsky também teria tido participação desde a área de inteligência no atentado de maior magnitude da história argentina depois do da AMIA.

No ano de 1977 Horacio Verbitsky se afastou do Montoneros para se aproximar, tal como asseguram algumas fontes, como o já citado Fernando Nadra, das próprias Forças Armadas. Uma prova fulminante neste sentido é sua colaboração no livro “O poder aéreo dos argentinos”, que o Círculo da Força Aérea editou em 1979. Escrito pelo comodoro reformado Juan José Güiraldes, o nome do ex-montonero ilustra a primeira página da obra onde se lhe agradece sua contribuição.

São muitos os ex-guerrilheiros que assinalam Verbitsky como um traidor ou “agente duplo”. Indicam, com efeito, que sobre 62 integrantes conhecidos que passaram pela área de inteligência montonera, o único que sobreviveu e nem sequer ficou detido é chamativamente Horacio Verbitsky, o mesmo que trabalhava para Cuestionario, para o meio de comunicação de Onganía La Hipotenusa, e finalmente colaborava em uma publicação da Força Aérea. Alguns quantos anos mais tarde, desde Página 12 se converteria no jornalista predileto de Néstor Kirchner e, pouco depois, de sua esposa.

Adentrar-nos no passado de certos personagens que hoje movem os fios do poder político na Argentina, como é o caso de Verbitsky, contribui para uma compreensão mais ajustada da às vezes desconsertante dinâmica do presente. Permite ver de onde vêm e para onde vão tais personagens e, por acréscimo, de onde vem e para onde vai o nosso país.

O perro Verbitsky pretendeu dar-nos a todos os argentinos lições de memória e Direitos Humanos durante muito tempo já. Pois redobremos sua aposta e exijamos memória, mas completa e imparcial; Direitos Humanos, mas sem viseiras ideológicas nem interesses políticos.


25 de março de 2013
Agustín Laje, 23 anos, é o autor do livro “Os mitos setentistas” - www.agustinlaje.com.ar
Notas:

[1] Acuña, Carlos Manuel. “Verbitsky. De La Habana a la Fundación Ford”. Buenos Aires, Ediciones del Pórtico, 2003, p. 150.
[2] Idem, p. 148
[3] Idem, p. 143
Tradução: Graça Salgueiro

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