Euclides Quandt de Oliveira, nascido em 23 de novembro de 1919, faleceu há dois dias, aos 93 anos. Foi Oficial de Marinha, alcançando o posto de Capitão de Mar e Guerra, tendo sido comandante do Navio Aeródromo “Minas Gerais”. Especialista em eletrônica, durante seu tempo na Marinha fez vários cursos nessa área, no Brasil e nos Estados Unidos.
Tendo passado para a reserva, exerceu, de 1965 a 1967, no governo Castelo Branco, o cargo de Presidente do Conselho Nacional de Telecomunicações (Contel); de 1972 a 1974, foi o 1º Presidente da Telebrás e, de março de 1974 a março de 1979, foi Ministro das Comunicações do governo Geisel. É autor dos livros Renascem as Telecomunicações – volume 1 e 2, que narram os acontecimentos a partir de 1967, tendo como tema principal a criação do Sistema Telebrás.
Bem poucos no Brasil sabem o que o Comandante Quandt de Oliveira representou para o desenvolvimento das telecomunicações no país. Se hoje temos a facilidades de comunicações em computadores, telefones e celulares muito a ele se deve, pela reestruturação da telefonia no país, então dominada pelas concessionárias estrangeiras.
Em depoimento, Quandt dissera que “deviam existir cerca de mil empresas no Brasil, mas empresinhas isoladas. Havia um sistema telefônico na cidade X que só falava dentro daquela cidade X, não falava nem com a cidade vizinha.” Por isso, quem viveu lá, sabe como eram difíceis e demoradas uma simples ligação interestadual.
O atual ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, afirmou que a sua morte é uma perda para o setor das telecomunicações.
“O ex-ministro Quandt deu grandes contribuições para a organização desse setor, hoje tão importante para o Brasil. Nós nos encontramos no fim de 2011, em um evento da Associação Comercial do Rio de Janeiro. E ele estava bastante lúcido, analisando e comentando os acontecimentos da área”
Tudo isso pode ser obtido nos sites de busca. O que bem poucos no Brasil sabem, porém, é que Quandt, ao morrer, morava em pequeno apartamento em Petrópolis, e que seu carro era um velho e deficiente Santana.
Por isso, o que ressalta na vida de Quandt, especialmente quando se compara com os tempos de hoje, é que, bem formado pela Marinha - essa instituição de excelência e a indiscutível reserva moral do País -, e tendo exercido importantes cargos públicos, lidando com empresas e empresários, licitações e contratos, procuras e ofertas, no ambiente do “é dando que se recebe”, nunca se corrompeu ou usou desses cargos para proveito próprio e enriquecimento.
Sua vida espartana, voltada para servir ao País, e não se servir dele, contrasta com o que se vê hoje de nossos políticos: as casas e apartamentos alaranjados, de frente para o mar, os escarpins de solas avermelhadas nos pés das senhoras, os restaurantes estrelados, as viagens de jatinhos e helicópteros, os mensaleiros, sanguessugas, aloprados e cuequeiros, as ligações espúrias com empresários, o nepotismo, os trens da alegria, os sítios, as ilhas, as fazendas, os bois, as rãs, as rádios, jornais e emissoras de TV, os castelos, o exibicionismo, etc, etc, etc, nada podendo ser comprovado apenas pelas remunerações pessoais.
Quandt, pelo contrário, foi a própria essência do espírito republicano, um brasileiro com a estatura moral do tamanho do País, gigante pela própria natureza!
Deus, na sua infinita bondade, reconhecendo a sua vida digna e dedicada ao bem comum, resolveu homenageá-lo, ao enviar o Papa Francisco aqui, no momento em que o leva para a vida eterna. Certamente descansará em paz, embalado pelo sublime sentimento de satisfação do dever cumprido.
E nós, por aqui, com esse triste sentimento de perda, reverenciamos o nosso velho e competente marinheiro, esse brasileiro altaneiro e exemplar, que professou e exaltou a profundidade do recado de Roosevelt, de um político do passado para os de hoje, via as telecomunicações:
“É melhor morrer de pé do que viver de joelhos”!
22 de julho de 2013 Luiz Sérgio Silveira Costa é Almirante Reformado.
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