Durante vinte anos eu sonhei em ser médica do Exército e atuar na Selva Amazônia. Adiei minha residência, tamanha era a ansiedade de servir à Pátria. Eu fui onde muitos não foram e vi o que muitos insistem em não ver.
Eu fui tratada como rainha pelos amazonenses ribeirinhos. Repartiram comigo a pouca comida que tinham. Chorei de desespero, chorei como nunca na minha vida, ao final de um dia inteiro em uma ACISO (Ação Cívico-Social). Mais de doze horas insanas, sem parar, para atender as literalmente centenas de pessoas na porta da escola querendo ajuda.
E eu, era a única médica, munida apenas de caneta, papel e esteto. Chorei de ódio de todas as secretarias de saúde que conheci, nas cidades que passei. Fui proibida de trabalhar numa cidade porque exigi a evacuação de um paciente em UTI aeromóvel da prefeitura. Gastar todo esse dinheiro com uma pessoa só? Jamais. Hospital sem EAS, EPF, USG... sem nada!
Estou cansada desses pseudo-brasileiros que criticam a classe médica e acham que ajudar é dar esmola no sinal.
Estou cansada de ser chamada de mercenária. Estou cansada.
Morava num Bairro nobre no litoral do Rio de Janeiro e larguei tudo por um SONHO.
Quero ver esses hipócritas burgueses, falsos moralistas morarem numa cidade onde só se chega de barco ou avião!
Quero ver trabalhar de graça, por saber que o dinheiro que você ía receber era fruto de corrupção!
Quero ver!
Infelizmente, tive que voltar da selva. Mas acho que isso foi até bom, farei minha residência e estudarei muito.
Mas uma coisa eu afirmo, como eu afirmei há 20 anos atrás, quando eu disse que seria Oficial de carreira na Selva Amazônica: assim que eu terminar minha residência, eu volto pra minha Selva, pras minhas crianças, pras minhas viagens de barco que levam esperança.
E deixo aqui, todos esses pseudo-brasileiros, nesse caos, nessa mentira, nesse consumismo desenfreado. Nessa desgraça disfarçada de álcool, boates, futebol e samba.
Desejarei força para os meus colegas de profissão que por aqui ficam.
E com certeza, terei a consciência limpa, que eu fiz jus ao meu juramento e não fui mais uma hipócrita.
A SELVA NOS UNE!
A AMAZÔNIA NOS PERTENCE!
TUDO PELA AMAZÔNIA!
SELVA!
Não critico a vida urbana, mas acho que tudo está muito errado.
Não critico a vida urbana, mas acho que tudo está muito errado.
22 de julho de 2013
Juliana Getirana é Primeira-Tenente-Médica do Exército.
Nenhum comentário:
Postar um comentário