Como o PT reivindicou a primazia, presidiu a Câmara nos dois primeiros anos do governo, deixando para o PMDB o comando no período final que coincide com a sucessão presidencial e agora também com a queda livre de Dilma Rousseff nas pesquisas.
No Senado, em lugar da alternância valeu o critério convencional da prioridade à maior bancada. Justamente o PMDB, que ficou com o comando das duas Casas, dois postos na linha sucessória da Presidência da República e o controle total do processo legislativo conduzido por um grupo chamado sem cerimônia de ‘camarilha’:
Renan Calheiros, Gim Argello, Eunício Oliveira, Romero Jucá, Eduardo Braga, José Sarney e Vital do Rego. Na Câmara, o espetáculo é comandado por Henrique Eduardo Alves em sintonia fina com o líder do PMDB, Eduardo Cunha, e a gentil colaboração de parte da bancada do PT... Hoje [petistas] confessam: ‘
Os caras são profissionais’. E constatam: ‘Querem sugar o governo ao máximo e se a reeleição estiver ameaçada, nos jogar fora.’”
Merval Pereira: “Como já disse o próprio presidente do PT, Rui Falcão, hoje não se sabe mais quais partidos apoiarão a presidente Dilma em 2014.
A base aliada não abandona o barco por enquanto, mas vai medindo o nível da água que vai subindo para ver qual a melhor hora de saltar para outra candidatura.
A de Aécio é a preferida entre os principais apoiadores de Dilma, até mesmo do PMDB. PP, PTB, PDT são partidos que negociam por baixo dos panos com o PSDB de Aécio, e existem outros que aguardam momentos mais oportunos, como o PSD de Kassab, que volta a namorar o ex-governador tucano José Serra para o caso de uma troca partidária que viabilize sua candidatura a presidente pela terceira vez.”
João Bosco Rabello: “A recente pesquisa Ibope/Estadão, confirmando a estagnação na casa dos 30% dos índices de aprovação da presidente Dilma Rousseff, indica a dificuldade de recuperação do governo após os protestos de rua, principalmente por já incluir as primeiras reações do Planalto às manifestações.
E, ainda que não represente diagnóstico definitivo, revela o imobilismo do governo ante a crise econômica e política.
É a terceira consulta desde a eclosão das manifestações populares e, por mais cautela que se aplique a avaliações de momento, a conduta errática do governo alimenta a percepção de desorientação e não cria expectativas favoráveis de reversão em curto prazo...
No entanto, o caminho escolhido até agora não é o que leva a essa possibilidade [o de produzir fatos positivos].
O governo parece decidido a insistir na linha de propostas controversas, de alto teor polêmico, das quais são exemplos o plebiscito imediato da reforma política e a reforma na área da medicina, ambas conduzidas de forma unilateral, em guerra aberta com o Legislativo e as corporações médicas.”
João Ubaldo Ribeiro: “Para completar o quadro, o governo não dispõe de um Big Bang para apresentar, no encerramento destes seus quatro anos.
Nenhuma grande obra, nenhum grande passo, nenhum grande marco. Inflação subindo, PIB baixando, educação alarmante, saúde escangalhada, infraestrutura desmantelada, transporte urbano infernal, segurança pública impotente, estrutura fiscal pervertida, ferrovia Norte-Sul em descalabro, transposição do São Francisco roubada e sucateada — nada a apresentar, nada a trombetear, nada a comemorar.
A propalada truculência da presidente está virando folclore e em lugar de força, mais parece denunciar exasperação impotente.
Cara de derrota para o governo e ninguém vai querer ser o pai dela. Mas receio que não terão dificuldade em apontar a mãe.”
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