Será que o Papa Francisco, um jesuíta com marketing franciscano, inaugura uma nova etapa no sistema globalitário em que sobrevivemos?
Nas entrelinhas dos discursos do simpático e cativante líder espiritual da Jornada Mundial da Juventude está exposta uma clara pregação da Política como um Poder Instituinte para mudanças.
O líder máximo da secular Companhia de Jesus, que inaugurou a globalização há mais de 500 anos, só não usou tal termo especificamente. No entanto, claramente, pregou o Poder Instituinte - um direito, coletivo e individual, dos cidadãos criarem, modificarem, aprimorarem e revogarem instituições.
Na prática da vida, Política é definir o que fazer, de preferência, corretamente. Toda política, para ter sucesso consistente, precisa ser baseada na Verdade (a Realidade Universal Permanente). Assim, a Política consegue ser a ação focada no Bem Comum, independentemente de vontades pessoais, ideologias ou partidarismos.
Política tem a ver, diretamente, com a Justiça – o reconhecimento de regras a serem cumpridas por dever de consciência – e não por coerção de alguém, um grupo ou “autoridade”. A Política depende da Democracia (a segurança do Direito, através do exercício da razão Pública).
Para a Política ganhar efetividade e importância prática na vida humana, ela depende da Ética – o reconhecimento e a prática consciente daquilo que é Verdadeiro, Correto, Justo e Bom.
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Sabendo perfeitamente que a religião exerce uma influência muito mais profunda sobre a sociedade e os indivíduos que a tradicional Política (mesmo que com “P” maiúsculo), o Papa Francisco acaba de usar a força secular da religião católica para mandar o mais importante recado político para o mundo.
Francisco afirmou: “A política é muito suja, mas pergunto por que é assim? Por que os cristãos não fazem política com o espírito evangélico? É fácil dizer que a culpa é do outro, mas o que eu faço? É um dever de um cristão trabalhar pelo bem comum”.
Francisco acentuou: “Se concebo o poder de uma maneira antropológica, como um serviço à comunidade, é outra coisa. A religião tem um patrimônio e o põe a serviço do povo, mas, se começa a se misturar com politicagem e a impor coisas por baixo do pano, se transforma em um mau agente de poder”.
Francisco recomendou: “Entre a indiferença egoísta e o protesto violento, há uma opção sempre possível: o diálogo. O diálogo entre as gerações, o diálogo com o povo, a capacidade de dar e receber, permanecendo abertos à verdade. Um país cresce quando dialoga de modo construtivo”.
Na linha do discurso de Francisco, o indivíduo volta a ser encarado como um missionário da História, com responsabilidade Política Instituinte.
Curiosamente, ao menos em princípio, tal pregação contraria a tal Nova Ordem Mundial que prega ações coletivistas, pensamentos únicos e unificantes, modelos padronizados a serem seguidos pelas diversas pessoas em diferentes Países, com o conceito de Nação flagrantemente desfigurado.
O Poder Instituinte é fácil de entender. Como recentemente escreveu Antônio Ribas Paiva neste Alerta Total, “o Poder Instituinte é inerente aos povos, que em dado momento de sua história, podem instituir o que lhes aprouver, na preservação e ou consecução do bem comum, e da própria nacionalidade”. O Poder Instituinte não pode ser exercido por representação, até porque, eventualmente pode tratar da modificação da própria representatividade.
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Pergunto novamente:
Será que o Papa Francisco, como porta-voz da Companhia de Jesus, inaugura uma nova etapa no sistema globalitário em que sobrevivemos? Ou o Chefe de Estado do Vaticano, em breve, corre o risco de tomar um chega pra lá do esquema da Nova Ordem Mundial? Cabe também cogitar: será que o Papa não quer apenas dar uma reformada no atual sistema?
A complexa resposta vai depender da capacidade e vontade Política de cada um dos indivíduos que reunirem informação e conhecimento suficientes para entenderem que o globalitarismo é uma furada, um golpe suicida, contra a humanidade. O problema é que os controladores da New World Order são jogadores de xadrez, que antecipam várias jogadas adiante, e se adaptam, facilmente, de forma camaleônica.
Na hipótese mais pessimista, fica claro que os sábios da Societas Iesu (SJ) – fundada em 1534 sob a liderança de Inácio de Loyola – perceberam que o atual modelo de poder globalitário só vai nos levar ao abismo e precisa ser “reformado”. Considerada o “Exército de Cristo”, a SJ leva a sério a célebre frase do Inácio, para ressaltar a obediência à hierarquia católica:
“Acredito que o branco que eu vejo é negro, se a hierarquia da Igreja assim o tiver determinado”.
Por tal visão de Loyola, os Jesuítas se vestem de negro. E nada custa lembrar da famosa profecia de São Malaquias, sobre um “Papa Negro” ser o “último da Igreja” (antes de uma nova etapa histórica a ser constituída, que, necessariamente, pode não ser o “fim do mundo”, como na tradução mais radical).
Quando foi escolhido Papa, Francisco até fez a brincadeira de duplo sentido, ao lembrar que era um Papa vindo do “fim do mundo” (lá da Argentina, do Terceiro Mundo, bem longe da Europa, o Primeiro Mundo, que sempre elegeu os chefes de Estado do Vaticano).
O ex-cardeal Jorge Mario Bergoglio empregou o “fim do mundo” no sentido denotativo ou conotativo? A dúvida persiste...
Profecias á parte, numa análise bem pragmática, o recado do Papa na Jornada Mundial da Juventude em terras brasileiras parece verdadeiro, correto, justo, bom e, portanto, Ético. Daí, novamente, a dúvida:
Será que faremos bom uso da mensagem política, transformando-a em missão dada para ser cumprida?
Vida que segue... Ave atque Vale! Fiquem com Deus.
28 de julho de 2013
Jorge Serrão é Jornalista, Radialista, Publicitário e Professor.
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