Um bom indício de que este pode ser o caso vem de um trabalho de Marco Lagi e colaboradores do NECSI (New England Complex Systems Institute) publicado em 2011. Ali, os autores mostram que há uma correlação importante entre os preços de alimentos calculados pela FAO (agência da ONU para a agricultura) e a ocorrência de protestos em todo o mundo. Sempre que o índice FAO sobe, ocorrem mais manifestações.
Em 13 de dezembro de 2010, o grupo escreveu para o governo dos EUA informando-o de que havia identificado um limiar para os protestos e, quatro dias depois, o tunisiano Mohamed Bouazizi ateava fogo a si próprio, iniciando a Primavera Árabe.
É claro que não há novidade em dizer que falta de comida engendra revoltas e até revoluções. Maria Antonieta e os brioches estão aí para prová-lo. O trabalho do NECSI inova ao descrever o preço dos alimentos no contexto dos sistemas complexos como um ponto de virada matematicamente determinável, a partir do qual qualquer evento pode deflagrar protestos em massa. Esse mecanismo não fica restrito a lugares onde a maioria da população vive perigosamente perto da fome, podendo ocorrer até em países mais desenvolvidos.
Não sei se esse modelo é exato, mas, se for, ajuda a entender situações como a do Brasil e da Turquia, onde protestos muito específicos se irradiaram e assumiram proporções que, embora não sejam revolucionárias, metem medo nos governantes.
Segundo o pessoal do NECSI, podemos esperar novas agitações em escala global a partir de agosto, quando o índice FAO deve ultrapassar o limiar do perigo. A conferir.
Agradeço ao leitor Claudio Galperin, que me alertou para o estudo.
28 de julho de 2013
Hélio Schwartsman, Folha de São Paulo
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