Manifestações ocuparam a capital durante a semana, tumultuando ainda mais a vida do paulistano e assustando os moradores com cenas de batalha nas ruas
- Avenida 23 de Maio, na altura do Túnel do Anhangabaú: manifestantes interrompem o tráfego e atrapalham a vida de milhões (Foto: Alexandre Moreira/Estadão Conteúdo)
Do ponto de vista da mobilidade urbana, a cidade de São Paulo pode ser comparada hoje a uma paciente permanentemente à beira de um infarto. Com as artérias entupidas pelo fluxo de 3,8 milhões de carros que circulam por aqui todos os dias (a frota total é estimada em 7,5 milhões de automóveis), a metrópole passa mal sempre que nela ocorre algum evento inesperado — de um caminhão quebrado nas marginais a uma chuva na hora do rush.
Nessa situação delicadíssima, distúrbios mais fortes costumam provocar colapsos nesse organismo. Foi o que se viu nos últimos dias com as seguidas manifestações nas ruas, a maior parte delas promovida pelo grupo Movimento Passe Livre (MPL). Essa organização, que reúne cerca de quarenta integrantes, provocou doses de barulho e de confusão inversamente proporcionais ao seu tamanho.
Sempre agendados em locais e horários para provocar desordem e transtornos, como no fim de tarde na Avenida Paulista, os protestos ocorridos nos dias 6, 7 e 11 começaram de forma pacífica (às 17 horas da quinta passada, 13, outro deles teve início às portas do Teatro Municipal, no centro).
Camelôs garantiam o abastecimento de cervejas e refrigerantes, enquanto os presentes entoavam gritos de ordem em ritmo de funk. Simpatizantes, curiosos vindos de todos os cantos, militantes das alas mais radicais de partidos de esquerda como PSTU e PSOL, anarquistas, grupos estudantis, representantes de sindicatos, integrantes do movimento punk e rebeldes sem causa engrossavam as fileiras.
Não bastasse infernizar a vida de quem nada tinha a ver com isso, além de provocar transtornos nos hospitais e outros serviços essenciais, o negócio desandou de vez quando vândalos entraram em confronto com a Polícia Militar. Nesses momentos, o clima festivo deu lugar a cenas de selvageria.
+ Tiros, bombas e truculência
+ A turma que carrega a bandeira irrealista do transporte de graça
+ A rotina sofrida dos paulistanos que enfrentam as manifestações
No evento ocorrido no dia 6, por exemplo, arruaceiros que participavam da manifestação arremessaram pedaços de pedra e pau contra os soldados, bloquearam a Avenida Paulista, queimaram lixeiras e apedrejaram estações do Metrô. Os policiais reagiam com bombas de gás e balas de borracha. Clientes ficaram ilhados dentro do Shopping Pátio Paulista. Naquele dia, segundo a Polícia Militar, eram cerca de 100 PMs e 2 000 manifestantes. Quinze acabaram detidos sob suspeita de vandalismo.
O movimento ganhou adesão no dia seguinte, com o bloqueio de vias como a Avenida Brigadeiro Faria Lima e faixas da Marginal Pinheiros, culminando no terceiro maior congestionamento do ano, de 226 quilômetros. Na terça 11, ônibus foram incendiados e agências bancárias, depredadas. Guaritas de observação da Paulista, que pertencem à Associação Paulista Viva e são usadas por PMs, acabaram incendiadas ou depredadas, em um prejuízo total calculado em 40 000 reais. Houve dezenove detenções nesse dia, e dez ficaram presos sem possibilidade de fiança, devido à acusação de formação de quadrilha. Diante dos ânimos acirrados, foi aumentando o rigor da repressão dos protestos. Até a quinta passada, cerca de oitenta manifestantes acabaram feridos pelos policiais.
