A violência em São, no Rio e a cobertura jornalística. Noticiário da própria Folha desmente versão de que “foi a polícia que começou”
A cobertura feita pela imprensa, em qualquer meio, dos episódios havidos em São Paulo será, um dia, na hipótese virtuosa, objeto de curiosidade científica. Se não for, haverá uma boa possibilidade de que estejamos, então, vivendo sob uma ditadura de opinião. Lendo o G1, por exemplo, aprendi que:
1: Manifestantes que praticam depredação no Rio estão fazendo uma coisa muito feia e agredindo um patrimônio da humanidade;
1b: manifestantes que praticam depredação em São Paulo estão exercendo o direito à liberdade de expressão.
2: Quando a Polícia do Rio usa bombas de gás lacrimogênio, balas de borracha e spray de pimenta, está reagindo à truculência de manifestantes que perderam o sendo de medida.
2b: quando a Polícia de São Paulo usa bombas de gás lacrimogênio, balas de borracha e spray de pimenta está optando pela truculência.
3: Quando há manifestação no Rio, o governador Sérgio Cabral é convidado, no máximo, quando é, a fazer digressões sobre eventuais inclinações políticas dos baderneiros.
3b: quando o mesmo ocorre em São Paulo, Alckmin é convidado a falar sobre “a violência da Polícia”.
Ódio a São Paulo?
Tudo isso será apenas ódio a São Paulo? Existe um pouco de preconceito contra São Paulo, sim, e nem vou me ater a isso agora. A questão é velha é longa. Fica para outra hora. Mas isso é de menos. Ocorre que o Rio tem, a despeito das rusgas, um governo do Estado afinado, digamos, com a metafísica influente planaltina. Não só isso.
Em razão da Copa das Confederações, da Copa do Mundo e da Olimpíada, é preciso provar que “existe amor no Rio de Janeiro”, a despeito de alguns malvados que querem provar o contrário. Afinal, a Cidade Maravilhosa é o epicentro de, como posso chamar?, uma cadeia produtiva de eventos que envolve de negócios bilionários ao necessário ufanismo, sem o qual não se garante todo o pão necessário que sustenta o circo. Já em São Paulo…
Há pouco via a cobertura dos conflitos no Rio e em São Paulo no Jornal Nacional. A Polícia de São Paulo agiu; a do Rio só reagiu. No Rio, manifestantes cometeram o pecado de agredir prédios históricos. O tom é de lamento, de crime de lesa cultura da humanidade. Em São Paulo, sabem como é, não parece haver história a preservar. Os policiais tinham negociado com os manifestantes que eles são subiriam a Consolação rumo à Paulista. Havia o bloqueio. Mas esse bloqueio foi furado. Mesmo assim, o repórter não teve dúvida: acusou os policiais de terem dado início ao confronto, do nada. É a versão de Elio Gaspari triunfando. Segundo ele, tudo seguia com educação britânica até as 19h10, quando a tropa de choque teria dado início ao confronto.
Não e o que informava a folha em tempo real, fazendo o minuto a minuto dos confrontos. Neste link, informava o jornal às 18h46:
Gaspari deve achar que cercar e pichar ônibus são exemplos de educação britânica. Vai ver tem em mente aqueles delinquentes que atearam fogo em Londres em 2011.
Mas há mais. Às 19h08 — antes, portanto, de sua precisão britânica, informava o jornal em que Gaspari trabalha:
Às 19h14, a coisa já havia, então, degenerado.
Jornalismo também é precisão. Então vamos lá. A Policia Militar pode evocar o testemunho da própria Folha. Ademais, a Polícia não tinha pedido nada. Há um vídeo de um comandante negociando com os manifestantes. O acordo não foi cumprido. A Polícia, até ali, acompanhava o movimento: “Daqui não passa”. Passaram. Levaram bomba. Quem, numa situação como essa, depois de romper um acordo, resolve confrontar os que detêm o monopólio do uso legítimo da força está, sim, fazendo uma escolha.
No Jornal Nacional, falaram primeiro o governador Geraldo Alckmin e o secretário da Segurança Pública, Fernando Grella. O governador foi claro ao acusar o vandalismo. Grella falou em tom meio defensivo. Em seguida, ora vejam, Fernando Haddad, aquele que aumentou as passagens de ônibus, apareceu criticando a Polícia. Em seguida, o pré-candidato ao governo de São Paulo, José Eduardo Cardozo, discursando como ministro da Justiça, apareceu “oferecendo ajuda a São Paulo”. NOTA: este senhor não telefonou para o governador no dia dos conflitos. Dada a cobertura até ali, pronunciaram-se primeiro os dois “vilões” e, depois, os dois mocinhos.
Para encerrar, noto que nem Sérgio Cabral nem José Mariano Beltrame tiveram de falar sobre o Rio. Não gostam de associar sua imagem a eventos desagradáveis.
15 de junho de 2013
Reinaldo Azevedo
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