"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 23 de julho de 2013

"DISCURSO ERRADO NA HORA ERRADA"



O discurso bobo da Dilma.
Abaixo, coluna de Eliane Catanhêde, na Folha, intitulada "Discurso errado na hora errada":
 
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O encontro com o papa Francisco no Rio foi a grande chance de Dilma Rousseff aparecer bem desde que a economia derrubou 8 pontos de sua popularidade e as manifestações lhe roubaram outros 27. No mínimo, ela ganhou uma excelente foto, num dia em que as pessoas foram às ruas felizes por receber o papa --e não só para reclamar.

Nesse momento de profunda descrença nos partidos e muita crença na chegada de um papa que simboliza ruptura e humildade, o contraste só pode ter sido proposital: com o mesmo voluntarismo de sempre, Dilma não foi à reunião do diretório do PT por um motivo pueril, numa clara provocação, e foi ao papa com um discurso político e fora de lugar.

Digamos que Francisco foi Francisco, Dilma foi Dilma. Um foi o papa despretensioso, que dispensa ouro, capas de veludo e pompas para se colocar cada vez mais próximo do povo. A outra foi a presidente de expressão arrogante, num momento em que está acuada, precisa se justificar e luta bravamente para recuperar a popularidade perdida.

Enquanto a fala do papa foi essencialmente religiosa e despojada, num português agradável e cheia de adjetivos gentis para o Brasil e para os jovens, Dilma recorreu a todos os chavões lulistas, enalteceu as mudanças "que inauguramos dez anos atrás" e amplificou a versão de Lula no "New York Times", definindo as manifestações que atingiram em cheio seus índices nas pesquisas não como a derrota que foi, mas como uma vitória sua e de Lula.

No discurso da presidente, pulularam autoelogios ao Brasil e à era petista, além de chavões de palanque: direitos, justiça social, solidariedade, fome, desigualdade, ética, transparência.
Eis a dúvida: para quem Dilma estava falando? Para o papa ou para o eleitor? Para o milhão e meio da Jornada Mundial da Juventude ou para o milhão e meio de pessoas nas ruas exigindo dignidade, fim da corrupção, serviços decentes? 
 
23 de julho de 2013
Eliane Catanhêde

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