Os membros do MPL mostraram-se surpresos e contrariados com o grau de violência verificado nas ruas. Mas jamais passou por sua cabeça interromper a agenda de manifestações. Muito pelo contrário: agora, enquanto a prefeitura não revir o aumento da passagem, ameaçam fazer uma por dia a partir da próxima semana. “Vimos nas ruas uma adesão ampla, mas o objetivo inicial, que era a questão do ônibus, saiu do controle”, discursa Lucas Oliveira, de 29 anos, professor de história formado pela USP. Alguns dos colegas até festejaram o trágico resultado.
No Facebook, o estudante Matheus Preis, 19 anos, fazia troça com o resultado da primeira passeata em um anúncio para convocar a turba para a segunda manifestação, na Avenida Faria Lima, no dia 7: “Festa junina em São Paulo com fogueira, bomba, pipoco, tiro em pé de moleque, cadeia e muito mais”.
Depois de concluir o ensino médio na Escola da Vila, colégio na Zona Oeste cuja mensalidade gira em torno de 2 150 reais, hoje Matheus frequenta aulas do 2o ano do curso de ciências sociais na USP. Nas andanças pela cidade, jura que não utiliza carro. “Não tenho sequer carteira de habilitação”, diz ele, que milita no MPL há dois anos. “Assim como a saúde e a educação, o transporte precisa ser gratuito”, acredita.
A brincadeira de comparar a balbúrdia com uma festa junina, explica ele, foi uma ironia para criticar a polícia. “Postei aquilo para mostrar que não vamos nos intimidar com a repressão”, afirma. Em um artigo publicado na Folha de S.Paulo na última quinta, 13, assinado por outros três porta-vozes do grupo, Nina Cappello Marcondes seguia uma linha semelhante. “As ações violentas da Polícia Militar, acirrando os ânimos e provocando os manifestantes, levaram os protestos a se transformar em uma revolta popular”, escreveu.
Somando-se os protestos do MPL a outras manifestações realizadas nos últimos dias — tivemos da Marcha da Maconha ao protesto de grevistas da área da saúde —, ocorreram por aqui no período de uma semana seis atos públicos. Ou seja, uma média de quase um por dia.
A exemplo dos radicais das catracas, o pessoal que vai às ruas mira sempre nas artérias principais da cidade, para chamar atenção, causando a maior balbúrdia possível e prejudicando um incalculável número de cidadãos que não consome drogas, trabalha oito horas por dia, não desfruta de imunidade sindical, sofre com o trânsito e quer viver em paz, com segurança, tendo assegurado seu sagrado direito de ir e vir.
A Avenida Paulista, de longe, é o alvo predileto. De janeiro até maio, ocorreram ali cerca de quarenta manifestações, segundo levantamento da CET. A situação obriga quem circula ou trabalha na região a fazer adaptações na rotina para não ser pego de surpresa. Os hospitais instalados nas redondezas enfrentam situações delicadas em dias de manifestações. Para minimizar os transtornos, HCor, Sírio- Libanês, Oswaldo Cruz e Nove de Julho contam com equipes extras de emergência.
Parte do serviço é terceirizada à empresa Grupo Bem. Ele funciona por cerca de seis horas até a normalização do trânsito e implica gastos de 12 000 reais por dia — 25% a mais que em períodos normais.
Na área de segurança, os protestos exigem o acompanhamento de um efetivo que acaba sendo deslocado de outras regiões. Na última quinta, o número de policiais destacados chegou a 900. “São profissionais que, em situação normal, estariam cuidando do patrulhamento de rua”, diz Marcelo Pignatari, comandante do 11º Batalhão da Polícia Militar.
Além da dose de irresponsabilidade dos manifestantes e da ação dos que aproveitam essas ocasiões para criar confusão, outro fator preocupante relacionado ao fenômeno é a questão da impunidade. São raríssimos os casos de punição na Justiça aos baderneiros por prejuízos causados à cidade.
