"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 28 de julho de 2013

BANDO DE BOÇAIS


 
Eu já conhecia uma biografia de Stalin, por Allan Bullock.  Mas a do Nigel Cawthorne escancara.  No domingo, vi o pessoal afluindo para apraça Saenz Peña, aqui no Rio.  Tudo tranquilo, com faixas e cartazes com reivindicações claras e variadas.  Famílias inteiras, de avós a netos. 
 
Aí, da saída do metrô (ou seria do esgoto?), sai um bando de desclassificados, gritando "palavras de (des)ordem", aqueles slogans imbecis, mumificados, ultrapassados, podres.  Deu para ver como estão por fora da realidade e vendidos ao sistema, internamente em estado de putrefação.  Vendilhões sem consciência, agitando a soldo, tão corruptos quanto o próprio sistema, sem brios, sem dignidade, consciência ou um pingo de coerência.
 
A ligação com a trajetória do porco Stalin foi imediata. Vi um flashback do processo da ascensão daquele sistema criminoso, antítese da sociedade humana. Não interessa a reivindicação justa, não interessa o bem estar, não interessa a verdade, não interessa a justiça. Não.
 
Só interessa o poder.  Não o poder para realizar, mas o poder pelo poder.  Se eu fosse russo – com aquele etos cáustico, pessimista, até meio masoquista do Dostoievsky –, olhando aquele grupelho tão ridículo como perigoso, teria escrito um artigo intitulado "De cáftens e canibais".  Apropriado, não?
 
Pelas páginas do livro de Cawthorne desfilam inocentes úteis e inúteis nada inocentes – miseráveis e seus manipuladores, carneiros e algozes –, num cenário brutal e teatral de mentiras, injustiças, acusações, torturas, denúncias e pretextos, onde o que menos importa é a verdade ou a sociedade. 
 
Não li jornal no domingo.  Minha caixa postal transbordava. 
Hoje pela manhã, li a manchete, uma conclusão brilhante do Mantega: "para compensar as perdas (???), será necessário cortar gastos OU aumentar impostos".
 
Que imbecil!  OU???  Que OU, cara-pálida?
 
É, os idiotas não entendem que somos diferentes dos personagens de seus "cases" de tomada de poder.  Não perceberam que não dominam as comunicações, que um garoto, na idade do ideal, com acesso à net, não é um mujique analfabeto e supersticioso. Babacas. 
 
O gênio saiu da garrafa e eles não perceberam.  Ou, se perceberam, não têm a criatividade natural dos humanos.  Claro, autômatos não criam. Só repetem.
 
Bando de boçais!
 
28 de julho de 2013
João Guilherme Ribeiro é Empresário.

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