"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 8 de março de 2012

É PRECISO PENSAR (BEM) PARA PERCEBER O QUE É MUITO VISÍVEL

Com esta frase (título do texto), o pesquisador e historiador Luis Fernando da Silva Pinto germina seu belo livro, fruto de um trabalho de muitos anos e incontáveis pesquisas, sobre as raízes estratégicas do Ocidente nascidas também no Oriente milênios antes de Jesus Cristo.

LFSP, engenheiro e professor de profissão, intelectual por vocação, atravessa a história numa aventura fascinante e fotografa a Grande Antiguidade, considerando-se como inspiração do planejamento estratégico dos tempos modernos, para citar Chaplin.
Mas acrescento: o planejamento estratégico nos dias de hoje. Muitos planos tiveram e têm êxito, outros não. Mas o planejamento, de forma consciente ou subconsciente, está eternamente no ser humano. Portanto no âmago dos homens e mulheres, de todos os tempos.

O Trigo, A Água e O Sangue, este é o primeiro título que Luis Fernando dá a seu trabalho. E acentua: As Raízes Estratégicas do Ocidente. Eu apanho sua frase final e me inspiro no intraduzível Finnegans Wake de Joyce, propondo um projeto circular de leitura. Joyce nesse romance o inicia com o fim de uma frase. E termina com o início da mesma.

Eu acho que o ex-presidente da Legião Brasileira de Assistência, cuja diretoria integrei por escolha sua, partiu de uma chave joyceana para encontrar a extrema importância das comunidades na história. Vale a pela ler a obra. Não se assustem com suas 464 páginas. A leitura é fácil, leve como Hemingway, aditiva como poucas outras ao conhecimento e à consciência.
A estratégia é um ponto de atração na obra de Silva Pinto.

Ele a identificou em Pedro Grande, da Rússia bem anterior à revolução de 1917, a identificou com Celso Furtado, em Roberto Campos, e principalmente na importância de seu pai, Mário da Silva Pinto. A encontrou também em Mário Henrique Simonsen, seu grande amigo fraterno. Iluminou Rômulo Almeida, Hélio Jaguaribe. Todos esses, inclusive Mário o pai, muito contribuíram para sua formação de pensador, sempre em dúvida, pois se não houver dúvida não existe evolução. Se Einstein não tivesse, em 1905, rompido com a lei de Newton, nunca chegaria ele, e chegaríamos nós, à relatividade.

Homem de integridade absoluta, dou meu testemunho como diretor seu que fui de uma entidade que ele propunha transformar numa agência de desenvolvimento social. Representaria importância também para a economia, quando foi criada por Vargas em 1951. Infelizmente esta solução de vanguarda esbarrou na porta do destino.

Pode algum leitor pensar que o tema raízes estratégicas nada tem com a antiga LBA. Engano. A estratégia está presente em tudo, assim como a matemática. No caso que exponho, a convergência encontra-se na força do poder comunitário. Muito maior do que se possa pensar à primeira vista. A comunidade está fortemente presente na história do mundo.

Está na Roma de Júlio Cesar, 45 anos de Jesus Cristo nascer. Está na heróica resistência inglesa ao nazismo de Hitler. Foi ele, com sangue, suor e lágrimas, como afirmou o próprio Winston Churchill, que suportou os bombardeios em série contra a Londres heróica. Milhares saiam diariamente de suas casas e, quando sirenes tocavam, não tinham certeza, primeiro se voltariam, depois se encontrariam suas residências de pé. Foi a comunidade que suportou e enfrentou um inferno de 40 a 44. Foram quatro anos de afirmação comunitária plena. Sem sono e sem sonho.

Para LF, as configurações estratégicas repetem-se no tempo com frequência impressionante.Creta, Grécia, Homero, Suméria, Egito, Cartago, viajam pelas linhas mágicas da obra como um tapete das mil e uma noites. Tudo isso porque, como o autor cita, foi com a grande antiguidade que se aprendeu a pensar. E pensar é como navegar o infinito. Pensar para perceber (e traduzir) o que não é muito visível. Não só ver o fato, mas no fato. Pensar para existir.

Pedro do Coutto
08 de março de 2012

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