Não bastasse complicar a rotina de serviços essenciais, o que afeta por tabela um grande número de paulistanos, muitas pessoas que não têm nada a ver com as causas como a defesa da tarifa zero ou a liberação da maconha enfrentam enormes dores de cabeça durante os protestos. O comerciante José Gomes Abreu não esquece o momento, na última terça, 11, em que viu sua banca de jornal, que fica ao lado do Terminal Parque Dom Pedro II, aparecer no noticiário da televisão. “Ela estava cercada por policiais, com várias bombas explodindo ao redor”, lembra. “Depois me contaram que tentaram até derrubá-la.” Abreu, que já havia encerrado o expediente e estava em casa, só viu os estragos no dia seguinte: a estrutura estava toda pichada. “Estou nesse ponto há vinte anos, o local costuma receber diversos tipos de passeata, mas nunca vi algo com tamanha violência”, afirma.
O estudante de direito Daniel Machado também viveu momentos de tensão. Quando voltava de carro da faculdade pela Rua Haddock Lobo, a via tinha sido bloqueada por ativistas na altura do cruzamento com a Avenida Paulista. “A princípio, eu estava tranquilo, pois apoio a causa”, conta.
“No entanto, conforme os outros motoristas começaram a buzinar, alguns participantes encapuzados e com pedaços de pau nas mãos reagiram de maneira hostil, xingando quem estava preso no trânsito.” Com medo de um confronto iminente, Machado saiu do automóvel e passou a organizar a fila, com mais de nove veículos, para que todos saíssem de marcha a ré até a Rua Luís Coelho. “Acabei comandando uma operação de fuga”, brinca.
Moradora de um prédio na Rua da Consolação, Madalena Rodrigues da Silva testemunhou de sua janela a hora em que vândalos iniciaram a pichação da fachada do seu edifício. As paredes foram todas rabiscadas com os dizeres “3,20 é roubo” (o valor da tarifa de ônibus, após o reajuste, de 6,7% desde 2011, contra uma inflação no período de 16%) e símbolos anarquistas. “Eu me senti muito impotente, pois não havia nada que pudesse fazer para impedi-los”, diz. Segundo ela, o condomínio vai arcar com gastos de mais de 1 000 reais com a repintura. “Mas vamos esperar acabarem esses tumultos, porque não se sabe se eles ainda vão voltar”, afirma.
Enquanto o poder público não agir com mais rapidez e rigor, condenando os responsáveis pelos excessos com penas exemplares, gente como o jornaleiro Abreu e a funcionária de um salão de beleza Madalena vão continuar a pagar o pato pelos problemas causados pelos desordeiros — e a cidade não chegará a um ponto desejável de evolução, em que o direito das pessoas de ir às ruas para manifestar democraticamente sua opinião diante dos mais variados assuntos termina no momento em que afeta a vida, a segurança e a liberdade de todos os outros paulistanos.
O SALDO DOS PROTESTOS DO MOVIMENTO PASSE LIVRE
Pessoas detidas: 94
Número de pessoas soltas: 70
Quantos pagaram fiança: o sindicato CSP-Conlutas arcou com 4 000 e o Movimento Passe Livre com 8 000 reais
Quantos permanecem presos: quinze pessoas (quatro delas podem pagar fiança, entre 3 000 e 20 000 reais; as outras onze são acusadas de formação de quadrilha ou incêndio, crimes inafiançáveis). Outras nove eram interrogadas na noite de quinta (13)
Quantos policiais feridos: oito
Quantos manifestantes feridos: cerca de oitenta, segundo o MPL
Lixeiras quebradas: 300
Efetivo da polícia: cerca de 900 homens
Números referentes às manifestações de quinta (6), sexta (7), terça (11) e quinta (13), divulgados até as 22h Fontes: Secretaria de Segurança Pública, Polícia Militar
13 de junho de 2013
João Batista Jr. e Juliana Deodoro [colaboraram Daniel Bergamasco, Nathalia Zaccaro, Mariana Barros e Júlia Gouveia]
Veja
Nessa situação delicadíssima, distúrbios mais fortes costumam provocar colapsos nesse organismo. Foi o que se viu nos últimos dias com as seguidas manifestações nas ruas, a maior parte delas promovida pelo grupo Movimento Passe Livre (MPL). Essa organização, que reúne cerca de quarenta integrantes, provocou doses de barulho e de confusão inversamente proporcionais ao seu tamanho.
