Houvesse um tribunal específico para julgar crimes políticos e os senadores do PR estariam condenados. Não dá para aceitar o comportamento do senador Blairo Maggi, que pela manhã levou à ministra Ideli Salvatti uma lista de indicados para o ministério dos Transportes, ouvindo que nenhum deles servia e, de tarde, declarou haver o partido passado para a oposição. Seus companheiros acrescentaram que se o governo voltasse atrás, entregando-lhes o ministério, na mesma hora retornariam à base parlamentar oficial.
Não há outro nome para esse episódio senão chantagem. Coisa digna do Al Capone ou do Fernandinho Beira-Mar. De que maneira a presidente Dilma poderia, agora, devolver o ministério ao Partido da República? Aliás, a decisão foi tomada ontem pela chefe do governo: “NÃO MESMO!”
Como os sete senadores e os 45 deputados do PR não devolveram ao palácio do Planalto os cargos de segundo e terceiro escalão que ainda mantém, inclusive no ministério dos Transportes, a dúvida é se serão imediatamente dispensados. Pode ser que não, para o governo evitar nivelar-se com os chantagistas.
O mesmo vexame pode estar acontecendo no PDT, por conta da reação de seus dirigentes maiores à nomeação de Brizola Neto para ministro do Trabalho. O deputado estava escolhido, ainda que não oficializado, quando começaram as contestações, em especial do presidente do partido e ex-ministro Carlos Lupi.
De toda essa novela de horror flui uma expectativa positiva: não terá chegado a hora de Dilma encerrar o capítulo da transformação de seu governo em condomínio dos partidos? Revelando-se desastrosa, essa experiência parece haver-se esgotado.
PMDB, PT e penduricalhos comportam-se da mesma forma. Dispõem de feudos e estão sempre ameaçando votar contra o governo caso contrariados seus interesses. Nenhum partido da base, desde a posse da presidente, apresentou sequer um plano ou programa envolvendo políticas públicas. Limitam-se a abrir a goela para deglutir nomeações, benesses e favores. Carecem de ideologia e de doutrina em condições de sensibilizar a administração federal.
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DUVIDAS CONSTITUCIONAIS
Decidiu o Tribunal Superior Eleitoral, em resolução aprovada por maioria, determinar a proibição de registro para os 21 mil políticos que tiveram suas contas rejeitadas pelos tribunais de contas, se quiserem candidatar-se às eleições de outubro.
Com todo o respeito, mas o TSE integra o Poder Judiciário, não o Legislativo, não podendo, assim, legislar. Acresce que, mesmo se pudesse, careceria de condições para atropelar a Constituição, desrespeitando o princípio de que qualquer alteração nas regras eleitorais precisa ser aprovada até um ano antes das eleições.
É nulo esse adendo à lei da Ficha Limpa, apesar de simpático. Nos partidos, despertou protestos veementes. Só por milagre o Congresso votaria um dispositivo assim, capaz de prejudicar montes de correligionários. Afinal, se muitos prefeitos, dirigentes e diretores da administração e até governadores tiveram suas contas rejeitadas em função de ilícitos administrativos e penais, também é certo que outro tanto deles terá entrado na lista por desconhecimento e ingenuidade.
A questão poderá chegar ao Supremo Tribunal Federal.
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LEI EFICAZ MAS INCOMPLETA
O Senado aprovou lei que regulamenta o Direito de Resposta e a Retratação, de autoria do senador Roberto Requião. Valeu, porque desde a revogação da Lei de Imprensa estavam esses dois dispositivos constitucionais sem aplicação específica, entregues à decisão dos juízes singulares, muitas vezes discordantes.
O problema é que outras definições constitucionais antes reguladas pela extinta Lei de Imprensa continuam soltas no ar. A lei dos tempos da ditadura continha preceitos execráveis, mas, em paralelo, artigos mais do que necessários. O Supremo Tribunal Federal revogou tudo, esquecido de que antes a Constituição de 1988 fez caducar as preceitos ditatoriais, com base no princípio de que a Lei Maior revoga a lei Menor.
A decisão deixou os meios de comunicação pendurados no pincel, sem escada. O capítulo dos crimes contra a honra, por exemplo, definia calúnia, difamação e injúria, estabelecendo penas para quem os praticasse através da imprensa, muito mais rigorosas do que se feitas no botequim.
Agora, vale apenas o que está no Código Penal, com punições bem inferiores ao mal praticado. A discussão começou no Congresso com razoável atraso, e, mesmo assim, por partes.
Uma delas dificilmente será enfrentada, talvez nem daqui a cem anos. É a regulamentação do artigo 220 da Constituição, que determina à lei criar mecanismos para a defesa do cidadão e da família dos excessos da programação de rádio e televisão. Alguém se anima?
Mesmo sabendo que censura, nunca mais, e que esses excessos serão punidos depois de levados ao ar, qual o deputado ou senador com coragem
bastante para enfrentar as redes e seus barões?
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UM AVESTRUZ NA COPA DO MUNDO
O tatu parece escolhido como mascote dos jogos da Copa do Mundo de 2014, mas se fosse pelo líder do governo na Câmara dos Deputados, seria o avestruz, aquele que enterra a cabeça na areia em meio à tempestade.
Para não ter que enfrentar a exagerada ira da bancada evangélica, Arlindo Chinaglia retirou do texto da Lei da Copa o artigo que permitia a venda de bebidas alcoólicas nos estádios onde se realizarão os jogos. Claro, há mutreta por parte da Fifa, que imporá a venda de apenas uma marca de cerveja, aquela que patrocina a entidade. Mesmo assim, tratava-se de um compromisso assumido pelo então presidente Lula com o estranho Joseph Blatter, quando da decisão pelo Brasil.
Hoje, por coincidência, o presidente da Fifa será recebido pela presidente Dilma. Se souber da retirada, vai protestar ou pelo menos apelar.
16 de março de 2012
Carlos Chagas
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
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