Fenômeno mais profundo e importante do que a rebelião dos jovens, apesar da participação de vândalos e animais nas manifestações, está sendo a pacífica revolução dos velhos. Quando Getúlio Vargas criou os institutos de previdência social, a vida média do brasileiro mal chegava aos cinqüenta anos.
Assim, tornou-se fácil, mesmo para uma economia então insipiente como a nossa, que o Estado arcasse com aposentadorias capazes de satisfazer quantos paravam de trabalhar em idade ainda útil. Porque não durariam muito tempo, fora as exceções de sempre. A Medicina, porém, adiantou-se a cada ano, trazendo maravilhas para a Humanidade.
Encurtando a conversa, hoje o cidadão trabalha naturalmente aos setenta e oitenta anos, mesmo podendo aposentar-se aos sessenta e cinco ou até antes, em se tratando de categorias especiais e privilegiadas.
O resultado é que mesmo com o desenvolvimento e o crescimento econômico, os velhinhos continuam trabalhando em atividades formais ou informais.
Maravilha, mas com uma consequência trágica para os jovens: os empregos que deveriam abrir-se para eles encontram-se ocupados pelos idosos impertinentes que se recusam a tomar o rumo do além.
Cada vez fica mais difícil aos mais moços abrir espaço para o primeiro emprego, empenhando-se todos numa “livre” competição que conduz ao egoísmo e a nem muito éticos expedientes responsáveis pela exclusão do mercado do trabalho daqueles que não se destacam, por razões explicáveis pela natureza.
Claro que entre nós esse fenômeno torna-se muito menos agudo do que, por exemplo, na França, onde o primeiro emprego aparece aos 29 anos de idade do já ex-jovem. Na Alemanha e na Espanha é pior.
Devemos preparar-nos para o que vem por aí, apesar de na última década do século passado haver diminuído o numero de nascimentos em nossas famílias. Passou o tempo em que os casais tinham oito, nove ou mais filhos. Só que a solução do controle da natalidade, ou planejamento familiar, não é solução, mas maldade para com as gerações futuras.
Fazer o quê, se matar os velhinhos e antecipar-lhes a eternidade também não pode ser cogitado? Alguns fascistas sustentam que as guerras seriam a saída, como foram no passado. O sacrifício de vinte, trinta ou cinqüenta milhões de vitimas equilibrou as oportunidades no planeta, às custas do que de mais sagrado possuíam os indivíduos, a própria vida. Sem falar no número indescritível de cientistas, compositores, músicos, poetas, advogados, professores e tantos mais que pereceram nos campos e batalha sem ter tido oportunidade de desenvolver suas qualidades.
Indaga-se onde se encontra o nó que precisaremos desatar em algumas décadas, e que já sufoca a Europa, o Japão e logo também a China. A concorrência cruel nas sociedades do planeta inteiro só faz aumentar a angustia, tanto quanto diminuir a ética. O modelo econômico que determina a abominável lei do mais forte nos transforma em trogloditas em plena era da tecnologia avançada.
23 de julho de 2013
Carlos Chagas
Nenhum comentário:
Postar um comentário