Sempre agendados em locais e horários para provocar desordem e transtornos, como no fim de tarde na Avenida Paulista, os protestos ocorridos nos dias 6, 7 e 11 começaram de forma pacífica (às 17 horas da quinta passada, 13, outro deles teve início às portas do Teatro Municipal, no centro).
Camelôs garantiam o abastecimento de cervejas e refrigerantes, enquanto os presentes entoavam gritos de ordem em ritmo de funk. Simpatizantes, curiosos vindos de todos os cantos, militantes das alas mais radicais de partidos de esquerda como PSTU e PSOL, anarquistas, grupos estudantis, representantes de sindicatos, integrantes do movimento punk e rebeldes sem causa engrossavam as fileiras.
Não bastasse infernizar a vida de quem nada tinha a ver com isso, além de provocar transtornos nos hospitais e outros serviços essenciais, o negócio desandou de vez quando vândalos entraram em confronto com a Polícia Militar. Nesses momentos, o clima festivo deu lugar a cenas de selvageria.
R$ 109 000, 00: é o custo de reposição de luminárias e vidros destruídos nas estações Brigadeiro, Trianon Masp e Vergueiro
(Foto: JF Diorio/Estadão Conteúdo)
+ Tiros, bombas e truculência
+ A turma que carrega a bandeira irrealista do transporte de graça
+ A rotina sofrida dos paulistanos que enfrentam as manifestações
R$ 40 000,00: são as perdas da Associação Paulista Viva com a depredação de oito cabines de observação usadas pela PM
(Foto: JF Diorio/Estadão Conteúdo)
No evento ocorrido no dia 6, por exemplo, arruaceiros que participavam da manifestação arremessaram pedaços de pedra e pau contra os soldados, bloquearam a Avenida Paulista, queimaram lixeiras e apedrejaram estações do Metrô. Os policiais reagiam com bombas de gás e balas de borracha. Clientes ficaram ilhados dentro do Shopping Pátio Paulista. Naquele dia, segundo a Polícia Militar, eram cerca de 100 PMs e 2 000 manifestantes. Quinze acabaram detidos sob suspeita de vandalismo.
O movimento ganhou adesão no dia seguinte, com o bloqueio de vias como a Avenida Brigadeiro Faria Lima e faixas da Marginal Pinheiros, culminando no terceiro maior congestionamento do ano, de 226 quilômetros. Na terça 11, ônibus foram incendiados e agências bancárias, depredadas. Guaritas de observação da Paulista, que pertencem à Associação Paulista Viva e são usadas por PMs, acabaram incendiadas ou depredadas, em um prejuízo total calculado em 40 000 reais. Houve dezenove detenções nesse dia, e dez ficaram presos sem possibilidade de fiança, devido à acusação de formação de quadrilha. Diante dos ânimos acirrados, foi aumentando o rigor da repressão dos protestos. Até a quinta passada, cerca de oitenta manifestantes acabaram feridos pelos policiais.
164: é o número de ônibus que foram depredados e pichados, um prejuízo de cerca de R$ 170 000,00
(Foto: JF Diorio/Estadão Conteúdo)
Os membros do MPL mostraram-se surpresos e contrariados com o grau de violência verificado nas ruas. Mas jamais passou por sua cabeça interromper a agenda de manifestações. Muito pelo contrário: agora, enquanto a prefeitura não revir o aumento da passagem, ameaçam fazer uma por dia a partir da próxima semana. “Vimos nas ruas uma adesão ampla, mas o objetivo inicial, que era a questão do ônibus, saiu do controle”, discursa Lucas Oliveira, de 29 anos, professor de história formado pela USP. Alguns dos colegas até festejaram o trágico resultado.
177 quilômetros de congestionamento foram registrados na cidade às 19h de quinta (13)
(Foto: JF Diorio/Estadão Conteúdo)
No Facebook, o estudante Matheus Preis, 19 anos, fazia troça com o resultado da primeira passeata em um anúncio para convocar a turba para a segunda manifestação, na Avenida Faria Lima, no dia 7: “Festa junina em São Paulo com fogueira, bomba, pipoco, tiro em pé de moleque, cadeia e muito mais”.
Depois de concluir o ensino médio na Escola da Vila, colégio na Zona Oeste cuja mensalidade gira em torno de 2 150 reais, hoje Matheus frequenta aulas do 2o ano do curso de ciências sociais na USP. Nas andanças pela cidade, jura que não utiliza carro. “Não tenho sequer carteira de habilitação”, diz ele, que milita no MPL há dois anos. “Assim como a saúde e a educação, o transporte precisa ser gratuito”, acredita.
A brincadeira de comparar a balbúrdia com uma festa junina, explica ele, foi uma ironia para criticar a polícia. “Postei aquilo para mostrar que não vamos nos intimidar com a repressão”, afirma. Em um artigo publicado na Folha de S.Paulo na última quinta, 13, assinado por outros três porta-vozes do grupo, Nina Cappello Marcondes seguia uma linha semelhante. “As ações violentas da Polícia Militar, acirrando os ânimos e provocando os manifestantes, levaram os protestos a se transformar em uma revolta popular”, escreveu.
Somando-se os protestos do MPL a outras manifestações realizadas nos últimos dias — tivemos da Marcha da Maconha ao protesto de grevistas da área da saúde —, ocorreram por aqui no período de uma semana seis atos públicos. Ou seja, uma média de quase um por dia.
A exemplo dos radicais das catracas, o pessoal que vai às ruas mira sempre nas artérias principais da cidade, para chamar atenção, causando a maior balbúrdia possível e prejudicando um incalculável número de cidadãos que não consome drogas, trabalha oito horas por dia, não desfruta de imunidade sindical, sofre com o trânsito e quer viver em paz, com segurança, tendo assegurado seu sagrado direito de ir e vir.
A Avenida Paulista, de longe, é o alvo predileto. De janeiro até maio, ocorreram ali cerca de quarenta manifestações, segundo levantamento da CET. A situação obriga quem circula ou trabalha na região a fazer adaptações na rotina para não ser pego de surpresa. Os hospitais instalados nas redondezas enfrentam situações delicadas em dias de manifestações. Para minimizar os transtornos, HCor, Sírio- Libanês, Oswaldo Cruz e Nove de Julho contam com equipes extras de emergência.
Parte do serviço é terceirizada à empresa Grupo Bem. Ele funciona por cerca de seis horas até a normalização do trânsito e implica gastos de 12 000 reais por dia — 25% a mais que em períodos normais.
Na área de segurança, os protestos exigem o acompanhamento de um efetivo que acaba sendo deslocado de outras regiões. Na última quinta, o número de policiais destacados chegou a 900. “São profissionais que, em situação normal, estariam cuidando do patrulhamento de rua”, diz Marcelo Pignatari, comandante do 11º Batalhão da Polícia Militar.
Além da dose de irresponsabilidade dos manifestantes e da ação dos que aproveitam essas ocasiões para criar confusão, outro fator preocupante relacionado ao fenômeno é a questão da impunidade. São raríssimos os casos de punição na Justiça aos baderneiros por prejuízos causados à cidade.
Não bastasse complicar a rotina de serviços essenciais, o que afeta por tabela um grande número de paulistanos, muitas pessoas que não têm nada a ver com as causas como a defesa da tarifa zero ou a liberação da maconha enfrentam enormes dores de cabeça durante os protestos. O comerciante José Gomes Abreu não esquece o momento, na última terça, 11, em que viu sua banca de jornal, que fica ao lado do Terminal Parque Dom Pedro II, aparecer no noticiário da televisão. “Ela estava cercada por policiais, com várias bombas explodindo ao redor”, lembra. “Depois me contaram que tentaram até derrubá-la.” Abreu, que já havia encerrado o expediente e estava em casa, só viu os estragos no dia seguinte: a estrutura estava toda pichada. “Estou nesse ponto há vinte anos, o local costuma receber diversos tipos de passeata, mas nunca vi algo com tamanha violência”, afirma.
O estudante de direito Daniel Machado também viveu momentos de tensão. Quando voltava de carro da faculdade pela Rua Haddock Lobo, a via tinha sido bloqueada por ativistas na altura do cruzamento com a Avenida Paulista. “A princípio, eu estava tranquilo, pois apoio a causa”, conta.
“No entanto, conforme os outros motoristas começaram a buzinar, alguns participantes encapuzados e com pedaços de pau nas mãos reagiram de maneira hostil, xingando quem estava preso no trânsito.” Com medo de um confronto iminente, Machado saiu do automóvel e passou a organizar a fila, com mais de nove veículos, para que todos saíssem de marcha a ré até a Rua Luís Coelho. “Acabei comandando uma operação de fuga”, brinca.
Moradora de um prédio na Rua da Consolação, Madalena Rodrigues da Silva testemunhou de sua janela a hora em que vândalos iniciaram a pichação da fachada do seu edifício. As paredes foram todas rabiscadas com os dizeres “3,20 é roubo” (o valor da tarifa de ônibus, após o reajuste, de 6,7% desde 2011, contra uma inflação no período de 16%) e símbolos anarquistas. “Eu me senti muito impotente, pois não havia nada que pudesse fazer para impedi-los”, diz. Segundo ela, o condomínio vai arcar com gastos de mais de 1 000 reais com a repintura. “Mas vamos esperar acabarem esses tumultos, porque não se sabe se eles ainda vão voltar”, afirma.
Enquanto o poder público não agir com mais rapidez e rigor, condenando os responsáveis pelos excessos com penas exemplares, gente como o jornaleiro Abreu e a funcionária de um salão de beleza Madalena vão continuar a pagar o pato pelos problemas causados pelos desordeiros — e a cidade não chegará a um ponto desejável de evolução, em que o direito das pessoas de ir às ruas para manifestar democraticamente sua opinião diante dos mais variados assuntos termina no momento em que afeta a vida, a segurança e a liberdade de todos os outros paulistanos.
O SALDO DOS PROTESTOS DO MOVIMENTO PASSE LIVRE
Pessoas detidas: 94
Número de pessoas soltas: 70
Quantos pagaram fiança: o sindicato CSP-Conlutas arcou com 4 000 e o Movimento Passe Livre com 8 000 reais
Quantos permanecem presos: quinze pessoas (quatro delas podem pagar fiança, entre 3 000 e 20 000 reais; as outras onze são acusadas de formação de quadrilha ou incêndio, crimes inafiançáveis). Outras nove eram interrogadas na noite de quinta (13)
Quantos policiais feridos: oito
Quantos manifestantes feridos: cerca de oitenta, segundo o MPL
Lixeiras quebradas: 300
Efetivo da polícia: cerca de 900 homens
Números referentes às manifestações de quinta (6), sexta (7), terça (11) e quinta (13), divulgados até as 22h Fontes: Secretaria de Segurança Pública, Polícia Militar
13 de junho de 2013
João Batista Jr. e Juliana Deodoro [colaboraram Daniel Bergamasco, Nathalia Zaccaro, Mariana Barros e Júlia Gouveia]
Veja
Nenhum comentário:
Postar um comentário